São Paulo, segunda, 26 de maio de 1997.



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À LUZ DO IMPRESSIONISMO
Pintor afastou Monet do academicismo ao aconselhá-lo retratar a natureza como ela é
Rio preserva os 'céus precisos' de Boudin

especial para a Folha

"É sempre com prazer que vejo seus desenhos; são divertidos, ágeis e inventivos. Você tem talento, mas espero que não fique apenas nas caricaturas. Estude, aprenda a ver e a pintar. O céu, o mar, os animais, as pessoas e as árvores são tão belos como a natureza os criou, com sua verdadeira maneira de ser, na luz e no ar."
Foi assim que, lembraria Claude Monet, o pintor Louis Eugène Boudin se expressou no momento em que se conheceram, por volta de 1857, em Le Havre, na França.
Era o início de uma amizade que tiraria Monet, 17, que se dedicava à caricatura, do caminho da arte acadêmica, como desejavam seus pais, e o colocaria na temerária trilha daquela pintura nova da qual Boudin, 34, foi um dos principais precursores, o impressionismo.
A mostra de Monet é um bom pretexto para lembrar que um dos mais importantes acervos de Boudin, somente superado por coleções de museus de Honfleur e Le Havre, está no Rio de Janeiro.
São 20 pinturas doadas em 1922 pelos barões de São Joaquim à Escola Nacional de Belas-Artes e incorporadas ao Museu Nacional de Belas-Artes. Os barões (José Francisco Bernardes e Joaquina de Oliveira de Araújo Gomes) viveram muitos anos em Paris, onde adquiriram obras de arte -a doação ao MNBA incluiu mais 40 peças.
Ao contrário dos colecionadores do século 19, atentos só ao gosto oficial, foram sensíveis à arte que lutava contra a ordem estética estabelecida, como a de Boudin.
Louis Eugène Boudin (1824- 1890) começou a pintar sob a influência de Millet e Troryon.
Mais tarde, ligou-se a Corot e a Coubert e logo descobriu, sensível à luz, a necessidade de trabalhar ao ar livre. As cenas do campo e, principalmente, de mar contribuíram para a sua fama, que chegou tarde.
Segundo Raymond Cogniat, pintou menos a paisagem ou as figuras, e mais a "maneira pela qual recebem a luz e dela vivem".
Quadros como "Honfleur - O Porto" e o "Vale do Rio Touques - Vacas no Prado", no acervo do MNBA, mostram a força dos céus que pintou. Corot dizia que Boudin era o "rei dos céus", e Coubert garantia que só ele os conhecia. Para Baudelaire, eram quadros tão precisos que, por eles, podiam-se "adivinhar a estação, a hora e o vento". Em 1874, Boudin participou da primeira mostra dos impressionistas. (Federico Mengozzi).

Museu Nacional de Belas-Artes: av. Rio Branco, 199, tel. (021) 240-0068, Rio de Janeiro. Aberto de terça a sexta, das 10h às 18h, e sábados e domingos, das 14h às 18h. Ingresso: R$ 1



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