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CORRA, TURISTA, CORRA
Oceanos Índico e Atlântico margeiam trajeto de 56 km, que inclui cansativas e belas montanhas
Paisagem repõe fôlego na África do Sul
DA REDAÇÃO
A África do Sul é a pátria das ultramaratonas, corridas que vão
além da distância da maratona.
Há provas de 50 quilômetros, de
cem quilômetros, de 50 e cem milhas, de um ou vários dias. Mas a
mais famosa e populosa do mundo é a Comrades, cuja mais recente edição foi há duas semanas.
Neste ano, a corrida de 89 quilômetros, que teve cerca de 11 mil
participantes, saiu de Durban, na
costa leste, subindo montanhas
até Pietermaritzburg. Nos anos
ímpares, o percurso é feito no sentido inverso -em ambos, o atleta
tem de terminar a prova em até 12
horas ou não ganha medalha.
Quem deseja tentar a sorte no
terreno que ultrapassa os 42.195
metros encontra opções menos
cansativas que a Comrades, mas
igualmente disputadas em magnífico terreno.
Dois oceanos
A Maratona Dois Oceanos é o
melhor exemplo de combinação
de desafio com cenário esplendoroso. Nos seus 56 quilômetros,
que servem de porta de entrada
ao universo ultramaratonístico,
os corredores passam ao lado do
oceano Índico e sobem montanhas do sul da África para vislumbrar, ao longe, o Atlântico -são
os dois oceanos a que se refere o
nome da prova.
A base é a Cidade do Cabo, de
onde, ainda de madrugada, com
céu escuro, os corredores se alinham para a partida. O tiro dispara antes de o sol nascer, e mais de
6.000 atletas tomam as ruas dos
subúrbios da cidade, para logo estar em campo aberto.
A maior parte da primeira metade da prova é em terreno praticamente plano, e há muita conversa entre os atletas, que guardam energias para o desafio que
está por vir. Quando chegam perto da primeira montanha a escalar, também encontram o Índico.
O mar bate do lado da estrada. De
vez em quando, surgem pequenas
praias -uma é terreno para um
jardim de infância, outra não passa de uma microfaixa de areia,
uma terceira é mais ampla...
Mas nos corações e nas mentes
de todos está o mapa do percurso,
pois logo à frente virá Chapman's
Peak, a temida montanha em que
já ocorreram perigosos desabamentos -o último forçou por
mais de um ano a mudança do
percurso da prova, que só agora
voltou à sua rota tradicional.
A subida começa pouco antes
do km 28, mas logo desaba e daí é
morro mesmo: sobem-se 180 metros de altitude em cerca de cinco
quilômetros, ou mais de duas avenidas Brigadeiro Luis Antônio
empilhadas....
Depois da tempestade, a bonança. Os corredores, lá do alto, apreciam o horizonte e recuperam as
forças descendo seis quilômetros
até quase o nível do mar.
A metade da prova já se foi, falta
pouco, comparativamente, mas
pela frente vem um desafio ainda
mais poderoso. Os corredores
passam a marca da maratona
convencional e têm de subir de
novo. Ao longo de quatro quilômetros, a elevação em Constantia
Nek chega a 215 metros.
Mesmo os mais fortes caminham em algum ponto, ainda que
por pouco tempo. A organização,
a essa altura, oferece atendimento
que é quase um convite a desistir
da prova: em alguns postos, massagistas atendem os corredores,
tentando recuperar a musculatura para o esforço final.
O percurso já passa por áreas
suburbanas. O caminho dos corredores é livre de carros, mas em
certos pontos guardas controlam
o trânsito nas transversais. Os
postos de água são mais fornidos,
os voluntários oferecem até chocolate para quem está quase terminando a prova.
O sol cobra sua conta. Depois
dos ventos refrescantes dos picos,
os corredores ficam quase sempre
a céu aberto, enfrentando o calor
crescente. A água oferecida mal é
engolida, a maior parte é usada
para refrescar o corpo.
Agora já há bastante gente ao
longo do caminho, os espectadores festejam, incentivam. No céu,
aviões de uma esquadrilha da fumaça sul-africana escrevem "56
K", a distância da prova. E quem
ainda está na trilha conta os metros para o final, junta as fibras
musculares e corre para ouvir o
aplauso do público que enche as
arquibancadas montadas no estádio da Universidade da Cidade do
Cabo, onde tudo termina.
Cada corredor é recebido como
um vitorioso e ganha refrigerante,
sanduíche, frutas e café. Mas o
mais importante eles levam no
peito: a medalha de ultramaratonista.
(RODOLFO LUCENA)
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