|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"MEA CUBA"
Pagando diárias de até US$ 30, turista conhece o dia-a-dia dos nativos e como eles se viram com baixos salários
Visitante decifra a ilha em casa de família
CACÁ MONTEIRO
FREE-LANCE PARA FOLHA
O modo mais prático de decifrar
os segredos de Cuba é hospedar-se em uma casa de família. Viver
"a la cubana", como dizem os moradores da ilha de Fidel, revela ao
turista um lado que o governo se
empenha em esconder.
Existem famílias cubanas que
encontraram em suas próprias
casas um meio de aumentar sua
renda mensal, alugando quartos
para estrangeiros a diárias bem
mais baratas do que as praticadas
por hotéis (de US$ 20 a US$ 30).
As casas estão todas registradas
no governo. Isso proporciona
maior segurança aos turistas e
também permite à administração
cobrar impostos -paga-se mensalmente US$ 200 de imposto por
quarto à disposição dos turistas,
independentemente de sua ocupação. Outra taxa, anual, é cobrada por cada turista recebido.
A aventura começa em achar
uma "casa particular", pois não
há um sistema de divulgação do
serviço. A prática, embora prevista por lei, não é incentivada. Ao ligar para o consulado cubano em
São Paulo, a informação é a de
que turistas não podem se hospedar em casas de famílias, que estariam destinadas a estudantes.
Além disso, para obter o visto, é
necessário pagar a diária de um
hotel adiantado e apresentar o recibo no consulado. A dica, então,
é pagar um hotel para o primeiro
dia e mudar-se depois para a casa.
Estando no Brasil, a dica para
encontrar uma casa de família em
Cuba é consultar algum guia internacional e fazer a reserva, se
você quiser conforto. Mas procurar uma casa, já estando em Cuba,
é tarefa fácil: as casas registradas
pelo governo exibem um triângulo azul e branco com os dizeres
"arrendador inscripto". É só tocar
a campainha e falar com o dono. É
bom olhar o quarto e acertar o
preço antes de se hospedar.
Em Havana, pode-se achar um
quarto amplo, com ar-condicionado, frigobar, TV, banheiro próprio, limpeza diária e café, na
charmosa Havana Velha, por US$
30. Já no decadente centro de Havana, pelo mesmo valor, encontram-se quartos pouco indicados.
Modo de vida
Uma vez encontrada a casa, chega o momento de realmente conhecer Cuba. Quase todas as famílias oferecem refeições típicas
crioulas a preços baixos ou podem indicar saborosos "paladares" (restaurantes caseiros).
O modo de vida de cada cubano
é por si só fascinante. Como eles
são muito abertos, em alguns minutos você descobre como se viram para conseguir mais dinheiro
do que o baixíssimo salário mensal, onde os nativos se divertem à
noite, as crenças da santeria (religião de origem africana), como as
jovens arrumam roupas importadas e ainda os mercados onde eles
abastecem suas despensas, inclusive com as famosas lagostas
-encontradas mesmo em temporada de pesca proibida.
Cada família é uma experiência
única. Existem as que o levam a
passeios em praias onde os cubanos podem entrar (que não têm
nada a ver com as praias turísticas
do Caribe) pelo prazer da companhia de um estrangeiro. Outros o
fazem em troca de uns dólares. E
existem ainda os que passam as
tardes em frente à televisão, assistindo a programas de propaganda
política e reclamando do regime.
Há os que contam que foram
para a prisão quando, em 1994, foram capturados tentando fugir
em grandes câmaras de pneu de
trator, durante o êxodo dos balseiros. Muitos falam de parentes
exilados nos EUA, enquanto outros, em geral os mais velhos, narram como a revolução lhes deu
melhores condições de vida.
Pode-se até encontrar um marinheiro nostálgico, olhando o mar
sentado no muro do Malecón,
pensando nos amores que teve no
Rio quando trabalhava no mar.
Enfim, além de ser mais econômico, viver "a la cubana" é essencial para quem quer descobrir o
que há além dos mojitos, da salsa
e das praias paradisíacas de Cuba.
Texto Anterior: Cafés e hotel ecoam ginga cubana Próximo Texto: Museu guarda originais de Hemingway Índice
|