São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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FIM DE SEMANA / CORPUS CHRISTI

Tapetes de serragem, de flores e de sal das procissões de Corpus Christi rendem ida a cidades próximas a capitais neste dia de folga

Feriado adorna ruas de pequenas cidades

JULIANA DORETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Apesar de o feriado convidar ao não fazer nada, a data religiosa comemorada hoje, dia 26, pode valer um pulinho ao interior. Os tapetes que se estendem sob os pés de sacerdotes, portadores da hóstia consagrada, fazem das procissões do Corpus Christi cortejos de encher as ruas e os olhos.
Para ver de perto os voláteis trabalhos de serragens e flores, não é preciso se afastar nem 200 km das capitais. Cidades como Santana de Parnaíba, em São Paulo, a mineira Sabará e Cabo Frio, no Rio, são alguns dos municípios que ainda seguem a tradição, iniciada em 1264.
Nesse ano, no dia 11/8, a festa (que significa corpo de Cristo, em latim) foi instituída na Igreja Católica pelo papa Urbano 4º. O pontífice atendeu ao pedido da freira belga Juliana Comillon, que, em 1192, disse ter tido visões em que Cristo pedia a comemoração da eucaristia (um dos sacramentos da igreja, em que se crê que Jesus Cristo se torna presente no pão, consagrado na missa).
A data é celebrada sempre na primeira quinta-feira após a festa da Santíssima Trindade, que, por sua vez, é realizada 50 dias depois do domingo de Páscoa.

Herança do além-mar
Já os tapetes são uma herança ibérica. Em Portugal, há notícias de que os cortejos de Corpus Christi já ocorriam com pompa e muitos enfeites desde o século 13 (ou seja, concomitantemente à instituição da data). O costume foi mantido na colônia, conforme relata uma carta do padre Manoel da Nóbrega datada de agosto de 1549 -na verdade, a primeira procissão realizada em Salvador.
Mas a origem da tradição ainda não é certa. "O tapete é uma homenagem que se presta à presença de Jesus e sempre foi muito usado no interior das igrejas. Estendê-lo sobre as ruas é uma forma de fazer que a celebração continue pela cidade", diz monsenhor Dario Bevilacqua, 73, porta-voz da arquidiocese de São Paulo.
Outra hipótese é a de que as ruas enfeitadas remetam à entrada de Jesus na cidade de Jerusalém, antes de sua morte. "Nesse dia, o povo estendeu palmas e ramos de oliveira no chão para que Jesus passasse, como um grande rei", diz o teólogo e ouvidor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Fernando Altemeyer Jr., 48.
Já a mudança dos tapetes comuns para aqueles feitos com serragem pode ter sido apenas pela praticidade, "já que o material é mais fácil de ser obtido", arrisca Altemeyer.
Em algumas cidades mineiras, como Catas Altas, os enfeites invadem as janelas das casas: colchas, vasos e flores adornam os peitoris. "Isso lembra as ruas coloniais, em que as roupas eram penduradas para a secagem e nesse dia recebiam ornamentos", diz Altemeyer.
Já no Rio de Janeiro, na região dos Lagos, em Araruama, Cabo Frio e Saquarema, o que forra as ruas é sal grosso colorido -por ser abundante na região.


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