São Paulo, segunda, 27 de abril de 1998

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POR DENTRO DO RECIFE
Açúcar motivou a ocupação holandesa

CLAUDIO SCHAPOCHNIK
da Reportagem Local

A ocupação holandesa de parte do Nordeste brasileiro teve como motivação a disputa pela hegemonia da produção e da comercialização do açúcar.
Outro fato que se liga a essa história é a passagem do trono português para a Espanha, com a crise na dinastia de Avis, em 1580. Foi a chamada União Ibérica, que durou até 1640.
Como as relações entre a Holanda e a Espanha eram conflituosas, consequentemente o mesmo se deu com Portugal e suas colônias.
Em 1624, as invasões holandesas -feitas pela Companhia das Índias Ocidentais- se iniciaram no Brasil. Objetivo: a ocupação das zonas produtoras de açúcar na América portuguesa.
O primeiro alvo foi a cidade de Salvador. Os holandeses ficaram apenas um ano e foram expulsos.
Em Pernambuco o ataque teve início em 1630, quando Olinda foi conquistada.
Na análise do professor do departamento de Ciências Políticas da USP e autor do livro "História do Brasil", Boris Fausto, a presença holandesa no Nordeste pode ser delimitada em três fases.
A primeira delas vai de 1630 a 1637, quando se travou uma batalha de resistência e se consolidou o domínio da Holanda em um território que se estendia do Ceará ao rio São Francisco.
A segunda fase (de 1637 a 1644) se caracteriza por uma período de paz, segundo o professor Fausto. Nessa época, o príncipe holandês Johan Maurits de Nassau-Siegen (Maurício de Nassau) governou a possessão e realizou importantes mudanças arquitetônicas e administrativas no Recife.
Para enfrentar as crises de abastecimento de comida, ele mandou os senhores de engenho plantarem pés de mandioca em número proporcional ao de seus escravos.
Na área religiosa, o calvinista Nassau tolerou outros credos, como o católico e o judaico. Na década de 1640, foram edificadas duas sinagogas no Recife, as primeiras das Américas.
Isaac Aboab da Fonseca, religioso judeu-português que imigrou para a Holanda passando pela França, veio para Pernambuco -assim como muitos outros israelitas- e tornou-se o primeiro rabino do Novo Mundo.

Artistas no Recife
Nassau elevou o Recife -onde fez várias obras e a Cidade Maurícia- à categoria de capital da Província de Pernambuco, no lugar de Olinda.
O príncipe holandês também deu grande importância às artes e às ciências naturais.
Ele trouxe diversos artistas e naturalistas a Pernambuco.
Entre eles Frans Post e Albert Eckhout, que retrataram as belezas naturais, a fauna, a flora, as paisagens, os índios, os negros e os mestiços brasileiros.
A última fase da ocupação holandesa vai de 1645 a 1654 com a reconquista portuguesa do território ocupado. O principal foco da revolta ficava em Pernambuco, onde a guerra se estendeu por vários anos com a vitória dos revoltosos em várias batalhas.
Com a crise financeira da Companhia das Índias e o início do conflito entre a Holanda e a Grã-Bretanha (1652), não havia capital suficiente para a manutenção da defesa.
Em 1654 houve a derrota definitiva das tropas invasoras, com o cerco ao Recife por uma esquadra portuguesa.



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