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MODOS CAPIXABAS
Panela de barro artesanal tem status de ingrediente
Em Goiabeiras, um bairro de Vitória, paneleiras fabricam o utensílio que prepara a legítima moqueca
Maurício Mercer
![](../images/x2905200801.jpg) |
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Peças produzidas pela Associação das Paneleiras de Goiabeiras são queimadas em fogueira feita de lenha, que chega a registrar 600°C; depois da queima, as panelas recebem a tinta de tanino
MÁRCIO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL AO ESPÍRITO SANTO
Está na primeira página do
"Livro de Registro de Saberes
de Patrimônio Imaterial de
Bens Culturais do Brasil": "Registro número hum; bem cultural: ofício das paneleiras de
Goiabeiras. Descrição: é a prática artesanal de fabricação de
panelas de barro, atividade econômica culturalmente enraizada na localidade de Goiabeiras,
bairro de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo."
Tombadas em novembro de
2002 pelo Iphan -o Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- como patrimônio imaterial brasileiro, essas panelas de barro são mais
do que um utensílio para o preparo da moqueca e da torta capixabas. Elas têm status de ingrediente: sem a panela, a receita fica diferente.
O bairro de Goiabeiras, onde
são produzidas, serve de ponto
de partida para conhecer o trajeto da moqueca capixaba, que
começa na extração do barro
no vale do Mulembá e acaba,
com sorte, na barriga do turista.
As panelas são produzidas de
acordo com técnicas indígenas,
principalmente da tribo una.
Nada de europeu ou africano
foi incorporado à prática, autenticamente indígena.
Uma vez em Vitória, siga para
o bairro de Goiabeiras Velha,
onde ficam as paneleiras.
A origem de tudo fica no vale
de Mulembá, de onde os homens extraem o barro, que, em
bolotas, é levado para Goiabeiras. Também coletam a casca
do mangue-vermelho, de onde
será extraída a tintura de tanino usada ao fim da produção
desses utensílios.
Nos quintais coletivos de
Goiabeiras, barro e cascas seguem caminhos distintos.
As bolotas de terra são pisadas -depois de terem sido retirados dela gravetos, pedrinhas
e outras sujeiras- para ficar no
ponto de serem modeladas.
A casca da árvore é socada,
macerada e posta de molho.
Depois desse processo, a tinta
está ali, diluída no líquido.
Com tudo à mão, é hora de
puxar -ou levantar- a panela.
Ou seja, de modelar cada uma.
Isso é feito sobre uma tábua,
com as mãos. Depois são moldadas as alças, aplicadas com os
dedos e coladas com água. O
acabamento é feito com facas e
com pedras do rio, que deixam
a superfície da panela lisa.
Modeladas e polidas, as peças
vão para a queima, em fogueiras. Depois de meia hora de fogo, estão prontas para o açoite.
Com a chamada vassourinha
de muxinga -espécie de planta
da região- a tinta de tanino é
aplicada sobre a peça. É essa
tinta que deixa as peças pretas.
Os formatos mais comuns
são o que é chamado de frigideira, panela rasa para a moqueca e para a torta capixaba; o
caldeirão fundo para sopas; e o
médio, perfeito para pirões.
Todas as panelas feitas pela
Associação das Paneleiras de
Goiabeiras têm um selo de autenticidade, trazendo todas as
informações sobre a panela.
Marca registrada
Panela em mãos, é hora de
preparar a moqueca capixaba.
Puxando o badejo para o lado
deles, os nativos do Espírito
Santo asseveram: "Moqueca é
capixaba, o resto é peixada". É
preferencialmente com badejo
que se prepara a receita -também pode ser com pargo e robalo. Em postas, coloque o peixe
para marinar com sal e limão.
Na panela, vai uma camada
de óleo, azeite, colorau, cebolinha, coentro, cebola e tomate,
tudo picado. Uma camada com
as postas do peixe. E outra com
os temperos por cima.
Há algumas regras: nada de
adicionar água, nem pense em
mexer no peixe e não deixe ferver. Um pirão vai bem. Portanto, guarde a cabeça do peixe.
MÁRCIO SAMPAIO viajou a convite da rede
Bristol Hotels e da operadora Tourlines
PANELEIRAS -
A Associação das Paneleiras de
Goiabeiras fica na rua das Paneleiras, 55; tel.: 0/xx/27/3327-0519. Informações sobre o tombamento:
http://portal.iphan.gov.br
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