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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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MAPA DA LUSOFILIA

De norte a sul, nos 313 km entre as duas cidades, avistam-se vilas, ruínas e castelos

Graça polvilha rota Porto-Lisboa

Fotos Heloisa Lupinacci/Folha Imagem
 

Acima loja que vende no varejo e no atacado no Porto; ao lado, varal ornado com as cores azul e branco do Futebol Clube do Porto


HELOISA LUPINACCI
ENVIADA ESPECIAL A PORTUGAL

Lisboa e Porto são as duas primeiras cidades que aparecem na cabeça quando o assunto é Portugal. Mas, adaptando a célebre frase do bardo inglês, há mais coisas entre Porto e Lisboa do que supõe nossa vã ascendência portuguesa. E essas coisas vão além do bacalhau, do vinho e das mulheres de bigode vestidas de preto.
O estereótipo de um Portugal velho, voltado para o mar, com varais nas janelas das casas, é uma pequena parcela do que se encontra em uma visita à terra dos nossos descobridores.
O bacalhau merece ser consumido em quantidades colossais, mas, além dele, há linguiças, carne de porco, doces de ovos e os mais maravilhosos tipos de queijo, curados e amanteigados, suaves ou de gosto forte, de vaca ou de ovelha, ou dos dois juntos.
Partir de São Paulo para o Porto e rumar, de carro, até Lisboa, parando em qualquer cidade que aparecer no caminho, é conhecer, a cada quinze minutos, uma pequena e engraçada cidade.
Note a peculiaridade do uso do adjetivo engraçado: em Portugal, engraçado não é apenas aquilo que faz rir, mas aquilo a que, aqui, chamamos de gracioso. Assim, se alguém disser "Que vestido engraçado", fique tranquilo, você não está provocando risos.
No Porto, antes de seguir em direção ao sul do país, vale ir para o oeste e conhecer a região demarcada do Douro, onde são cultivadas as uvas que serão usadas na produção do vinho do Porto, mundialmente reconhecido como um símbolo de Portugal e de boa vida.
Entre Porto e Lisboa, um ponto obrigatório se impõe: Coimbra. A vida universitária na cidade milenar cria um ambiente quase mágico, no qual roupas ultramodernas e revistas independentes são vendidas em casas antiquíssimas, em ladeiras e em escadarias, rodeadas de lojas de suvenires típicos.
Ruínas, castelos e vilas pipocam numa extensão de 313 quilômetros a ser percorrida entre as duas cidades, que, por sinal, sofrem de uma rixa parecida com a das nossas São Paulo e Rio de Janeiro.
Lisboa é ensolarada e agitada, além de ser a capital. Porto é o pólo econômico do país, mais rico e mais frio. Os moradores do Porto chamam os lisboetas de alfacinhas, fazendo troça dos hábitos mais naturebas do sul do país. Já os lisboetas chamam os portuenses de tripeiros.
A explicação vem em duas versões, uma delas cheia de história. Conta-se que a cidade ofereceu toda a carne que tinha, em 1415, para apoiar uma armada mandada para conquistar Ceuta, e sobraram apenas as tripas, que eles comiam. Então eles ficaram sendo os tripeiros. Mas há quem reduza a explicação: no Porto se come miúdos, o que não é tão comum no sul. Pronto.
E esse "pronto", no final da frase anterior, é tipicamente português. A palavra aparece em qualquer explicação dada por um português. Por exemplo: a alheira, linguiça típica da região de Trás-os-Montes, é feita com pão, alho e carne de caça. Pronto.
Óbidos e Ourém são outras cidades de visitação obrigatória. Há que se entrar nelas para viver a experiência de estar em cidades amuralhadas, dentro do que era um castelo. Para quem viu seu passado de ocas ser apagado pela colonização portuguesa em 1500, é emocionante entrar numa cidade que conserva suas características como há quase mil anos.
Em Tomar, um convento mistura o descobrimento do Brasil, as cruzadas, a maçonaria e o sistema bancário.
Em cada canto há uma história, um prato delicioso e uma taça de vinho, quase sempre feito com algum tipo de uva cujo nome nos é desconhecido.
Há diversas castas de uvas que nascem exclusivamente em Portugal. Elas dão origem a vinhos brancos leves ou tintos fortes. Em algumas regiões, como na Estremadura, fabricantes experimentam a mistura de castas portuguesas e uvas francesas em vinhos.
E o melhor de tudo: embora haja expressões diferentes, não é difícil entender os portugueses. Eles também nos entendem com facilidade. E os preços em geral são alguns dos mais baixos da Europa ocidental.


Heloisa Lupinacci viajou a convite do Icep (Escritório Comercial e de Turismo da Embaixada de Portugal), da TAP e da rede Pousadas de Portugal


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