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GUERRA NUNCA MAIS!
Pedras relembram mortos em Treblinka
Cerca de 17 mil rochas em círculos concêntricos, a maioria com nomes inscritos, formam memorial
Pedras vindas de todo o mundo relembram judeus mortos em Treblinka
DO ENVIADO ESPECIAL A TREBLINKA, NA
POLÔNIA
A linha férrea pela qual os nazistas levaram à morte dezenas
de milhares de prisioneiros já
não chega até o antigo campo
de concentração de Treblinka,
a cerca de 100 km de Varsóvia.
Treblinka é hoje um memorial em campo aberto, sem prédios, com exceção de uma pequena casa que serve de museu.
Na manhã fria em que a reportagem da Folha esteve em
Treblinka, no início de maio,
não havia visitantes -por ano,
segundo a guia Anna, do museu
local, 50 mil turistas vão até lá.
Quando as tropas russas chegaram perto de Treblinka, em
1944, os nazistas dinamitaram
as instalações do campo. Restaram os vestígios no solo. E uma
cratera, onde os aliados descobriram centenas de corpos enterrados clandestinamente.
O museu calcula que 800 mil
pessoas pereceram ali, incluindo a maior parte dos 380 mil
judeus que viviam, até 1943, no
gueto de Varsóvia, liquidados
por ordem de Hitler após o levante do gueto, naquele ano.
Ao longo dos anos, os judeus
construíram em Treblinka um
impressionante memorial com
17 mil rochas trazidas de diferentes partes do mundo. As pedras formam no chão três grandes círculos concêntricos.
No centro do maior deles foi
erguido, pelos russos, um monumento de 13 m de altura. Ali
uma placa traz, em várias línguas, a frase: "Nunca mais!". A
maior parte das pedras tem nomes, mas só um é de uma pessoa. Os outros são de locais em
que houve assassinatos de judeus na Europa na guerra.
Para milhares de judeus
massacrados na Polônia, a viagem a Treblinka começou na
praça de Umschlagplatz, que ligava Varsóvia ao campo de
concentração. Hoje, a viagem
de trem sai de outro ponto de
Varsóvia e vai até Malkinia, a
cerca de 4 km de Treblinka.
A Umschlagplatz é um dos
locais mais visitados por turistas judeus de todo o mundo
que vão a Varsóvia. Foi local de
dramáticas despedidas, em que
famílias inteiras foram separadas para sempre. Uma dessas
cenas foi retratada no filme "O
Pianista".
Medo atual
No domingo em que a reportagem da Folha visitou Umschlagplatz, cerca de 300 israelenses, em trajes militares, porém desarmados, oravam em
torno do monumento erguido
em 1988, em comemoração ao
45 anos do levante do gueto.
Uma escolta armada, que depois explicou ser baseada em
Varsóvia e formada por ex-militares israelenses, cercou o repórter e fez muitas perguntas.
Eles queriam saber o motivo
pelo qual a Folha estava interessada em pesquisar o Holocausto. Tomaram e revisaram o
passaporte várias vezes, fazendo muitas perguntas sobre o
registro de uma viagem ao
Marrocos em 2004.
Passaporte devolvido e dúvidas esclarecidas, os agentes se
desculparam, dizendo que o repórter carregava uma mochila
e havia se aproximado demais
do grupo de militares. Setenta
anos depois, outro tipo de medo atinge os judeus da praça, o
do terrorismo internacional.
(RUBENS VALENTE)
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