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POR DENTRO DAS EXPOSIÇÕES PELO MUNDO
Seurat prepara o neo-impressionismo
FEDERICO MENGOZZI
especial para a Folha
Asnières está localizada a noroeste de Paris, tem cerca de 80 mil
habitantes, indústrias eletromecânicas e a fama de ser a terra natal
do escritor Henri Barbusse. Subúrbio da capital, em meados do século passado foi meta de veranistas.
Na primavera de 1883, o pintor
Georges-Pierre Seurat também se
dirigiu a Asnières, mas não para se
banhar ou velejar. Vinha aprofundando estudos sobre a cor e queria
usar o cenário na composição
"Banhistas em Asnières", hoje na
National Gallery (Londres).
O quadro, dos mais representativos -e atuais- do século 19, é o
tema da mostra Seurat and the Bathers (Seurat e os Banhistas).
Aberta a partir de quarta-feira,
dia 2, no museu londrino, a exposição propõe lançar luzes sobre
uma tela cujas história e significação foram esmiuçadas pela crítica.
É uma daquelas mostras que elegem uma obra-prima e, em torno
dela, agrupam peças e referências
que contribuíram para sua execução. Mais didático, impossível.
Seurat and the Bathers reúne 50
desenhos e pinturas do artista,
mais 30 obras de mestres que o antecederam ou com ele conviveram.
Seurat pintou "Banhistas em
Asnières" aos 24 anos e morreu
aos 31. É um quadro com as cores
mais surpreendentes do século 19,
composição de seis metros quadrados que remete à ordem do renascentista Piero della Francesca.
Ainda adolescente, decidido a se
tornar pintor, Seurat se interessou
pelos estudos sobre cor e ótica
-mais estética-, principalmente
aqueles desenvolvidos pelo químico Michel-Eugène Chevreul. Foi
fundo e restringiu a paleta a quatro
cores básicas (azul, vermelho,
amarelo e verde) e seus tons intermediários. Misturava as cores com
o branco, mas nunca entre si.
A pincelada mudou. Não mais o
uso da larga pincelada impressionista, mas toques, simples pontos,
de cor. Seurat decompunha a imagem, o olho do espectador a remontava. Tal procedimento, aliado a formas essenciais, produziu
telas serenas, quase musicais.
Surgia o pontilhismo, do qual
"Banhistas em Asnières" é uma
espécie de introdução -o decálogo seria "Domingo de Verão à
Tarde na Ilha de la Grande Jatte",
de 1884-86. Uma tela luminosa, na
qual o artista se apoiava para dizer
ser a "pureza do elemento espectral a pedra de toque da técnica".
Seurat and the Bathers conta a
história atrás da tela e demonstra
quanto foi elaborada a sua realização. Seurat deixou dezenas de estudos preparatórios, vários em exposição, a exemplo de "O Arco-Íris". E se valia de um aprendizado
que incluía mestres como Poussin,
Ingres, Millet e Fantin-Latour.
"Banhistas em Asnières" foi recusada no Salon Oficial e exposta
no Salon des Indépendants. Descoberta por artistas e intelectuais,
contribuiu para aglutinar em torno de Seurat os que consideravam
esgotadas as propostas do impressionismo, propondo o neo-impressionismo. Entre outros, Pissarro, Van Gogh e Signac foram,
ou tiveram fases, pontilhistas.
Seurat and the Bathers também
exibe obras pintadas em Asnières
por artistas como Van Gogh, Signac e Bernard, além de pinturas de
Manet e Monet que retratam os subúrbios. É uma viagem ao antes,
durante e depois de um grande
momento da arte ocidental.
Seurat and the Bathers - National Gallery, Sainsbury Wing Entrance, Trafalgar
Square, metrô Charing Cross, tel. local
0171/839-3321. Aberta de 2 de julho a 28
de setembro, de segunda a sábado, das
10h às 18h, e aos domingos, das 12h às
18h (quarta-feira, até as 20h). Ingresso: 6
libras (R$ 10,50). Crianças grátis.
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