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Travões sem óleo e bicha afligem condutor
MAFALDA DE AVELAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Estava a sonhar. Atravessei o
Atlântico e cheguei. Cheguei e
aluguei um automóvel. Não quis
viajar, no meu sonho, de autocarro, tampouco de carrinha. Mas,
sim, de automóvel.
Ninguém entende bem o porquê, mas a liberdade de conduzir
um automóvel, de pedir boleia,
não tem limites. Mas o perigo
existe. Você pode apanhar uma
boleia errada. Você pode andar
em sentido contrário. Claro está
que não estamos em Inglaterra,
mas estamos na Europa e sem
querer ter que parar num engarrafamento onde a bicha é tão
grande que você simplesmente
corre o risco de acordar.
Mais ainda, você pode ter a sorte ou a pouca sorte, dependendo
das circunstâncias, de colocar a
marcha a trás em vez da primeira.
E cuidado. A rua pode ter apenas
um sentido e pode estar cheia de
buracos, o que obviamente ajuda
a fazer aumentar as bichas.
Perante um filme desses, nem
pense em não colocar óleo nos
travões. Os travões são essenciais
para qualquer uma dessas situações. Situações essas que podem
estar na origem de uma notificação por má condução. E até o senhor polícia lhe pode pedir a carta
de condução, carta esta que convém não ter sido escrita pela mãezinha. Perante uma situação dessas você está simplesmente a leste
do paraíso. Está perdido sem eira
nem beira em pleno Algarve, Beira Alta ou Alto Douro numa estrada esburacada ou numa auto-estrada financiada pelos fundos
europeus. Por tudo.
Por tudo deixe-se ir. Mas coloque o cinto de segurança, conduza com juizinho, dê prioridade
nos cruzamentos, coloque o pisca
à direita ou à esquerda (conforme
o sentido que pretenda tomar),
não se esqueça de obedecer à sinalização de trânsito, aos semáforos, respeite o encarnado, não ultrapasse com o traço contínuo e,
por favor, não se esqueça de encher o depósito na bomba de gasolina mais próxima de si.
E, se estiver sem óleo, água ou
mesmo gasóleo, pode acordar. E,
acabar por não chegar. Por não
chegar ao outro lado do Atlântico,
à terrinha comandada pelo premiê Durão Barroso, ao país lindo
onde a língua é a mesma, mas onde as palavras têm diferentes significados. Tantos. Tantos quantos
os sonhos. O sonho comanda o
homem. Os mais aventureiros
que o digam.
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