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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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ÁGUA VIVA

Começam a crescer no Brasil observação de baleias e pesca do estilo "pegue e solte", prática que gera controvérsia

Mundo submerso traga adeptos no país

DA REDAÇÃO

O velho Santiago, o capitão Ahab e o carpinteiro Gepeto. Em comum, as histórias com esses protagonistas destacam o fascinante mundo marinho, em meio a aventuras que envolvem ambição, determinação, muita paciência, uma dose de vingança e até um pouco de loucura.
Esses quesitos da ficção valem para quem quer mergulhar em atividades ligadas à pesca.
Sobre marés bem reais e, claro, descartando o lado predatório do capitão Ahab e sua caça à baleia branca em "Moby Dick", clássico de Herman Melville (1819-1891), a glória para os atuais "baleeiros" é olhar e clicar os cetáceos.
Na costa brasileira, as baleias jubartes se apresentam em Abrolhos (BA), onde há cerca de 1.600 desses mamíferos, e as francas dão show em Imbituba, em Santa Catarina.
A captura do astuto marlim, dominado pelo velho Santiago de Ernest Hemingway (1899-1961) em "O Velho e o Mar", também mudou de linha. Chamada de pesca ecológica -embora o assunto seja controverso-, o peixe, após ser pesado, volta ao mar e recebe uma etiqueta que ajuda pesquisadores a colher dados sobre ele em outras águas. O marlim pode ser encontrado aos montes em Ilhabela (SP), Rio de Janeiro (RJ), Guarapari (ES) e Canavieiras (BA).
A pesca em rios adota a mesma filosofia do "catch and release" (pegue e solte), sistema mais utilizado por estrangeiros, mas que vem crescendo no Brasil.
Explorada turisticamente, a observação de baleias gera US$ 1 milhão no mundo. Nos EUA, os 34,1 milhões de praticantes da pesca esportiva -no Brasil há 60 mil atletas na Confederação Brasileira de Pesca- gastam US$ 35 bilhões na atividade por ano, segundo dados de 2001 da Associação Nacional de Pesquisa de Pesca, Caça e Vida Selvagem.
No Brasil, esse gasto tem o tamanho de um lambari comparado ao do peixe grande. Segundo estimativas da operadora Interfishing, especializada em pesca esportiva, a atividade praticada em rios movimenta de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões por ano no país. Falta ao Brasil aprender a vender o seu peixe nessa área, porque a matéria-prima é abundante.
Há 206 espécies de peixe conhecidas na bacia Amazônica. Diz-se que a maior concentração do procurado tucunaré, um dos peixes de água doce mais disputados no Brasil, fica em Barcelos (AM). A bacia do Pantanal concentra cerca de 180 espécies de peixes. Também o litoral é forrado com 260 espécies.

Controvérsia
Para Magali Przybycien, coordenadora do Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a pesca esportiva pode ser um instrumento de conservação.
"A renda gerada por ela pode substituir a gerada pela pesca profissional predatória", diz.
Segundo o biólogo e diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Marcelo Szpilman, chamar a pesca oceânica esportiva de ecológica é controverso. Solto após a captura, o peixe é devolvido ao mar "muito debilitado". Szpilman explica que o peixe pode morrer "embuchado" (com a isca e o anzol presos dentro do seu estômago) ou por estresse. (MARGARETE MAGALHÃES E HELOISA LUPINACCI)


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