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UMBIGO DO MUNDO
Sem tempero, carnes e peixes ganham sabor com ingredientes como pedra quente e folha de bananeira
Refeição aromática emerge da terra
DO ENVIADO ESPECIAL
Noite. Mar prateado. Quintal de
uma casa. Sob a lua, três homens
começam a escavar a terra. Uma
idosa de cabelo preso, vestida de
branco, reza uma prece em rapanui. Na semi-escuridão, algumas
pessoas assistem em silêncio. Da
terra removida sai uma fumaça. A
velha levanta os braços e oferece a
fumaça aos espíritos.
Não, não estamos assistindo a
um ritual vodu, como os praticados no Haiti. Trata-se de algo bem
menos comprometedor. Está para ser servido o curanto, comida
que se prepara embaixo da terra.
Do buraco vão sendo retiradas
camadas de pedra vulcânica (que
retém fortemente o calor), de folhas de bananeira e de alimentos.
Carne, peixe, banana, milho e batata-doce são colocados, de três a
quatro horas antes, sem nenhum
tempero. Mas tudo fica saboroso
por efeito do calor das pedras, da
fumaça, das folhas de bananeira e
dos aromas da própria terra.
Comer um verdadeiro curanto é
uma experiência para poucos.
Mas, com um bom guia e um belo
papo com os ilhéus, a tarefa não é
impossível. Aos que não tiverem
essa sorte, o hotel Tanga Roa oferece belos shows que incluem
abertura e degustação do curanto.
Na ilha, o peixe é sempre fresco,
e o seviche de atum é o prato forte.
O atum é marinado no limão, picado e misturado à cebola, ao
coentro e ao tomate. Paladares refinados lembrarão por um bom
tempo esse sabor. Para acompanhar, coquetel de pisco, com limão, clara de ovo e açúcar.
Entre as delicatessen, antigamente havia a carne humana. Os
guerreiros comiam o corpo do
inimigo para se apoderar de sua
força. Há quem jure que, às vezes,
o ritual ainda é renovado por causa de algum desentendimento.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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