São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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CIDADES HISTÓRICAS
Abandonada, estrada de ferro entre Ouro Preto e Mariana vira trilha para trekking de 17 quilômetros
Ferrovia inativa mantém turista na linha

em Minas Gerais

Há cerca de três anos, era possível viajar de Ouro Preto a Mariana (ou vice-versa) numa maria-fumaça especialmente reservada a turistas. Hoje não passa nenhum trem pelos trilhos que ligam as duas cidades, mas o caminho ainda pode ser percorrido a pé. De estação em estação, são cerca de 17 quilômetros, e a caminhada pode ser feita em cerca de cinco horas.
Compensam o esforço a beleza da paisagem e a aventura de andar sob túneis e sobre pontes de trilhos que parecem estar penduradas sobre barrancos.
Um dos trechos emocionantes é uma ponte de trilhos muito curta. Os mais medrosos podem atravessá-la de gatinhas. Como compensação, observam as estruturas de sustentação da ponte, curiosas para leigos em engenharia.
Outro pedaço temerário está quase na chegada a Mariana. Trata-se de um desabamento provocado por fortes chuvas. Como os trilhos estão pendurados por cima do enorme buraco, é preciso contornar a cratera com muito cuidado sobre um solo de terra escorregadio e à beira de uma cerca de arame farpado, que serve como corrimão aos que têm destreza suficiente para não furar os dedos.
Trilhos barrocos
Fora esses trechos, não há motivos para preocupação durante o passeio. Bicas -uma delas formada por uma folha- no meio do caminho podem matar a sua sede, árvores oferecem sombra, proteção contra a chuva ou apenas um convite para o descanso.
O cansaço não se manifesta muito se o sentido é Ouro Preto-Mariana, já que a primeira está a cerca de 350 metros acima da outra.
Preste atenção em tudo e olhe para todas as direções. Mas mantenha-se especialmente atento ao local em que está pisando. Os dormentes de madeira são bastante irregulares e podem motivar de tropeções. Por causa dessa inconstância, possuem diferentes desenhos. Eles inspiram os mais engraçadinhos a dizer que se trata de mais uma obra do Aleijadinho.
Outra desigualdade evidente é a condição dos trilhos em alguns trechos escondidos pelo acúmulo de terra ou de mato.
Também repare nas raras e antigas estações de trens. Uma delas -Passagem de Mariana- virou residência para uma família.
Mariana aparece enfim, após umas quatro horas de caminhada, mas fica para trás depois de vários passos. O caminhador percebe então que vai contornar um enorme vale, que provavelmente servia de obstáculo para tornar o caminho dos trilhos mais curto.
No meio desse trecho, uma cachoeira refresca os menos apressados. Já os famintos preferem apertar o passo para entrar logo em um restaurante qualquer de Mariana, onde, merecidamente, podem devorar um tutu à mineira ou um feijão-tropeiro.
(MARISTELA DO VALLE)



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