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SEM RUMO
"Congonhas não deve ser satanizado", diz especialista
Editor de revista sobre aviação lembra que nem mesmo acessos rápidos a
Guarulhos foram construídos
SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo
Para o jornalista Valtécio
Alencar, 35, "o aeroporto de
Congonhas não deve ser satanizado". Editor da revista "Aero
Magazine", ele admite, no entanto, que logo após um acidente como o que ocorreu com o
Airbus da TAM, "é natural esperar esse tipo de reação."
"É preciso esperar e analisar
se as medidas anunciadas são
eficientes e possíveis", diz
Alencar. "Surgirão sugestões
razoáveis e insensatas -e só
com a cabeça fria será possível
discernir entre elas". Leia a seguir sua entrevista à Folha:
Congonhas
"O país perde muito com o
caos aéreo. Houve uma popularização do transporte aéreo,
muitos brasileiros estavam
voando pela primeira vez. Pela
imprevidência e pela falta de
política desse governo e de governos anteriores, vivemos
agora essa situação. E o fechamento de um aeroporto como o
de Congonhas acaba causando
reflexos em toda a malha aeroviária brasileira. Do ponto de
vista da infra-estrutura, São
Paulo -que sempre foi um pólo
industrial, econômico, financeiro e até de turismo- está sofrendo com essa falta de atenção governamental. E não é só o
caso de Congonhas: Campinas
e Guarulhos não estão preparados para receber a demanda extra com a interdição parcial ou
total [de Congonhas]. Também
não existem acessos rápidos e
eficientes para Guarulhos e
Campinas, algo perfeitamente
executável. A rodovia dos Bandeirantes tem canteiros que
previam um trem rápido, mas o
governo de São Paulo também
não fez a lição de casa."
Autoridades
"Outras autoridades que, parece, não fizeram a lição foram
a Anac e a Infraero. Durante
muito tempo, principalmente a
Anac, que tem um receita bilionária -arrecadou R$ 1,5 bilhão
no ano passado-, investiu só
parte dessa verba nos aeroportos. E, do montante investido,
muito pouco foi para a área
operacional. As áreas comerciais receberam mais atenção.
Estamos vivendo uma espécie
de colapso: a demanda para os
próximos anos é grande, e o
próximo aeroporto, para não
nascer saturado, lá por 2012,
precisará de uma capacidade
mínima para 70 milhões de
passageiros por ano. Guarulhos, hoje, comporta anualmente apenas 15 milhões."
Acidentes
"Um acidente como o do Airbus da TAM, na semana passada, deixa uma grande marca negativa para quem vive do transporte aéreo; aliás, é doloroso
para todo mundo. E há relatos
de que, depois das obras, a pista
está ainda mais escorregadia.
Não posso afirmar categoricamente, mas parece que até o
acidente do Boeing da Gol com
o Legacy, há dez meses, a aviação comercial brasileira, mesmo com problemas de infra-estrutura e gargalos, funcionava
bem. Panes como a do Cindacta-4, ocorrido na noite de sexta
para sábado, arranham ainda
mais a imagem internacional
do país. Sem dúvida, depois que
a Polícia Federal e a Justiça resolveram intervir na investigação aeronáutica do vôo da Gol,
transformando as provas em
provas criminais, os controladores, diretamente envolvidos
na questão, se sentiram pressionados, politizando a crise,
iniciando procedimentos como
a operação padrão."
Estradas
"O turista que tem a opção de
sair do avião e ir para o ônibus
também está encontrando dificuldade, pois esse reflexo já está começando a saturar a estrutura rodoviária, que também
não é a melhor do mundo. Não
sei se o turismo rodoviário "vai
ganhar" com a crise aérea. Mas
o setor da aviação, que vinha
crescendo a níveis exponenciais no Brasil, perde, e perde
muito. Em Congonhas, houve
uma freada, as operações estão
sendo revistas e acontecem
deslocamentos. Essas adaptações, feitas sem grandes planejamentos prévios, certamente
vão prejudicar o país."
Apuração
"O governo federal não tem
olhado com atenção, há anos, o
setor aéreo. O governo FHC
-que propôs em 1998 a criação
da Anac, Agência Nacional da
Aviação Civil, para substituir
um órgão militar, o DAC, conduziu mal o processo, que tramitou no Congresso Nacional
até 2005. Durante sete anos, o
governo federal deixou os investimentos para o setor estagnados e houve um desestímulo
tremendo para os funcionários
do DAC, que ficaram num departamento fadado a morrer, à
míngua de informações.
A Anac foi criada às pressas,
copiou o modelo de agências
estrangeiras com a FAA (Federal Aviation Association dos
EUA) e a EASA (European
Aviation and Safety Authority),
mas suas diretorias, que deveriam ser preenchidas por técnicos, foram ocupadas por indicações políticas."
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