São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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GUERRA NUNCA MAIS!

Pedras relembram mortos em Treblinka

Cerca de 17 mil rochas em círculos concêntricos, a maioria com nomes inscritos, formam memorial Pedras vindas de todo o mundo relembram judeus mortos em Treblinka

DO ENVIADO ESPECIAL A TREBLINKA, NA POLÔNIA

A linha férrea pela qual os nazistas levaram à morte dezenas de milhares de prisioneiros já não chega até o antigo campo de concentração de Treblinka, a cerca de 100 km de Varsóvia.
Treblinka é hoje um memorial em campo aberto, sem prédios, com exceção de uma pequena casa que serve de museu.
Na manhã fria em que a reportagem da Folha esteve em Treblinka, no início de maio, não havia visitantes -por ano, segundo a guia Anna, do museu local, 50 mil turistas vão até lá.
Quando as tropas russas chegaram perto de Treblinka, em 1944, os nazistas dinamitaram as instalações do campo. Restaram os vestígios no solo. E uma cratera, onde os aliados descobriram centenas de corpos enterrados clandestinamente.
O museu calcula que 800 mil pessoas pereceram ali, incluindo a maior parte dos 380 mil judeus que viviam, até 1943, no gueto de Varsóvia, liquidados por ordem de Hitler após o levante do gueto, naquele ano.
Ao longo dos anos, os judeus construíram em Treblinka um impressionante memorial com 17 mil rochas trazidas de diferentes partes do mundo. As pedras formam no chão três grandes círculos concêntricos.
No centro do maior deles foi erguido, pelos russos, um monumento de 13 m de altura. Ali uma placa traz, em várias línguas, a frase: "Nunca mais!". A maior parte das pedras tem nomes, mas só um é de uma pessoa. Os outros são de locais em que houve assassinatos de judeus na Europa na guerra.
Para milhares de judeus massacrados na Polônia, a viagem a Treblinka começou na praça de Umschlagplatz, que ligava Varsóvia ao campo de concentração. Hoje, a viagem de trem sai de outro ponto de Varsóvia e vai até Malkinia, a cerca de 4 km de Treblinka.
A Umschlagplatz é um dos locais mais visitados por turistas judeus de todo o mundo que vão a Varsóvia. Foi local de dramáticas despedidas, em que famílias inteiras foram separadas para sempre. Uma dessas cenas foi retratada no filme "O Pianista".

Medo atual
No domingo em que a reportagem da Folha visitou Umschlagplatz, cerca de 300 israelenses, em trajes militares, porém desarmados, oravam em torno do monumento erguido em 1988, em comemoração ao 45 anos do levante do gueto.
Uma escolta armada, que depois explicou ser baseada em Varsóvia e formada por ex-militares israelenses, cercou o repórter e fez muitas perguntas.
Eles queriam saber o motivo pelo qual a Folha estava interessada em pesquisar o Holocausto. Tomaram e revisaram o passaporte várias vezes, fazendo muitas perguntas sobre o registro de uma viagem ao Marrocos em 2004.
Passaporte devolvido e dúvidas esclarecidas, os agentes se desculparam, dizendo que o repórter carregava uma mochila e havia se aproximado demais do grupo de militares. Setenta anos depois, outro tipo de medo atinge os judeus da praça, o do terrorismo internacional. (RUBENS VALENTE)


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