|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTE SALVA
Em Berna, projeto do genovês Renzo Piano inaugurado em junho ampara 4.000 obras do pintor alemão
Praticamente suíço, Paul Klee ganha museu na capital
DA ENVIADA ESPECIAL À SUÍÇA
A Confederação Helvética se redimiu. Tudo graças às três ondas
que se erguem paralelas a uma auto-estrada, a dez minutos do centro de Berna. O projeto arrojado
do arquiteto genovês Renzo Piano é a sede do Centro Paul Klee,
mestre da pintura que a própria
Suíça impediu de ser suíço.
No museu, inaugurado em 20
de junho deste ano, repousam
4.000 obras de Klee (1879-1940),
antes expostas no Museu de Arte
de Berna ou guardadas pela família do pintor. O mais curioso são
as bases das sinuosas curvas, que
ficam debaixo da terra -solo que
presenciou o nascimento de Klee,
em Münchenbuchsee, na região
de Berna.
Entretanto a origem do pai, alemão, fez que Klee ganhasse a nacionalidade alemã, em vez da suíça. Viveu na capital até 1898,
quando imigrou para a terra paterna, onde conquistou notoriedade no cenário artístico da época: tornou-se professor da revolucionária escola de arte Bauhaus,
em Weimar, e vendia quadros a
preço razoável, o que lhe permitia
uma vida burguesa e confortável.
Mas em 1933, sem conseguir administrar a carreira artística em
meio aos compromissos docentes, Klee muda de emprego. Mal
iniciara suas funções como professor da Academia de Artes em
Düsseldorf, teve de retornar, exilado, para a Suíça, perseguido pelos nazistas -que haviam assumido o poder naquele ano.
Pouco tempo depois de chegar a
Berna, o pintor pediu sua naturalização, que lhe foi negada -pois
a residência por pelo menos cinco
anos ininterruptos no país era
condição para o requerimento da
cidadania. Passada meia década,
Klee tenta novamente, mas morre
uma semana antes do julgamento
do pedido, em 1940.
Os CHF 110 milhões (R$ 192 milhões) gastos no prédio de cerca
de 150 metros de comprimento de
Piano parecem ter sido uma desculpa à altura. Com "lotação" em
torno de 200 obras, a sala do acervo permanente recebe trabalhos
diferentes a cada seis meses. No
andar de baixo, outro espaço abriga mostras temporárias -de recortes de obras de Klee ou de artistas que dialogam com ele.
Uma polêmica: não houve licitação para a escolha do arquiteto.
Um médico de Berna, que doou o
terreno e CHF 40 milhões (R$ 70
milhões) para a construção do
centro, exigiu que o italiano encabeçasse a obra.
Polifonia das cores
Caminhar lentamente por entre
as obras do pintor revela o significado do termo polifonia da cores,
criado pelo também músico Klee
em suas aulas na Bauhaus. Sem
receber rótulo de nenhum movimento artístico, ele pintava o homem e suas interações com o místico e a natureza, abusando das
experiências na paleta.
Em formas geométricas, Klee
enchia a tela (ou às vezes, meras
páginas de jornal) com tons fortes
e contrastantes, que prendem o
olhar. Ao todo, foram 10 mil trabalhos, todos numerados pelo
metódico autor; entre eles, alguns
desenhos da infância. Mil surgiram só em 1939, ano anterior a
sua morte -e que são alvo da exposição temporária em cartaz.
Num dos cantos da sala do acervo permanente, há folhas e líquens colecionados por ele -por
terem formas harmônicas. Em
outro, estão os instrumentos do
maestro, abrigados em uma vitrine. São pincéis, facas e os suportes
que usava para misturar as tintas:
delicadas conchas colhidas do
mar.
(JULIANA DORETTO)
Centro Paul Klee - Monument im
Fruchtland 3. Funciona de terça a domingo, das 10h às 17h; às quintas, das 10h às
21h; Ingresso: CHF 14 (R$ 24), CHF 6 (R$
10,50; de seis a 16 anos) e CHF 12 (R$ 21;
idosos e estudantes). Linha de ônibus:
12; www.zpk.org.
Texto Anterior: Teoria tornou relativo o que era absoluto Próximo Texto: Suíça salva: Bucolismo aquece passeio entre pedras Índice
|