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700 ANOS NA COSTA
Família principesca começou com militares disfarçados de monges ocupando o castelo de Mônaco
Ardil deu início à soberania dos Grimaldi
especial para a Folha
Imagine se aquela família quatrocentona, descendente da mais
fina escória de Portugal, colocasse
a figura de um degredado no brasão... Ou se aquela outra, que enriqueceu a partir da venda de gordura animal, elegesse um porco, ou
pior, uma lata de banha de porco,
como símbolo heráldico...
Pois os Grimaldi, a principesca
família que governa Mônaco há
700 anos, não se importaram nem
um pouco com o que a vizinhança
ia pensar e colocaram no brasão as
figuras de dois religiosos armados
de espadas. Foi assim que Francesco Grimaldi conquistou o rochedo
de Mônaco no inverno de 1297.
Numa noite de janeiro, um grupo de religiosos encapuzados pediu abrigo no castelo de Mônaco,
ocupado pelos genoveses desde
1162. Na verdade, eram membros e
soldados da família Grimaldi,
também da República de Gênova,
então dividida por lutas internas.
Abriram-se as portas, e os ocupantes foram trucidados pelos
"religiosos", que vestiam armaduras e portavam espadas sob as
vestes. Eram comandados por
Francesco Grimaldi, conhecido,
adequadamente, como "Il Malizia" (O Astúcia). Desde então,
com algumas interrupções, os Grimaldi dão as cartas em Mônaco.
Il Malizia é o nome do iate do
príncipe Rainier 3º, mais uma prova de que os Grimaldi não se importam muito com a opinião
alheia. Ou estão mudando? No
brasão, junto às figuras dos religiosos, consta a frase latina "Deo
Juvante" (com a ajuda de Deus).
Os Grimaldi lideravam os guelfos (partidários do papado e opositores dos gibelinos) e descenderiam de Otto Canella, alto dignitário genovês no século 12. Outras
fontes recuam mais e afirmam que
remontam a Grimoaldo, ministro
de Childeberto 3º, rei da Nêustria e
da Borgonha no século 8º.
Extorsão
Rainier 1º foi o primeiro senhor
de Mônaco e deu sequência ao que
os genoveses faziam havia décadas: cobrar taxas dos navios em
trânsito e outras modalidades de
extorsão. Essa prática, séculos depois, foi reconhecida como um direito pelo rei Carlos 8º, da França.
Rainiers, Augustins, Honorés,
Florestans, a história dos senhores
de Mônaco prosseguiu sem maiores sobressaltos, salvo eventuais
questionamentos de seu domínio
sobre o rochedo e as cidades vizinhas. Para evitar danos, se protegeram à sombra dos poderosos.
No século 16, aliaram-se aos espanhóis -quando ganharam o título de príncipes. No século seguinte, com a decadência da Espanha, voltaram à esfera francesa.
Reizinhos de Mônaco não se importavam com o que pensavam
deles. A princesa Charlotte-Catherine Grimaldi, que frequentou a
corte de Luís 14, foi um exemplo.
"Dizia-se", afirma Robert Lacey
em "Grace", biografia de Grace
Kelly, "que a 'Madame de Mônaco' havia tido aventuras amorosas
com homens e com mulheres..."
Um dos homens era o Rei-Sol.
Outro exemplo foi o príncipe
Rainier 1º, que, segundo a lenda,
raptou e violentou uma donzela
dos Países Baixos. Ela lançou-lhe
uma maldição: "Nunca mais um
Grimaldi encontrará a verdadeira
felicidade no casamento".
A história de divórcios, separações e mortes na família parece dar
razão à "maldição dos Grimaldi".
(FEDERICO MENGOZZI)
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