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Projeto cultural segue os passos dos judeus no Recife e arredores
ADRIANA VICTOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Onde um dia correu o rio Beberibe, no Recife, construíram-se
casas. Enchentes constantes haviam provocado o assoreamento
do rio e, então, surgiu o arruado.
No primeiro registro consta que o
terreno foi vendido a Duarte Saraiva, cristão-novo, cujo nome judeu seria David Sênior Colonel.
Era tempo de domínio holandês, de permissividade de credo.
O arruado dos judeus também
serviria ao templo, construído por
volta de 1637. Nascia no Recife a
primeira sinagoga em continente
americano, a Kahal Zur Israel, ou
sinagoga Rochedo de Israel.
"Umas casas grandes de sobrado da mesma banda do rio, com
fronteira para a rua dos Judeus,
que lhes servia de sinagoga, a qual
é de pedra e cal com duas lojas por
baixo, que de novo fabricaram ditos judeus: ao presente estão nela
aquartelados soldados, e não se
faz menção do aluguel de altos,
nem de baixo até haver pessoa,
que entre a morar nelas", registra
Francisco Misquita no "Inventário das Armas e Petrechos Bélicos
que os Holandeses Deixaram em
Pernambuco e dos Prédios Edificados ou Reparados até 1645".
O período de ocupação holandesa em Pernambuco durou 24
anos: de 1630 a 1654. Foi a partir
da ocupação flamenga que a Vila
de Olinda deixou de ser o centro
da colônia. Os holandeses preferiram o Recife, trecho mais baixo,
com a geografia salpicada por
rios, parecida com Amsterdã.
A sinagoga Kahal Zur Israel é o
maior legado da presença judaica
no Brasil no século 17. Mas existem outros em Olinda e Camaragibe e, desde o ano passado, uma
equipe de pesquisadores do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, liderada pela historiadora e antropóloga Tânia Kaufman, se dedica a investigá-los.
O projeto Nos Passos da Presença Judaica em Pernambuco -Período Holandês está reunindo dados que serão disponibilizados
para o público. As pesquisas, financiadas pela Philips do Brasil,
durarão quatro anos.
O projeto está compondo um
roteiro cultural. Além da Kahal
Zur Israel, um casarão na mesma
rua do Bom Jesus (antes rua dos
Judeus), de número 143, faz parte
do roteiro. Ele pertenceu a David
Sênior Colonel, e sua construção é
anterior à sinagoga.
Em Olinda, o roteiro inclui a Casa de Guardas, quartel cuja milícia, à época de Maurício de Nassau, era composta por judeus (hoje, no local, está a igreja de Nossa
Senhora dos Milagres).
A cidade de Camaragibe, na região metropolitana do Recife, era
a "Terra das Sinagogas", nome
que recebeu antes do domínio holandês. Os proprietários mais célebres do lugar, o casal Diogo Álvares Fernandes e Branca Dias,
promoviam dupla religiosidade.
Havia uma capela para rituais católicos, mas, nas "luas novas de
agosto", carroças enfeitadas com
ramagens levavam judeus para
celebrar o Dia do Perdão.
Sinagoga Kahal Zur Israel - Rua do
Bom Jesus, 1.214, Bairro do Recife; aberta de terça a sexta, das 9h às 17h; aos sábados e domingos, das 15h às 19h. Entrada: R$ 2 (inteira) e R$ 1 (meia); tel. 0/
xx/81/3224-2128.
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