São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2011

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Parque húngaro é mausoléu de estátuas

Icônicos da era comunista, monumentos alusivos a Karl Marx, Stálin e Lênin estão expostos no Memento Park

Húngaros foram um dos poucos que optaram por preservar o patrimônio artístico característico da época comunista

DO ENVIADO A BUDAPESTE

Não se intimide com a crueza e a descortesia da recepcionista da bilheteria. Ela foi cuidadosamente selecionada entre várias candidatas para mostrar aos visitantes a qualidade dos serviços públicos da época do comunismo.
Nos arredores de Budapeste, uma exposição conserva estátuas do regime soviético, retiradas das ruas para a criação de um parque temático da propaganda comunista, chamado de Memento Park.
São toneladas de comunismo num só lugar, um mausoléu dos fantasmas da ditadura stalinista. Na entrada, um cartaz mostra o programa: "Os Três Terrores" (Stálin, Mao e Lênin), uma paródia com "Os Três Tenores".
Com a arte artificial do realismo socialista, surgiram obras escultóricas em reverência aos líderes soviéticos. Em exposição ao ar livre, 42 peças são a reprodução de Lênin, Stálin, Marx, Engels, Béla Kun e Georgi Dimitrov.
Com a queda do regime em 1989, os húngaros foram um dos poucos a preservar o patrimônio. Nos demais países do Leste Europeu prevaleceu uma atitude iconoclasta, e toda a estatuaria socialista foi destruída no embalo da queda do Muro de Berlim.
A única ainda nas ruas de Budapeste é a Estátua da Liberdade, no monte Gellért.
Com o fim da URSS, a população se dividiu sobre o destino da obra. Alguns defendiam a retirada, outros queriam mantê-la como registro histórico.
A pacificação veio do artista Tamás St. Auby. O monumento foi coberto por um lençol branco por alguns dias para representar a purificação do fantasma comunista e o expurgo soviético.
"Todas as estátuas tinham um nome oficial e um apelido que só chamávamos entre nós. A do alto do morro é a Peixeira", diz o húngaro Bencze Péter, em alusão à folha de palmeira carregada por ela que, vista do Danúbio, parece mesmo um peixe.
Como tudo no comunismo, as esculturas do parque são carregadas de simbolismo. Numa delas, um operário húngaro maltrapilho curva-se ao dar as duas mão, em sinal de agradecimento, a um comandante soviético -bem vestido de sobretudo, botas e ushanka, o chapéu militar russo-, que o cumprimenta só com uma delas.
A inscrição de uma das estátuas resume o espírito do parque e da propaganda comunista: "Pelo trabalhador! Pela pátria! Avante!"
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)


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