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DESAFIO GELADO
Os snowboarders Isabel Clark e Ricardo Moruzzi chegam em primeiro lugar na Copa Continental, realizada no Chile
Brasil tem dupla vitória no Valle Nevado
OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL AO VALLE NEVADO
Apesar de seu clima tropical, o
Brasil teve uma vitória dupla na
semana passada no Valle Nevado,
centro de esportes de inverno a 60
km de Santiago, no Chile, onde
aconteceu a Copa Continental de
Snowboard -um misto de skate
e surfe, mas na neve.
A carioca Isabel Clark, 26, e o
paulistano Ricardo Moruzzi, 24,
conquistaram os primeiros lugares nas categorias "boardercross"
e "slalom paralelo", competindo
com esportistas de diversos países
do mundo.
"Minha profissão é o snowboard", diz Clark, nove vezes
campeã brasileira. Ela deixou as
areias do Rio de Janeiro para viver, como nômade, sempre em
busca de onde tem neve. Atualmente, está no Valle Nevado, onde dá aulas, treina e conquista títulos. Quando a neve derrete na
cordilheira dos Andes, parte para
Whistler, uma das estações mais
famosas do Canadá.
Sua especialidade é o "boardercross", uma prova do snowboard
inspirada no motocross e na qual
de quatro a seis snowboarders
precisam superar, com precisão,
saltos e curvas e ainda chegar em
primeiro lugar: "É uma prova de
muita adrenalina. Mistura tudo o
que existe no snowboard: saltos,
manobras e velocidade".
Como conta pontos para o ranking mundial -que, por sua vez,
define quem vai para a Olimpíada
de Inverno-, a Copa Continental
atrai esportistas não só das Américas, mas de outras partes do
mundo. Isabel desbancou competidoras da Espanha, da Bélgica e
do Canadá -segundo, terceiro e
quarto lugares, respectivamente.
Rumo às Olimpíadas
Ela é a principal aposta feminina
brasileira para o Campeonato
Mundial de 2005, em Whistler, e
para a Olimpíada de Turim (Itália), em 2006. Se for classificada
para Turim, será a primeira snowboarder brasileira a participar do
evento mais importante de esportes de inverno do mundo.
Para isso, terá de garantir uma
boa posição no ranking mundial.
Atualmente, ela está na 75ª posição no "boardercross", mas sua
recente vitória ainda não foi contabilizada. Nos últimos jogos, em
Salt Lake City (2002), participaram os 35 atletas mais bem posicionados, com um limite máximo
de quatro competidores por país.
Apesar do sucesso, Isabel está
sem patrocínio no momento. E,
para sobreviver, é instrutora de
snowboard no Valle Nevado. Mas
ela não se importa: "Ensinar os
outros a aprender snowboard me
faz muito bem".
Isabel, que também é surfista
(ela é carioca, lembra?) e skatista,
descobriu o snowboard aos 17
anos, quando visitava um irmão
que morava na Califórnia. Tentou
os esquis, mas gostou mesmo foi
da prancha. "No snowboard, consigo me expressar melhor, uso
mais a criatividade", diz.
Rebeldia nas pistas
O snowboard surgiu nos anos
60, mas começou a ganhar as pistas nos anos 80. Talvez devido à
sua proximidade com o skate e o
surfe, conquistou a fama de esporte para "bad boys", atraindo
jovens do sexo masculino.
Hoje, já tem praticantes de ambos os sexos e de diversas idades,
mas persiste uma diferença de estilo entre eles e os adeptos do esqui. Os snowboarders parecem
mais irreverentes, se vestem de
forma mais descontraída e descolada. Os esquiadores são mais
clássicos e cultivam uma certa
desconfiança dos seus colegas de
pistas "rebeldes".
Inicialmente, importantes centros de esqui nos EUA e na Europa barravam o snowboard. Um
dos argumentos é que seus praticantes seriam imprudentes, possivelmente por serem mais jovens, logo, menos responsáveis.
Mas a popularização do snowboard -e o fato de que possibilitou uma convivência mais interessada entre pais esquiadores e
filhos snowboarders nas pistas-
falou mais alto. Até mesmo Aspen, que resistiu o quanto pôde a
abrir sua Aspen Mountain às
pranchas, viu-se compelida a mudar as regras recentemente.
Em 2000, o snowboard foi o esporte que mais cresceu nos EUA:
mais de 50% em relação ao ano
anterior. Atualmente, cerca de
25% dos praticantes de esportes
de neve são snowboarders.
No Valle Nevado, eles parecem
ainda mais numerosos. Talvez
porque muitos acreditem que o
snowboard seja mais fácil do que
o esqui, o que é bem questionável.
Provavelmente, os primeiros
dias de prática de snowboard sejam até mais perigosos -e doloridos. O motivo: a prancha é bem
pesada e prende-se aos pés. Se
perder o equilíbrio, o snowboarder não muito experiente pode
bater as mãos ou cair sentado
com força na neve. Já os esquis se
soltam na queda, e o esquiador
pode "amaciar" o impacto.
Para alguns adeptos do esqui, o
snowboard é um esporte menor.
Isabel discorda: "O snowboard
tem influenciado o esqui", diz.
Em geral, os instrutores, mesmo
de esqui, concordam que o dinamismo do snowboard revolucionou o esqui -dos equipamentos,
mais flexíveis e modernos, à própria maneira de esquiar. "O esqui
precisou se adaptar para recuperar um espaço que estava perdendo para o snowboard", explica
Gastón Ortiz. "Ambos são esportes interessantes e exigentes. Mas
acho o esqui mais completo."
Otavio Dias viajou a convite da Lan Chile e da estação de esqui de Valle Nevado
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