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ILHAS À PORTUGUESA
Geografia e desastres naturais constróem caráter dos açorianos, que ajudaram a colonizar o Sul do Brasil
Vulcão e mar moldam cultura dos Açores
JOÃO BITTAR
ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL
As técnicas de navegação desenvolvidas pelos portugueses,
como o manejo de velas para
avançar contra o vento e a descoberta do exato movimento das
correntes marítimas (espelhadas
nos dois hemisférios), os levaram
aos Açores, uma Atlântida em
forma de arquipélago, com nove
ilhas formadas a partir da mesma
erupção vulcânica.
A frota comandada por Diogo
de Silves, que operava as teorias
do infante dom Henrique, o Navegante, chegou aos Açores em
1427. A primeira das ilhas foi batizada de Santa Maria.
Depois, ao longo de 30 anos, foram descobertas outras oito, a
nordeste da Santa Maria, a mais
próxima ao continente, localizada
na altura de Lisboa -mais precisamente a duas horas de vôo da
capital portuguesa.
Ao se aproximarem do local, os
aventureiros logo avistaram alguns milhafres e os confundiram
com açores (ambos aves de rapina típicas da região).
De mesma formação geológica,
separadas e limitadas pelas águas
do oceano e pelos vulcões que
nunca morrem, as ilhas dos Açores se tocam pelas raízes e se complementam na superfície, como
se uma fosse a resposta da outra.
De geografia surpreendente e
espetacular, as ilhas oferecem
uma história salpicada de lutas
contra acidentes naturais, como
abalos sísmicos e erupções vulcânicas, e contra invasões de piratas
e da Armada Espanhola.
O cenário bélico entre d. Pedro
6º (o nosso d. Pedro 1º) contra seu
irmão d. Miguel e sua mãe, Carlota Joaquina, inspirou o poeta Almeida Garrett (1799-1854) a
acrescentar ao nome da então cidade de Angra o termo "do Heroísmo". Mas isso aconteceu anos
depois de ela ser parada obrigatória das naus e caravelas que percorriam os mares em direção à
América, à África ou às Índias, para que se abastecessem de água e
outros suprimentos.
Essas curiosidades, além das peculiaridades da civilização açoriana, que ajudou a colonizar o Sul
do Brasil, participando da formação de cidades como Porto Alegre, são os principais tesouros do
arquipélago, que é região autônoma de Portugal.
As temperaturas amenas, raramente acima dos 20C, não
atraem os turistas às suas praias.
Porém os amantes da natureza
podem se deleitar com as paisagens exuberantes, que convidam
à reflexão, com seu "espólio" vulcânico a produzir "cerrados" de
fertilidade agrícola.
Exemplo disso é a planície da
Achada, ao pé da serra do Cume,
na ilha Terceira, onde pequenos
muros de pedras basálticas geometricamente dispostos formam
colchas com plantações de milho
ou de uvas. Ali os pastos em fartura saciam bem o gado, graças à generosa quantidade de chuva.
Outra bela paisagem é a ponta
dos Capelinhos, onde em 1957
uma violenta erupção soterrou
milhares de pessoas e destruiu,
com 432 abalos sísmicos num só
dia, algumas "freguesias", provocando o êxodo de 15 mil habitantes para os EUA, cerca da metade
da população da ilha do Faial na
época, deixando seu rastro de
destruição ao sabor de um vento
incessante e poderoso que esculpe
a pedra com a ajuda do mar.
Além de Santa Maria e São Miguel, a maior de todas as ilhas e o
centro econômico e político dos
Açores, há as ilhas do grupo central: Terceira, Faial, Pico, Graciosa
e São Jorge. Mais ao noroeste estão as ilhas de Flores e do Corvo,
que é a menor de todas, com apenas 340 habitantes.
Assim os Açores desfilam suas
belezas geográficas e a integração
humana com a paisagem, formando uma cultura "vulcanista"
de respeito aos limites da terra e
do mar, que inspirou inúmeros
escritores e artistas portugueses e
que definiu o caráter açoriano.
João Bittar viajou a convite da TAP
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