São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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CIDADE CAPITAL

Roteiro se baseia na agenda de Obama

Temas incontornáveis ao novo presidente dos EUA delineiam circuito político-turístico-gastronômico

DA ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

No último dia 6 de novembro, um tablóide gratuito distribuído no metrô perguntava ao (e)leitor, dois dias após o anúncio do resultado do pleito nos EUA, se Barack Obama, o presidente eleito, viraria, de fato, um cidadão de Washington.
Atuando no Senado e trabalhando em Washington, Obama continuou vivendo em Chicago. E os washingtonianos esperam que, agora, ele abrace de vez a nova morada. Discutem, em fóruns na internet, onde será que a primeira-família deve comer -e especulam que lugares os Obama vão freqüentar.
Baseada na agenda que o 44º presidente dos EUA cumprirá a partir de 20 de janeiro, a reportagem da Folha sugere um roteiro político-turístico-gastronômico. Ele pode inspirar decisões presidenciais ou, não menos importante, guiar a visita do leitor à cidade.
(HELOISA LUPINACCI)




CRISE FINANCEIRA
O dólar sobe, a bolsa desce, e o desemprego aumenta. Quando estiver afogado nos números da crise, Obama pode recorrer ao Bureau of Engraving and Printing para colocar os pés no chão. Ali, onde são impressas as notas de dólar, uma visita rápida apresenta a fabricação do dinheiro e as técnicas que impedem falsificação. No começo do tour, grandes folhas de papel entram nas máquinas. Quando o passeio termina, pilhas de dólares são conferidas pelos operadores. A entrada é grátis, os tours são guiados, e não é permitido tirar fotos. Informações: 00/xx/1/202/874-2330; www.moneyfactory.gov.

MUÇULMANOS
Obama será observado de perto quando o assunto é a segurança nacional. Para que ele entenda melhor o mundo muçulmano e não o reduza à ameaça terrorista, pode percorrer a galeria Freer, onde parte das salas é dedicada à arte do Islã, com peças que vão do século 9º ao século 20. A coleção é voltada à Ásia, portanto, nas galerias seguintes, Obama poderá observar desenhos chineses, tecidos japoneses e adornos sagrados hindus. E já que está por ali, não deve deixar de ver a sala Peacock (1876-1877), obra do norte-americano James Whistler (1834-1903).
Com paredes cobertas de couro, o teto pintado com um padrão de penas, a sala tem, em uma face, o retrato "A Princesa na Terra da Porcelana" e, do outro, uma cena de briga de pavão. A entrada é grátis. Informações: 00/xx/1/202/633-1000; www.asia.si.edu.

AQUECIMENTO GLOBAL
A conduta dos EUA acerca da preservação do ambiente deve ser uma das preocupações de Obama. Entre os reflexos da mudança do clima no mundo, a vida marinha perece. Quando quiser se debruçar sobre o assunto, Obama pode ir ao Hank's Oyster Bar, que serve, diariamente, uma seleção de variados tipos de ostras frescas (pratos de US$ 15 a US$ 23; o preço das ostras muda diariamente). Uma visita à casa, no número 1.624 da rua Q, também serve de desculpa para caminhar pelo bairro de Dupont Circle. Informações: 00/xx/1/ 202/462-4265; www.hanksdc.com.

ORIENTE MÉDIO
As tensões políticas nessa região podem tomar vulto ao longo do governo Obama. Uma boa fonte de inspiração é o restaurante Zaytinya, em cujas mesas pratos israelenses e libaneses convivem em perfeita harmonia. As mezzes, como são chamadas as pequenas porções, custam a partir de US$ 6 e chegam à mesa com uma cesta com pão sírio recém-saído do forno.
Entre as opções, está o israelense queijo tavor, cremoso, de leite de ovelha, com um toque ácido (US$ 7,50). Um pedaço de carne de carneiro cozida lentamente é servido com purê de berinjela por US$ 10,50. Com seis porções dessas, o jantar está mais que garantido. O Zaytinya, na rua 9, número 701, está na moda. Chegar cedo ajuda a evitar a espera. Informações: 00/ xx/ 1/202/638-0800; www.zaytinya.com.

