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O SOL É UMA FESTA
Escritor morou em Key West quando jovem, mas a cidade explora imagem madura na sua casa-museu
Hemingway viveu uma década nas Keys
do enviado especial às Keys
Quando Ernest Hemingway chegou a Key West, em 1928, tinha 29
anos e vinha de Cuba com a mulher, Pauline Pfeiffer, para uma estada de seis meses. Acabou vivendo dez anos na cidade.
O romancista da geração perdida
morou, a partir de 1931, num sobrado com paredes de coral no número 907 da rua Whitehead, casa
que funciona como museu desde
1964 (aberto diariamente das 9h às
17h, tel. local 294-1575).
O museu é completo até demais,
já que exibe uma máquina de escrever -embora se saiba que Hemingway só escrevia à mão.
Dos bares que frequentou, o
Sllopy Joe's e o Capitain Tony's Saloon, na rua Duval, ainda vivem
em festa explorando a
imagem
mais conhecida de Hemingway,
de barba e
cabelos grisalhos.
O curioso
é que o Hemingway
que morou
no extremo
sul da Flórida até 1938
era um jovem de bigode discreto, que havia escrito "O Sol Também se Levanta" (1923) e descoberto a fama literária em 1926.
Em Key West, seguia as pegadas
de um amigo, o escritor John Dos
Passos, que conheceu as Keys na
década de 20 e dizia que viajar na
ferrovia que Henry Flager construiu era "flutuar num sonho".
Um escritor-personagem
Nascido em Oak Park, Illinois,
Ernest Miller Hemingway era filho
de um médico e, desde cedo,
acompanhou o pai em viagens a
territórios indígenas para caçadas
e pescarias.
Deixou a escola aos 15 anos e lavou pratos em restaurantes pobres
do subúrbio de Chicago.
A vontade de escrever -e de se
tornar uma personalidade literária- fez com que Hemingway
procurasse emprego como repórter no "Kansas City Star".
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18), teve seu alistamento
recusado. De olho no estrelato literário e nas histórias do front, o escritor não tinha boa visão.
Mesmo assim guiou uma ambulância na Europa em guerra para a
Cruz Vermelha e, em 1918, em Fossalta di Piave, na fronteira entre
Itália e Áustria, foi ferido e transportado a um hospital de Milão.
Mesmo machucado, teve forças
para apaixonar-se por uma enfermeira sete anos mais velha, Agnes
Hannah von Kurowsky.
Quando o namoro azedou, Hemingway voltou aos EUA e se casou pela primeira vez.
Mudou então para a França, com
a mulher, onde trabalhou para o
jornal "Toronto Star" e conheceu
os escritores que menciona em
"Paris é uma Festa": a poeta Gertrud Stein e F. Scott Fitzgerald.
Mas Hemingway sentia saudades
do front -que rende histórias e
fama literária.
Foi por isso que percorreu as zonas de conflito da
Guerra Civil Espanhola lutando ao
lado dos legalistas, esteve na
guerra greco-turca, aplaudiu a revolução em Cuba
e envolveu-se na
Segunda Guerra
Mundial.
Com tantas aparições bombásticas, Hemingway
cunhou a aura de
mito, de um escritor que foi personagem de seu
tempo.
Também foi fotografado em safáris na África, em pescarias oceânicas entre Cuba e Key West, vendendo a imagem do caçador de
emoções.
Seus escritos fazem parte desse
universo, falam do tema da morte
como um ritual e contam a história
de homens duros. E foram essas
histórias que renderam ao romancista o Pulitzer de 1953 e o Nobel de
Literatura em 1954.
Com uma personalidade exuberante, o autor de "Por Quem os
Sinos Dobram" e "Adeus às Armas" colecionou amantes e amigos com a mesma velocidade que
conquistou desafetos.
J. Edgard Hoover, o chefão do
FBI, foi um deles. Fichado como
"comunista e bêbado", Hemingway chamava essa polícia federal
de "Gestapo americana".
Talvez torturado pela chegada da
velhice, o romancista foi vítima de
si mesmo. Entusiasta das touradas,
do boxe e das brigas de galo, Hemingway suicidou-se com um tiro
de espingarda a 2 de julho de 1961,
numa fazenda de Ketchum, Idaho.
(SILVIO CIOFFI)
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