São Paulo, segunda, 28 de julho de 1997.



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700 ANOS NA COSTA
Família principesca começou com militares disfarçados de monges ocupando o castelo de Mônaco
Ardil deu início à soberania dos Grimaldi

especial para a Folha

Imagine se aquela família quatrocentona, descendente da mais fina escória de Portugal, colocasse a figura de um degredado no brasão... Ou se aquela outra, que enriqueceu a partir da venda de gordura animal, elegesse um porco, ou pior, uma lata de banha de porco, como símbolo heráldico...
Pois os Grimaldi, a principesca família que governa Mônaco há 700 anos, não se importaram nem um pouco com o que a vizinhança ia pensar e colocaram no brasão as figuras de dois religiosos armados de espadas. Foi assim que Francesco Grimaldi conquistou o rochedo de Mônaco no inverno de 1297.
Numa noite de janeiro, um grupo de religiosos encapuzados pediu abrigo no castelo de Mônaco, ocupado pelos genoveses desde 1162. Na verdade, eram membros e soldados da família Grimaldi, também da República de Gênova, então dividida por lutas internas.
Abriram-se as portas, e os ocupantes foram trucidados pelos "religiosos", que vestiam armaduras e portavam espadas sob as vestes. Eram comandados por Francesco Grimaldi, conhecido, adequadamente, como "Il Malizia" (O Astúcia). Desde então, com algumas interrupções, os Grimaldi dão as cartas em Mônaco.
Il Malizia é o nome do iate do príncipe Rainier 3º, mais uma prova de que os Grimaldi não se importam muito com a opinião alheia. Ou estão mudando? No brasão, junto às figuras dos religiosos, consta a frase latina "Deo Juvante" (com a ajuda de Deus).
Os Grimaldi lideravam os guelfos (partidários do papado e opositores dos gibelinos) e descenderiam de Otto Canella, alto dignitário genovês no século 12. Outras fontes recuam mais e afirmam que remontam a Grimoaldo, ministro de Childeberto 3º, rei da Nêustria e da Borgonha no século 8º.
Extorsão
Rainier 1º foi o primeiro senhor de Mônaco e deu sequência ao que os genoveses faziam havia décadas: cobrar taxas dos navios em trânsito e outras modalidades de extorsão. Essa prática, séculos depois, foi reconhecida como um direito pelo rei Carlos 8º, da França.
Rainiers, Augustins, Honorés, Florestans, a história dos senhores de Mônaco prosseguiu sem maiores sobressaltos, salvo eventuais questionamentos de seu domínio sobre o rochedo e as cidades vizinhas. Para evitar danos, se protegeram à sombra dos poderosos.
No século 16, aliaram-se aos espanhóis -quando ganharam o título de príncipes. No século seguinte, com a decadência da Espanha, voltaram à esfera francesa.
Reizinhos de Mônaco não se importavam com o que pensavam deles. A princesa Charlotte-Catherine Grimaldi, que frequentou a corte de Luís 14, foi um exemplo. "Dizia-se", afirma Robert Lacey em "Grace", biografia de Grace Kelly, "que a 'Madame de Mônaco' havia tido aventuras amorosas com homens e com mulheres..." Um dos homens era o Rei-Sol.
Outro exemplo foi o príncipe Rainier 1º, que, segundo a lenda, raptou e violentou uma donzela dos Países Baixos. Ela lançou-lhe uma maldição: "Nunca mais um Grimaldi encontrará a verdadeira felicidade no casamento".
A história de divórcios, separações e mortes na família parece dar razão à "maldição dos Grimaldi".
(FEDERICO MENGOZZI)



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