São Paulo, Segunda-feira, 27 de Dezembro de 1999


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Flagrada por Atget, a Paris da esquina do século ainda existe


SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo

Marinheiro, ator, pintor e fotógrafo, Eugène Atget (1857-1927) fincou nas ruas de Paris o tripé da sua câmera num trabalho sistemático, entre 1897 e 1900. Revelou, assim, uma cidade em movimento, bucólica e pitoresca, plasmando esquinas e vitrinas que o tempo modifica e conserva, quase que por acaso.
Empenhado em flagrar as imagens da capital francesa iluminada para a chegada do ano 2000, João Bittar, editor de Fotografia da Folha, driblou o tempo para achar as velhas esquinas de Atget.
Nascido em Libourne, perto de Bordeaux, órfão desde os 5 anos de idade, Jean-Eugène-Auguste Atget virou fotógrafo aos 42.
Dono de uma personalidade desconfiada e ciumento de suas fotos -que chamava de "documentos"-, teria morrido em completo abandono se, quase que por acaso, não tivesse sua obra descoberta, em 1926, por Berenice Abbott. Perambulando por Paris com uma câmera nas mãos e a biografia do fotógrafo Man Ray na cabeça, essa fotógrafa norte-americana visitou o pequeno apartamento de Atget (17 bis, Rue Campagne Première) atrás de informações. Comprou dele, com insistência, uma foto.

Uma época volta à luz
Quando Berenice Abbott lá voltou, no ano seguinte, Atget já tinha morrido. A fotógrafa correu então atrás de um colecionador de Nova York, Julien Levy, que, num trabalho de rescaldo, resgatou clichês e, usando velhas técnicas de impressão fotográfica, deu vida àquela Paris da virada do século, envolta em bruma e poesia.
Passados cem anos, muitas dessas imagens, capturadas em preto-e-branco, estão expostas do outro lado do mundo, no museu de Arte Moderna de Nova York.
Transformadas em alguns dos postais mais vendidos pelas livrarias parisienses, essas fotos líricas povoam nosso imaginário.
Hoje a capital francesa está paramentada para entrar no ano 2000, e um calendário na Torre Eiffel (de 1889) faz as vezes de cronômetro do mundo.
Única, Paris foi modelada por arquitetos como Montreuil, que, morto em 1267, legou à cidade a catedral de Nôtre-Dame, recém-reaberta. Haussmann (1809-91) rasgou bulevares um século antes de I.M. Pei concluir a pirâmide de vidro do Louvre, em 1989. Mas, a despeito dessas mudanças, as fotos de Atget continuam atuais e se tornaram uma janela para observar como o século moldou o perfil da cidade que mais visitantes recebe no mundo.


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