São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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CAPITAL LÍGURE

Gênova colhe os frutos da regeneração de seu porto

Fora das rotas turísticas, quinta maior cidade da Itália vive ecos da onda de renovação iniciada em 1992

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Antiga ponte entre o Velho e o Novo Mundo, a quinta maior cidade italiana tem mais de 800 mil habitantes e, curiosamente, é pouco explorada pelas rotas turísticas -embora seja visitada, é verdade, por inúmeros transatlânticos.
Capital européia da cultura em 2004, Gênova (www.apt.genova.it) mudou a sua geografia urbana em 1992, modificando sua relação com a antiga e degradada zona portuária, ora remodelada. Essa regeneração esteve a cargo de um dos mais festejados arquitetos europeus da atualidade, o genovês Renzo Piano (rpbw.r.ui-pro.com).
Assim, em 1992, durante as comemorações dos 500 anos da viagem de Colombo à América, a reformulação urbana capitaneada por Piano demoliu velhos armazéns e, conservando os prédios significativos, fez uma revolução cultural no ancestral Porto Antico. Um dos melhores aquários da Europa surgiu nessa área, projetado pelo norte-americano Peter Chermayeff, o mesmo que concebeu o Oceanário de Lisboa.
A restauração fez surgir eventos anuais como a Notte Bianca, que ocorre em setembro. Nesse encontro, os italianos passam a noite em branco assistindo a shows musicais e a espetáculos de teatro. E é nessa praça à beira-mar, agora cercada de igrejas e de prédios públicos restaurados, caso do multicolorido palácio de San Giorgio, que Gênova passeia, festeja e recebe os seus turistas.
A regeneração urbana refez o interior de antigos armazéns que abrigam restaurantes, lojas e livrarias. No entorno do Aquário -financiado pela família Costa, que foi dona da empresa de cruzeiros marítimos-, estão um píer para aportamento de barcos particulares, um pavilhão para dançar e mastros que, saídos da prancheta de Piano, sustentam o elevador panorâmico Bigo.

Gênese à genovesa
Grande porto italiano de onde partiram imigrantes que foram "fazer a América" no século 19, Gênova se projetou já no século 12, vencendo sarracenos que pirateavam nas costas do mar da Ligúria.
A cidade chegou ao auge ao se tornar uma república, "A Soberba", controlando o comércio em locais distantes, caso das regiões onde, modernamente, estão a Argélia e a Síria. De Bizâncio (atual Istambul) a Bruges (hoje na Bélgica), Gênova fez do comércio sua atividade primordial. Rivalizou na atividade mercantil com Veneza, alcunhada "A Sereníssima".
Inevitável, a guerra entre ambas aconteceu entre 1378 e 1381 -com a vitória veneziana. Entre os genoveses mais ilustres está Cristóvão Colombo. Se bem que há quem diga que o navegador -que, sem saber, descobriu a América, em 1492, a soldo dos reis da Espanha- não nasceu realmente lá.
Uma casa na piazza Dante, perto de Porta Soprana, antigo portão leste na muralha da cidade antiga, é identificada como a casa de Colombo. Encimando uma encosta dos Apeninos, no centro da Riviera italiana, entre San Remo e Viareggio, Gênova é metropolitana por excelência. Tem, além do porto, indústrias e um comércio intenso. A via 20 Settembre, sua principal avenida comercial, termina na piazza De Ferrari, marcada por uma fonte redonda e iluminada de 1936.
Perto da praça, tem início a descida até o velho porto reurbanizado, passando pela basílica de San Lorenzo, uma igreja gótico-românica erigida a partir do século 13. A fachada é quase que listrada, feita de mármores cinza e rosado em camadas alternadas.
Deixando as vielas que descem até o porto, no alto, ficam a piazza De Ferrari e o Palazzo Ducale, antiga residência dos doges. Referência da vida política e cultural, esse palácio foi o local onde, em 2001, se reuniram os líderes do G8, gerando uma onda de manifestações contra a globalização que causou a morte de um estudante.
Em 2004, quando Gênova foi capital cultural da Europa, o palácio funcionou como o epicentro das atividades. E mesmo hoje, nos pátios internos do Palazzo Ducale, há anúncios de atividades e mostras culturais, com um vai-e-vem mundano ilustrativo da agitação da capital lígure.
Mas, voltando à via 20 Settembre, onde as lojas elegantes estão instaladas sob galerias cujo piso é forrado de mosaicos recém-recuperados, vale a pena descer até as imediações do mercado Orientale, o mercadão genovês.
Outro passeio revelador é percorrer a via Garibaldi, a antiga via Nuova, onde ficam os palácios aristocráticos das famílias Doria, Grimaldi, Spinola e Di Negro. Dentro deles há inclusive pinturas de artistas flamengos que viveram ali, caso de Rubens e Van Dyck, além de óleos de pintores italianos, como Alessandro Magnasco e Bernardo Strozzi.
Assim, varrida nos meses de inverno pelo vento frio "libeccio", Gênova é voltada para o mar da Ligúria, servida por navios de cruzeiros no verão e, sempre, conectada por balsas e barcos a todos os portos mediterrâneos, da Sardenha à ilha de Elba, do golfo de Nápoles à Sicília. Auto-estradas levam a Roma (500 km), a Milão (140 km) e até a Paris (800 km), se bem que o ideal é partir por caminhos locais rumo à Riviera.


SILVIO CIOFFI voou a convite das importadoras Casa Flora e Porto a Porto


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