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ESTAMPA AFRICANA
Região do delta do Okavango mescla savana com planícies alagadas, o que facilita concentração de bichos
Vida selvagem irrompe em Botsuana
FREE-LANCE PARA A FOLHA, NA ÁFRICA
"Vocês vão para Duma Tau,
não é?", pergunta o piloto do
Cessna, que se apresenta apenas
como "capitão", enquanto se prepara para decolar do aeroporto
internacional de Maun, em Botsuana, rumo ao hotel de safári no
norte do país. Diante da resposta
afirmativa, ele diz: "Boa escolha. É
minha área preferida".
Ao ser indagado sobre o motivo
da preferência, o capitão apenas ri
e diz: "Ah, é um lugar verdadeiramente selvagem. Você precisa
olhar bem por onde anda".
A resposta intrigante fica no ar.
O pequeno avião levanta vôo e
sobrevoa o delta do Okavango,
um sistema fluvial único no mundo. Na inóspita Namíbia, o verde
da planície alagada é um bálsamo.
O monomotor voa baixo. É possível ver, nas ilhas do pântano, manadas de elefantes e de búfalos.
O delta do Okavango tem origem no oeste de Angola, onde se
forma o rio Cubango. Após passar
pela Namíbia, sob o nome de Kavango, o rio entra em Botsuana e é
rebatizado de Okavango.
Há milhões de anos, o rio desaguava num grande lago, mas, devido a atividades tectônicas, o fluxo de água sofreu uma reversão, o
lago secou, e o Okavango abriu-se
num enorme leque, alagando
uma planície que, do contrário,
seria uma savana. Sem ter para
onde fluir, a água depende da evaporação para deixar a região.
O resultado é um ecossistema
único em que áreas de savana
convivem com regiões alagadas.
Quando o sul da África entra no
período de seca, o delta do Okavango atinge seu nível mais alto,
devido à água vinda das chuvas
em Angola, que caem até abril.
Diante da abundância de água e
de vegetação, o Okavango explode em fauna e é um dos paraísos
de vida selvagem da África.
Após a aterrissagem do avião,
começa o entendimento da resposta dada pelo capitão antes da
decolagem. Depois de um percurso de jipe de 20 minutos, chega-se
a Duma Tau. O acampamento fica diante de uma lagoa na reserva
de Linyanti, vizinha ao Parque
Nacional de Chobe, numa região
que não é no delta do Okavango,
mas tem traços semelhantes.
As oito tendas com banheiro e
água quente estão instaladas sobre plataformas de madeira, interligadas por passarelas, e são
hermeticamente fechadas.
A área comum também está elevada do chão, sobre palafitas, e
não tem paredes. São quatro ambientes: as salas de estar e de jantar, uma loja e um bar.
As instruções são insólitas. É
proibido andar fora das passarelas, e, após o pôr-do-sol, o visitante só pode sair da tenda acompanhado de um guia.
Não há cerca a separar o acampamento da selva. E lá vem um
elefante atravessando a lagoa. Ele
se aproxima e descansa a meio
metro da varanda, bloqueando a
passagem. Na grama, um grupo
de dez babuínos aproveita o sol da
tarde. Um filhote apronta alguma
e é repreendido com o dedo em
riste por um dos adultos. Um casal alterna-se na tarefa de tirar parasitas do corpo um do outro.
Com a chegada da noite, os babuínos fazem uma balbúrdia, gritam,
correm pelas passarelas e pulam
de árvore em árvore.
No dia seguinte, parte-se para o
primeiro safári às 7h. Menos de
uma hora depois surge um leopardo, no alto de uma árvore, saboreando um porco-do-mato
morto no dia anterior. Sem pressa, lambe a carne vermelha, fecha
os olhos, cochila um pouco, desperta e degusta a caça novamente.
Pouco depois, aparecem cães
selvagens correndo pela planície.
Seguindo a matilha, observa-se a
divisão da carcaça de um impala
recém-morto. O visitante ainda
pode conhecer os "três irmãos":
um trio de guepardos que, há
mais de dez anos, forma um time
imbatível.
(OTÁVIO DIAS)
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