São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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Projeto cultural segue os passos dos judeus no Recife e arredores

ADRIANA VICTOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Onde um dia correu o rio Beberibe, no Recife, construíram-se casas. Enchentes constantes haviam provocado o assoreamento do rio e, então, surgiu o arruado. No primeiro registro consta que o terreno foi vendido a Duarte Saraiva, cristão-novo, cujo nome judeu seria David Sênior Colonel.
Era tempo de domínio holandês, de permissividade de credo. O arruado dos judeus também serviria ao templo, construído por volta de 1637. Nascia no Recife a primeira sinagoga em continente americano, a Kahal Zur Israel, ou sinagoga Rochedo de Israel.
"Umas casas grandes de sobrado da mesma banda do rio, com fronteira para a rua dos Judeus, que lhes servia de sinagoga, a qual é de pedra e cal com duas lojas por baixo, que de novo fabricaram ditos judeus: ao presente estão nela aquartelados soldados, e não se faz menção do aluguel de altos, nem de baixo até haver pessoa, que entre a morar nelas", registra Francisco Misquita no "Inventário das Armas e Petrechos Bélicos que os Holandeses Deixaram em Pernambuco e dos Prédios Edificados ou Reparados até 1645".
O período de ocupação holandesa em Pernambuco durou 24 anos: de 1630 a 1654. Foi a partir da ocupação flamenga que a Vila de Olinda deixou de ser o centro da colônia. Os holandeses preferiram o Recife, trecho mais baixo, com a geografia salpicada por rios, parecida com Amsterdã.
A sinagoga Kahal Zur Israel é o maior legado da presença judaica no Brasil no século 17. Mas existem outros em Olinda e Camaragibe e, desde o ano passado, uma equipe de pesquisadores do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, liderada pela historiadora e antropóloga Tânia Kaufman, se dedica a investigá-los.
O projeto Nos Passos da Presença Judaica em Pernambuco -Período Holandês está reunindo dados que serão disponibilizados para o público. As pesquisas, financiadas pela Philips do Brasil, durarão quatro anos.
O projeto está compondo um roteiro cultural. Além da Kahal Zur Israel, um casarão na mesma rua do Bom Jesus (antes rua dos Judeus), de número 143, faz parte do roteiro. Ele pertenceu a David Sênior Colonel, e sua construção é anterior à sinagoga.
Em Olinda, o roteiro inclui a Casa de Guardas, quartel cuja milícia, à época de Maurício de Nassau, era composta por judeus (hoje, no local, está a igreja de Nossa Senhora dos Milagres).
A cidade de Camaragibe, na região metropolitana do Recife, era a "Terra das Sinagogas", nome que recebeu antes do domínio holandês. Os proprietários mais célebres do lugar, o casal Diogo Álvares Fernandes e Branca Dias, promoviam dupla religiosidade. Havia uma capela para rituais católicos, mas, nas "luas novas de agosto", carroças enfeitadas com ramagens levavam judeus para celebrar o Dia do Perdão.

Sinagoga Kahal Zur Israel - Rua do Bom Jesus, 1.214, Bairro do Recife; aberta de terça a sexta, das 9h às 17h; aos sábados e domingos, das 15h às 19h. Entrada: R$ 2 (inteira) e R$ 1 (meia); tel. 0/ xx/81/3224-2128.



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