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PARIS "CHIC"
Estabelecimentos de luxo, muitos hoje nas mãos de grupos estrangeiros, orgulham-se de suas lendas e hóspedes
Hotéis emolduram o glamour da cidade
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
A cidade é Paris. Os prédios,
suntuosos. A comida e o vinho,
soberbos. O que poderia atrapalhar? Tratando-se dos mais caros
e finos hotéis parisienses e preconceituosamente julgando os
"habitués" de seus salões, talvez
valesse a resposta do escritor Ernest Hemingway (1899-1961):
"A única coisa capaz de nos estragar um dia eram pessoas, mas,
se pudesse evitar encontros, os
dias não tinham limites. As pessoas eram sempre limitadoras da
felicidade, exceto aquelas poucas
que eram tão boas quanto a própria primavera", escreveu o norte-americano em "Paris É uma
Festa", livro em que relata os anos
vividos na cidade, de 1921 a 1926.
No lobby do Hotel de Crillon
-um palácio erguido em 1775 na
Place de la Concorde, no coração
de Paris-, a relações-públicas
Adélaïde de Rougé sorri ao dizer
que aquele é um dos últimos dos
refinados hotéis parisienses ainda
pertencentes e administrados por
uma família francesa, a mesma
que detém o champanhe Taitinger e os cristais Baccarat.
O dinheiro novo, emergente,
como visto pelos franceses, circula não só nos salões, nas mãos de
asiáticos, norte-americanos e sul-americanos. Está também atrás
dos balcões dos mais charmosos e
ricos hotéis da cidade: o Ritz pertence a uma família anglo-egípicia (Al Fayed); o Plaza Athénée, a
um grupo asiático; o Le Bristol, a
uma família alemã; o hotel Meurice, a um grupo de Brunei; o Lancaster, a um de Hong Kong.
Mas dinheiro é dinheiro. Quem
se preocupa se é novo ou velho ou
de onde vem? Não os administradores desses hotéis que emolduraram o sonho de uma Paris glamourosa, apesar de ainda exigirem um pouco do que resta dos
símbolos da aristocracia francesa:
paletó nos jantares, por exemplo.
Mas haverá sempre um americano a portar paletó e boné, mesmo que por instantes. "São irreverentes", resume polidamente um
atendente do hotel Meurice, um
dos que fazem restrições a clientes
não adequadamente vestidos.
Construído em 1817, o Meurice
foi reaberto em julho deste ano,
depois de dois anos de reformas.
É um hotel que se orgulha de sua
história. Hospedou a rainha Vitória em 1855 e, desde então, pelo
incontável número de nobres que
recebeu, batizou-se de "o hotel
dos reis e das rainhas".
Esta fama aguçou o interesse
dos nazistas durante a ocupação
de Paris, na Segunda Guerra
Mundial. Em 1944, do quarto 213,
o general Dietrich von Choltitz
comandou as operações alemãs
na capital francesa.
Os soldados e os oficiais cuidavam das chamadas telefônicas ao
eventual recebimento de hóspedes -sim, havia quem viajasse a
Paris mesmo em período tão turbulento e se hospedasse em um
local gerido por nazistas.
Os alemães ocuparam o Meurice até sua rendição, mas não descobriram a adega com vinhos das
melhores safras. Haviam sido
amontoados por trás de cestas.
Histórias da guerra
A ocupação alemã rende histórias e mais histórias aos hotéis parisienses. O Ritz, por exemplo,
deu o nome de Hemingway a seu
bar em homenagem ao escritor.
Ele começou a frequentá-lo na década de 20, ao lado de gente como
Scott Fitzgerald, James Joyce,
Gertrude Stein e Erza Pound.
Conta a lenda do Ritz que,
anunciada a rendição nazista, Hemingway irrompeu o lobby do
hotel com uma garrucha para resgatá-lo dos alemães -que também o utilizavam como base de
apoio a suas tropas.
Um funcionário do hotel, aturdido com a retirada dos nazistas
em andamento e com a arma do
escritor, encaminhou-o para um
martíni no bar. O local hoje leva o
nome do escritor.
Não há comprovação da veracidade dessa história. No livro que
escreveu sobre Paris, Hemingway
cita o Ritz uma única vez, quando
o barman lhe questiona qual do
antigo grupo era Fitzgerald, o autor de "O Grande Gatsby".
Reclama que, já naquela época
(o texto se refere a um diálogo
ocorrido depois da Segunda
Guerra), os turistas o abordavam
com questões sobre os escritores
famosos que frequentavam o bar.
Mas, de Fitzgerald, ele não se lembrava. "Então, invento algo interessante para agradar aos curiosos", disse o barman ao escritor.
Em uma cidade como esta, importa pouco o que é história e o
que é lenda, como conclui o próprio Hemingway: "Paris não tem
fim, e as recordações das pessoas
que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras.
Mais cedo ou mais tarde, não importa quem sejamos, não importa
como o façamos, não importa que
mudanças se tenham operado em
nós ou na cidade, a ela acabamos
regressando. Paris vale sempre a
pena e retribui tudo aquilo que
você lhe dê".
Plínio Fraga viajou a Paris a convite da
companhia aérea Air France e da The
Leading Hotels of the World
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