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DESVELANDO A ANTIGA PÉRSIA
Minaretes são restritos a muçulmanas, mas gorjeta garante subida a não-religiosas
No deserto, Yazd é pontuada por torres de templo e de vento
NO IRÃ
A milenar Yazd surpreende
com sua vibração e a improvável
existência em meio a um deserto
monótono e implacável. É fácil
perder-se em seu labirinto de estreitas aléias, entre muralhas de tijolos dourados e paredes avermelhadas de adobe -e talvez seja esse o melhor meio de conhecer essa cidade-oásis, construída sobre
uma imensa planície de areia.
Do topo dos minaretes da esguia mesquita Jame, que domina
a paisagem da cidade velha, os telhados das construções baixas na
periferia mesclam-se, em seus
tons de terra, com os desertos de
Lut e Kavir. Uma nuvem de poeira confunde os olhos, que mal
conseguem distinguir as montanhas que dominam o horizonte a
sudoeste e a nordeste, fechando o
extenso vale.
Pela regra, apenas mulheres religiosas podem apreciar essa vista
singular, embora alguns longos
minutos de conversa com o guardião da mesquita e uma pequena
gorjeta garantam às não-adeptas
do islã o mesmo privilégio. É vetada aos homens a entrada para as
claustrofóbicas escadarias que
conduzem ao topo dos minaretes,
os mais altos da Pérsia.
Resta a eles a opção de visitar o
pátio central da mesquita, que
presenteia o visitante com suas
paredes adornadas com mosaicos
de azulejos azuis e motivos geométricos. Ou ainda subir um dos
minaretes da mesquita Amir
Chakhmaq, que, apesar de mais
baixos, são igualmente impressionantes -mesmo se vistos de baixo, refletidos no espelho-d'água
propositalmente construído em
frente ao complexo.
Excluídos mesquitas e seus minaretes, a silhueta plana de Yazd
só é interrompida pelas tradicionais torres de vento que se erguem em direção ao céu, tentando capturar a mais leve brisa que
possa aliviar o calor árido do deserto, em uma espécie de ar-condicionado natural. Sob o chão, túneis interligam antigos reservatórios de água e ajudam a refrescar
as casas escondidas entre os muros de barro.
Mas o que torna Yazd realmente
singular são seus templos de fogo,
com chamas que queimam ininterruptamente há mais de 1.500
anos, embora nem sempre no
mesmo lugar.
Zoroastrismo
Anteriormente à chegada do islã
à Pérsia, surgiu ali, das pregações
do profeta Zoroastro (também
conhecido como Zaratustra),
uma das mais antigas religiões
monoteístas do mundo, o zoroastrismo. Baseada em teologia complexa e princípios simples, que
pregam bons pensamentos, bom
discurso e boas ações, tornou-se a
crença dos lendários reis Dario e
Ciro, que agradeciam ao deus da
luz, Ahura Mazda, suas vitórias.
Acreditando que a alma deixa o
corpo três dias após a morte, por
séculos os zoroastristas abandonaram seus mortos à mercê das
aves de rapina em duas pequenas
elevações nos arredores de Yazd,
conhecidas como "torres do silêncio". A prática foi abandonada no
início do século 20, mas ainda hoje fragmentos de ossos humanos e
ruínas de edifícios religiosos
atraem turistas.
Para quem imagina que Yazd e
sua antiga religião estão perdidos
no tempo, vale lembrar que os zoroastristas defendem a igualdade
entre os sexos, a preservação da
natureza e a proteção aos animais
e condenam qualquer tipo de
opressão. Assim falou Zaratustra.
(ALB e CV)
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