DE PARIS

O subsolo de Paris guarda um dos passeios mais bacanas e baratos da cidade. A 20 m abaixo do nível das ruas ficam as Catacumbas de Paris, um verdadeiro depósito de ossadas aberto para visitação desde o início do século 19.
Lá ficam os restos mortais de cerca de 6 milhões de parisienses, quase três vezes a população "viva" de Paris. Uma estreita escada em caracol que parece não ter fim leva o visitante ao início do passeio. Lá embaixo, uma placa avisa: "Você está no ponto mais profundo de Paris, abaixo do metrô e de qualquer outra construção".
Um túnel úmido e escuro prepara o visitante para o que vem em seguida. Outra placa: "Aqui começa o reino da morte". Eis que você se depara com pilhas e pilhas de crânios, fêmures, antebraços, tíbias e todos os outros ossos de que você nem lembra mais o nome. E tudo real, com poeira em cima e muita umidade em volta.
A caminhada entre as ossadas estende-se por quase 2 km. Entre uma pilha e outra de ossos, há inscrições de arrepiar ("À morte deixa-se tudo", "Pense que você pode não chegar ao fim deste dia", "Se você já quis matar alguém, pense que alguém também já quis te matar" e outros mimos).
Se você levar um walkman, vai se sentir num videoclipe. Só não tente levar nenhuma "lembrancinha" das catacumbas, porque há revista de bolsas na saída.
As catacumbas foram construídas entre 1784 e 1785. A idéia era criar um local para servir de abrigo definitivo para as ossadas que precisavam ser retiradas dos cemitérios parisienses. Antes, elas eram enterradas nos arredores dos cemitérios, para dar lugar a novos sepultamentos.
A prática começou a ser criticada no século 17, quando as populações dos bairros vizinhos aos cemitérios começaram a contrair doenças, e o mau cheiro dava os primeiros sinais de que tomaria conta da cidade. A primeira leva de ossadas foi transferida do cemitério dos Inocentes -que ficava no centro de Paris- para as catacumbas em 1786.
A transferência de ossadas dos cemitérios parisienses para as catacumbas continuou até 1814. O transporte dos ossos era sempre acompanhado por uma procissão de padres, que faziam o trajeto entoando hinos à morte.
(CLAUDIA ASSEF)