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CARIBE DE SALTO ALTO
Antigas produtoras de sal e entrepostos de piratas, St. Martin e St. Barthélemy vivem hoje de turismo
Ilhas luxuosas têm história de patinho feio
VINCENZO SCARPELLINI
ENVIADO ESPECIAL A ST. MARTIN E ST. BARTH
Entre Anguilla e Guadalupe, entre o mar do Caribe e o oceano
Atlântico, duas ilhas emergem
cerca de 2.400 km a leste de Porto
Rico, latitude 18 graus e longitude
19 graus e sete minutos ou, simplificando, a três horas de vôo de
Miami. São Saint Martin e Saint
Barthélemy.
Pergunte aos locais sobre histórias ou lendas, e a resposta será,
na maioria dos casos, negativa. A
razão está talvez no passado dessas ilhas. Áridas e sem nascentes
de água potável, elas viveram a
transformação do patinho feio:
antes, miséria, esquecimento e as
trevas da solidão. Hoje, riqueza e
turismo com relâmpagos de
mundanalidade. Em suma, um
passado esquecível. Entretanto,
estamos no Caribe. A luz é tão intensa que, se os olhos estão fechados, ultrapassa a barreira das pálpebras. Atrás dos óculos de sol, os
visitantes -mais do que a história- buscam a natureza.
Buscam o mar. Ou melhor, as
cores do mar. Os pensamentos se
tingem dessas cores: verde pintado com pincel, azul ultramarino,
verde óxido de cobre, azul cobalto, turquesa, esmeralda e, de perto, a transparência de uma lente
de cristal. "É reencontrada. O
que? A eternidade. É o mar misturado ao sol." Embora a palavra
"eternidade" possa parecer um
tanto grave para um destino turístico, o verso do poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891) resume todo o abandono que se prova
ao pisar na areia dessas ilhas.
O mar das ondas que lambem
os pés parece não ter relação com
o outro mar, demasiado grande e
inapreensível, capaz de devorar
qualquer coisa. Se um é objeto de
prazer e o outro impõe respeito, é
porque a natureza é sempre recriada pela imaginação, refletindo
assim um estado de espírito.
Provavelmente os ilhéus de dois
ou três séculos atrás teriam dito
simplesmente que a natureza não
dava prazer e que a mistura de
mar e sol significava só duro trabalho e, por vezes, sede e fome.
Nessa época, St. Barthélemy e
St. Martin viviam, sobretudo, da
produção de sal. O produto era
vendido ou trocado por peixe,
pois era com o sal que os navios
de passagem conservavam o pescado até seus destinos, nas costas
americanas ou canadenses.
Era também época de piratas,
corsários e bucaneiros. Violentos,
cruéis, amantes do sangue dos
outros, inesgotável inspiração para escritores de qualquer lugar e
cineastas de Hollywood.
A serviço das coroas européias,
ou simples aventureiros, participavam de uma luta de todos contra todos. "Toda nave [embarcação] era um inimigo e, se encalhada, uma presa", escreveu, bem
mais tarde, Jules Michelet (1798-1874), historiador e escritor francês. De vez em quando, os próprios habitantes da terra firme
eram assaltados.
Mas os sofrimentos passaram.
As duas ilhas, semeadas de estradas lisas, são hoje zona franca.
Pertencem à França e, metade de
St. Martin, à Holanda (com o nome de Sint Maarten).
Com o turismo, a imagem da
natureza misturou-se à sedução
do luxo, ao conforto da boa gastronomia, a uma pitada de topless europeu. Os hotéis chegaram, a estada ficou prazerosa, e o
mar tornou-se inspirador, exclusivo, paradisíaco.
Visto de longe, projeta sobre a
agitação das cidades a promessa
de uma fuga mole e preguiçosa,
até levemente melancólica (que é
outra forma de preguiça). Depois, visto de perto, da proa de
um barco, da praia ou do quarto
de um hotel, sabe manter sua
promessa. Ou, como escreveu o
poeta, ensaísta e romancista André Pieyre de Mandiargues
(1909-1991): "O mar do Caribe é
o espaço geográfico que mais se
aproxima ao espaço onírico".
Embora sejam parte da iconografia da viagem exótica, St.
Martin e St. Barthélemy não pertencem às rotas caribenhas do
turismo de massa. Ao menos por
enquanto. E beber água não é
mais um problema. Basta pedir:
servem-se Evian ou Perrier.
Vincenzo Scarpellini viajou a convite
da American Airlines, dos hotéis La
Sammanna e Guanahani e da consultora X-Mart
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