RÚSSIA
Se as relações entre Rússia e EUA andam um pouco amargas, na Russia House elas vão muito bem. A casa na altura do 1.800 da avenida Connecticut era um clube fechado para cavalheiros russos. Há alguns anos foi aberta ao público como um restaurante e lounge. Não há relação amarga que resista ao cheiro de borsch (sopa russa de beterraba; US$ 7) que vem da cozinha. Se o amargor for forte demais, apele-se para a vodca. A casa serve uma seleção da bebida aromatizada artesanalmente. Para quem não gosta do destilado, há cerveja, com opções russas. Informações: 00/xx/1/202/234-9433; www.russiahouselounge.com.

CHINA
Com uma ida ao Peking Gourmet Inn, Obama mata dois coelhos, ou patos, com uma cajadada só. Primeiro, se aproxima gastronomicamente da China, que desponta como potência econômica. Segundo, se aproxima fisicamente dos republicanos. É que o restaurante, especializado em pato de Pequim, favorito do Bush pai, é um queridinho entre republicanos. O pato de Pequim custa US$ 38 e dá, com folga, para duas pessoas. Na hora de servir, o garçom corta finas fatias da pele do pato e depois elimina a camada de gordura que fica entre a pele e a carne. Depois, fatia a carne. Na mesa, há panquecas, molho e cebolinhas. Basta juntar um pedaço da pele, um da carne, um pouco de molho e umas cebolinhas sobre a panqueca e levar tudo à boca. Nunca foi tão fácil se aproximar da oposição. É recomendável fazer reservas. Para ir até lá, uma boa rota é ir de metrô até a estação Ballstum e lá pegar um táxi (cerca de US$ 20, ida e volta). Informações: 00/xx/1/703/ 671-8088; www.pekinggourmet.com.

IMIGRAÇÃO ILEGAL
Nopalitos, uma salada de pedacinhos de cacto com tomates e molho de lima, e quesadillas huitlacoches, tortilha de milho recheada de queijo do Sul do México e fungos originários do milho, chegam em pratos caprichados à mesa do Oyamel, restaurante de comida mexicana no centro da cidade, na região chamada Penn Quarter (fica na rua 7, número 401). É importante atentar para um detalhe: há dois tipos de comida mexicana nos EUA: a tex-mex, que é uma releitura, bastante fácil de ser encontrada, e a mexicana, que veio do México.
Diante do sabor sofisticado desses antojitos -o restaurante aposta, como o Zatinya, em porções pequenas, que custam entre US$ 3 e US$ 10, e sugere que sejam pedidas de três a quatro por cabeça-, é mais fácil refletir sobre as questões envolvendo a fronteira México-Estados Unidos. Ao menos para quem gosta de comer, a solução é: abrir as fronteiras e deixar entrar tudo. O gosto da comida justifica a medida extremada.
Informações: 00/xx/1/202/ 628-1005; www.oyamel.com.

QUESTÃO RACIAL
Não há um restaurante queniano em Washington. Mas há muitas casas etíopes. É verdade que são países diferentes. Também é verdade que era mentira que Sarah Palin achava que a África era um país. Mas, quenianos e etíopes são vizinhos, e se Obama quiser conhecer a comida do país vizinho àquele em que seu pai nasceu, tem dezenas de opções no bairro U-Street. O mais aclamado é o Etete, na rua 9, nº 1.942. Feito o pedido, a garçonete traz a bandeija, colocada sobre a mesa.
Sobre ela há uma panqueca, chamada ingera, e um montinho do pedido (os pratos custam entre US$ 10 e US$ 14). Ao lado, uma cesta com mais ingeras. Pegue uma, e com ela, como se fosse um guardanapo, apanhe a comida e leve à boca.
Além do Etete (tel.: 00/xx/ 1/202/232-7600), outra boa parada em U-Street é o Ben's Chilli Bowl (www.benschilibowl.com), cujo dono afirmou que a família Obama, ali, come de graça. O bairro dá a medida da popularidade de Obama: a cada vitrine, há displays com foto dele em tamanho natural.


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