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Flagrada por Atget, a Paris da esquina do século ainda existe
SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo
Marinheiro, ator, pintor e fotógrafo, Eugène Atget (1857-1927)
fincou nas ruas de Paris o tripé da
sua câmera num trabalho sistemático, entre 1897 e 1900. Revelou, assim, uma cidade em movimento, bucólica e pitoresca, plasmando esquinas e vitrinas que o
tempo modifica e conserva, quase
que por acaso.
Empenhado em flagrar as imagens da capital francesa iluminada para a chegada do ano 2000,
João Bittar, editor de Fotografia
da Folha, driblou o tempo para
achar as velhas esquinas de Atget.
Nascido em Libourne, perto de
Bordeaux, órfão desde os 5 anos
de idade, Jean-Eugène-Auguste
Atget virou fotógrafo aos 42.
Dono de uma personalidade
desconfiada e ciumento de suas
fotos -que chamava de "documentos"-, teria morrido em
completo abandono se, quase que
por acaso, não tivesse sua obra
descoberta, em 1926, por Berenice
Abbott. Perambulando por Paris
com uma câmera nas mãos e a
biografia do fotógrafo Man Ray
na cabeça, essa fotógrafa norte-americana visitou o pequeno
apartamento de Atget (17 bis, Rue
Campagne Première) atrás de informações. Comprou dele, com
insistência, uma foto.
Uma época volta à luz
Quando Berenice Abbott lá voltou, no ano seguinte, Atget já tinha morrido. A fotógrafa correu
então atrás de um colecionador
de Nova York, Julien Levy, que,
num trabalho de rescaldo, resgatou clichês e, usando velhas técnicas de impressão fotográfica, deu
vida àquela Paris da virada do século, envolta em bruma e poesia.
Passados cem anos, muitas dessas imagens, capturadas em preto-e-branco, estão expostas do
outro lado do mundo, no museu
de Arte Moderna de Nova York.
Transformadas em alguns dos
postais mais vendidos pelas livrarias parisienses, essas fotos líricas
povoam nosso imaginário.
Hoje a capital francesa está paramentada para entrar no ano
2000, e um calendário na Torre
Eiffel (de 1889) faz as vezes de cronômetro do mundo.
Única, Paris foi modelada por
arquitetos como Montreuil, que,
morto em 1267, legou à cidade a
catedral de Nôtre-Dame, recém-reaberta. Haussmann (1809-91)
rasgou bulevares um século antes
de I.M. Pei concluir a pirâmide de
vidro do Louvre, em 1989. Mas, a
despeito dessas mudanças, as fotos de Atget continuam atuais e se
tornaram uma janela para observar como o século moldou o perfil
da cidade que mais visitantes recebe no mundo.
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