São Paulo, segunda, 30 de junho de 1997.



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POR DENTRO DAS EXPOSIÇÕES PELO MUNDO
Seurat prepara o neo-impressionismo

FEDERICO MENGOZZI
especial para a Folha

Asnières está localizada a noroeste de Paris, tem cerca de 80 mil habitantes, indústrias eletromecânicas e a fama de ser a terra natal do escritor Henri Barbusse. Subúrbio da capital, em meados do século passado foi meta de veranistas.
Na primavera de 1883, o pintor Georges-Pierre Seurat também se dirigiu a Asnières, mas não para se banhar ou velejar. Vinha aprofundando estudos sobre a cor e queria usar o cenário na composição "Banhistas em Asnières", hoje na National Gallery (Londres).
O quadro, dos mais representativos -e atuais- do século 19, é o tema da mostra Seurat and the Bathers (Seurat e os Banhistas).
Aberta a partir de quarta-feira, dia 2, no museu londrino, a exposição propõe lançar luzes sobre uma tela cujas história e significação foram esmiuçadas pela crítica.
É uma daquelas mostras que elegem uma obra-prima e, em torno dela, agrupam peças e referências que contribuíram para sua execução. Mais didático, impossível.
Seurat and the Bathers reúne 50 desenhos e pinturas do artista, mais 30 obras de mestres que o antecederam ou com ele conviveram.
Seurat pintou "Banhistas em Asnières" aos 24 anos e morreu aos 31. É um quadro com as cores mais surpreendentes do século 19, composição de seis metros quadrados que remete à ordem do renascentista Piero della Francesca.
Ainda adolescente, decidido a se tornar pintor, Seurat se interessou pelos estudos sobre cor e ótica -mais estética-, principalmente aqueles desenvolvidos pelo químico Michel-Eugène Chevreul. Foi fundo e restringiu a paleta a quatro cores básicas (azul, vermelho, amarelo e verde) e seus tons intermediários. Misturava as cores com o branco, mas nunca entre si.
A pincelada mudou. Não mais o uso da larga pincelada impressionista, mas toques, simples pontos, de cor. Seurat decompunha a imagem, o olho do espectador a remontava. Tal procedimento, aliado a formas essenciais, produziu telas serenas, quase musicais.
Surgia o pontilhismo, do qual "Banhistas em Asnières" é uma espécie de introdução -o decálogo seria "Domingo de Verão à Tarde na Ilha de la Grande Jatte", de 1884-86. Uma tela luminosa, na qual o artista se apoiava para dizer ser a "pureza do elemento espectral a pedra de toque da técnica".
Seurat and the Bathers conta a história atrás da tela e demonstra quanto foi elaborada a sua realização. Seurat deixou dezenas de estudos preparatórios, vários em exposição, a exemplo de "O Arco-Íris". E se valia de um aprendizado que incluía mestres como Poussin, Ingres, Millet e Fantin-Latour.
"Banhistas em Asnières" foi recusada no Salon Oficial e exposta no Salon des Indépendants. Descoberta por artistas e intelectuais, contribuiu para aglutinar em torno de Seurat os que consideravam esgotadas as propostas do impressionismo, propondo o neo-impressionismo. Entre outros, Pissarro, Van Gogh e Signac foram, ou tiveram fases, pontilhistas.
Seurat and the Bathers também exibe obras pintadas em Asnières por artistas como Van Gogh, Signac e Bernard, além de pinturas de Manet e Monet que retratam os subúrbios. É uma viagem ao antes, durante e depois de um grande momento da arte ocidental.

Seurat and the Bathers - National Gallery, Sainsbury Wing Entrance, Trafalgar Square, metrô Charing Cross, tel. local 0171/839-3321. Aberta de 2 de julho a 28 de setembro, de segunda a sábado, das 10h às 18h, e aos domingos, das 12h às 18h (quarta-feira, até as 20h). Ingresso: 6 libras (R$ 10,50). Crianças grátis.



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