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"UK rules ok"
Para Sinclair, Hackney está perdendo perfil alternativo
Escritor diz que obras olímpicas e edifícios modernos estão fazendo Londres se transformar "para pior"
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES
Mobilizações de habitantes
descontentes com o modo como estão sendo levantadas, em
Londres, as estruturas da Olimpíada de 2012 têm sido recorrentes. Uma das principais vozes "do contra" é o renomado
escritor britânico Iain Sinclair,
65. Autor de "London Orbital"
e organizador de "London -City
of the Disappearances", Sinclair tem a cidade de Londres
como personagem em suas histórias de ficção e de não-ficção.
Ele acaba de lançar "Hackney - That Rose-Red Empire: A
Confidential Report" (ed. Hamish Hamilton, importado),
uma obra documental em que
reuniu depoimentos, lendas e
recordações sobre o bairro em
que vive há mais de 40 anos.
E foi em sua casa em Albion
Square, no coração de Hackney
(leste de Londres), numa das
simpáticas casinhas vitorianas
com pequenos jardins, que Sinclair recebeu a Folha para uma
entrevista exclusiva.
Ele se recuperava do susto
que levou quando um evento
de lançamento de seu livro foi
cancelado pelas autoridades
municipais de Londres. A razão? Sinclair havia escrito um
artigo para a "London Review
of Books" criticando as obras
olímpicas. "Meu livro, que é
fundamentalmente um registro sentimental sobre o bairro,
foi tomado como um libelo anti-olimpíada", diz. "Estou revoltado e triste com a destruição de coisas tradicionais da região. Mas os jogos são apenas
parte do processo em que Londres está transformando-se.
Transformando-se para pior."
Enquanto caminha por ruas
e parques locais, como o célebre London Fields, ele mostra
os espaços públicos que serão
ocupados por obras olímpicas,
e prédios de condomínio que
serão derrubados para a construção de edifícios modernos.
À beira do canal que cruza o
bairro, novos flats e lofts descaracterizam o perfil mais alternativo, e até mesmo hippie, que
o local sempre teve. Para o escritor, esses apartamentos não
combinam com a vida que costumava emanar das esquinas
agitadas e da energia que vinha
dos pubs que estão sendo fechados, derrubados ou virando
"gastro-pubs" modernos.
Sinclair mudou-se para
Hackney nos anos 60. Trabalhava no comércio local, como
vendedor de livros de segunda
mão. E começava aos poucos a
escrever suas primeiras obras.
"Naquela época, Hackney tinha muitos mercados de rua e
casas e prédios habitados por
squaters. Depois vieram os imigrantes. Paquistaneses, indianos, africanos, turcos e vietnamitas. A mistura cultural fez
com que se tornasse um local
de muita criatividade."
Sinclair aponta os grafitis como a manifestação desse caráter alternativo do bairro, uma
forma de resistência às mudanças. O famoso e misterioso grafiteiro Banksy deixou desenhos
nos muros do bairro antes de se
transformar em celebridade e
ter suas obras transportadas
para refinadas galerias de arte
(www.banksy.co.uk).
"É uma cidade que está desaparecendo, enquanto outra
nasce. Quando vejo esse processo, como tantas coisas estão
se perdendo sem que nada significativo surja, sinto que quero desaparecer também. Não
me agrada essa nova Londres."
Ainda assim, ele mantém a
rotina de caminhar pelo bairro,
observando seus habitantes e
sua dinâmica. "Andar e escrever é o que me resta. E assistir o
que vem por aí", conclui, com
um sorriso melancólico.
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