São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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ARTE SALVA

Em Berna, projeto do genovês Renzo Piano inaugurado em junho ampara 4.000 obras do pintor alemão

Praticamente suíço, Paul Klee ganha museu na capital

DA ENVIADA ESPECIAL À SUÍÇA

A Confederação Helvética se redimiu. Tudo graças às três ondas que se erguem paralelas a uma auto-estrada, a dez minutos do centro de Berna. O projeto arrojado do arquiteto genovês Renzo Piano é a sede do Centro Paul Klee, mestre da pintura que a própria Suíça impediu de ser suíço.
No museu, inaugurado em 20 de junho deste ano, repousam 4.000 obras de Klee (1879-1940), antes expostas no Museu de Arte de Berna ou guardadas pela família do pintor. O mais curioso são as bases das sinuosas curvas, que ficam debaixo da terra -solo que presenciou o nascimento de Klee, em Münchenbuchsee, na região de Berna.
Entretanto a origem do pai, alemão, fez que Klee ganhasse a nacionalidade alemã, em vez da suíça. Viveu na capital até 1898, quando imigrou para a terra paterna, onde conquistou notoriedade no cenário artístico da época: tornou-se professor da revolucionária escola de arte Bauhaus, em Weimar, e vendia quadros a preço razoável, o que lhe permitia uma vida burguesa e confortável.
Mas em 1933, sem conseguir administrar a carreira artística em meio aos compromissos docentes, Klee muda de emprego. Mal iniciara suas funções como professor da Academia de Artes em Düsseldorf, teve de retornar, exilado, para a Suíça, perseguido pelos nazistas -que haviam assumido o poder naquele ano.
Pouco tempo depois de chegar a Berna, o pintor pediu sua naturalização, que lhe foi negada -pois a residência por pelo menos cinco anos ininterruptos no país era condição para o requerimento da cidadania. Passada meia década, Klee tenta novamente, mas morre uma semana antes do julgamento do pedido, em 1940.
Os CHF 110 milhões (R$ 192 milhões) gastos no prédio de cerca de 150 metros de comprimento de Piano parecem ter sido uma desculpa à altura. Com "lotação" em torno de 200 obras, a sala do acervo permanente recebe trabalhos diferentes a cada seis meses. No andar de baixo, outro espaço abriga mostras temporárias -de recortes de obras de Klee ou de artistas que dialogam com ele.
Uma polêmica: não houve licitação para a escolha do arquiteto. Um médico de Berna, que doou o terreno e CHF 40 milhões (R$ 70 milhões) para a construção do centro, exigiu que o italiano encabeçasse a obra.

Polifonia das cores
Caminhar lentamente por entre as obras do pintor revela o significado do termo polifonia da cores, criado pelo também músico Klee em suas aulas na Bauhaus. Sem receber rótulo de nenhum movimento artístico, ele pintava o homem e suas interações com o místico e a natureza, abusando das experiências na paleta.
Em formas geométricas, Klee enchia a tela (ou às vezes, meras páginas de jornal) com tons fortes e contrastantes, que prendem o olhar. Ao todo, foram 10 mil trabalhos, todos numerados pelo metódico autor; entre eles, alguns desenhos da infância. Mil surgiram só em 1939, ano anterior a sua morte -e que são alvo da exposição temporária em cartaz.
Num dos cantos da sala do acervo permanente, há folhas e líquens colecionados por ele -por terem formas harmônicas. Em outro, estão os instrumentos do maestro, abrigados em uma vitrine. São pincéis, facas e os suportes que usava para misturar as tintas: delicadas conchas colhidas do mar. (JULIANA DORETTO)

Centro Paul Klee - Monument im Fruchtland 3. Funciona de terça a domingo, das 10h às 17h; às quintas, das 10h às 21h; Ingresso: CHF 14 (R$ 24), CHF 6 (R$ 10,50; de seis a 16 anos) e CHF 12 (R$ 21; idosos e estudantes). Linha de ônibus: 12; www.zpk.org.


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