São Paulo, Segunda-feira, 30 de Agosto de 1999
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QUALQUER VIAGEM
Cansado dos velhos políticos? Tente um ator!

DAVID DREW ZINGG
em Sampa

"Voz horrível, mau hálito e modos vulgares -as características do político popular." Aristófanes
Mais uma vez é hora de diversão na Gringolândia.
Está oficialmente aberta a temporada de caça política.
Está lançada a corrida para ver quem vai conquistar as indicações ao direito de concorrer nas eleições presidenciais do mágico ano 2000. Como ainda estamos no início da partida, vemos a abundância costumeira de "wannabes" (pessoas que gostariam de ganhar ou ser alguém, mas não conseguem).
Pelo lado republicano, a lista é encabeçada por George W. Bush, filho do presidente derrotado por Bill "Monica" Clinton. Bush filho é governador do Estado caubói do Texas. É conhecido como tolo, mas é imensamente popular (se vencer, será o primeiro presidente eleito a admitir ter cometido "indiscrições" na juventude -leia-se consumo de cocaína).
Na primeira prova de força política, duas semanas atrás, no Estado de Iowa, Bush saiu vencendo.
Steve Forbes, um tolo extremamente rico, abriu caminho a dólares para o segundo lugar.
Elizabeth Dole, ao conquistar a terceira posição, mostrou que a idéia de uma mulher na presidência está ganhando espaço.
O perdedor favorito de tio Dave, o homem que não sabe grafar a palavra "potato", levou um banho revigorante de água fria, chegando em último lugar. Seu nome, obviamente, é Dan Quayle e, mesmo mancando, ele continua firme na parada.

Os democratas são melhores
No campo democrata, o tema geral é o tédio em estado puro, bestificante.
O vice-presidente em exercício, Al "The Bore" ("O Chato") Gore é um chato de galochas, extremamente inteligente e bem-intencionado.
Também é o favorito ungido de Clinton.
Gore pega pesado na defesa de tudo que é bom -de ecologia e crianças à Internet. O problema é que, quando abre a boca, o público ouvinte entra em estado de sonolência politicamente induzida.
Seu rival lógico para a candidatura presidencial democrata, Bill Bradley, é a imagem espelhada da rigidez inexpressiva capaz de entorpecer a mente de quem o ouve ou vê. O Velho Guru Político Dave conhece Bradley -ambos vêm da linda parte escondida do Estado de Nova Jersey.
Ambos os rivais são oradores soporíferos, capazes de reduzir qualquer comício ou reunião política a um estado de torpor generalizado.
Como foi que ficaram assim?
A explicação provavelmente tem algo a ver com a ausência de sofrimento pessoal comum a ambos. Os dois políticos cresceram em lares prósperos, entre famílias amorosas. O pai de Gore era senador; o de Bradley, dono de um banco.
Ambos se tornaram adultos tremendamente bem-sucedidos, sem precisar enfrentar nenhuma dificuldade realmente grande.
Ambos parecem ter vidas familiares felizes.
A ausência de dor oculta os distingue de gente como Bill Clinton, que sobreviveu a uma família disfuncional e marcada por separações.
Gore e Bradley não têm índole agressiva, resultante de algum sentimento de terem sido injustamente tratados, não têm lado obscuro e não têm muito a provar ao mundo. Pode-se dizer que, enquanto Bradley é apenas maçante, Gore é um chato de verdade.
O vice-presidente fala de temas técnicos e complicados de uma maneira que é ao mesmo tempo pedante e condescendente, como se estivesse dando aula a uma criancinha ou treinando um cão.
Quando fala sobre produtos que contêm clorofluorcarbono, consegue a proeza impressionante de fazer o ouvinte sentir-se culpado, insultado e entediado, tudo ao mesmo tempo.

Um ator para presidente?
Se esses candidatos que têm mais chance de ganhar são tão resolutamente maçantes, por que não apimentar o cenário político da Gringolândia com algo novo e instigante? Algo como um ator, por exemplo.
E acontece que há justamente um sujeito de Hollywood esperando para pisar no palco.
Que tal um presidente chamado Warren Beatty?
A notícia de que o astro de 61 anos está considerando a possibilidade de se candidatar à Casa Branca eletrizou as apagadas primárias do Partido Democrata.
Beatty sabe que possui o ingrediente crucial numa corrida eleitoral presidencial: um nome conhecido. Mulheres em todo o país estão comentando: "Warren Beatty? É mesmo, estou lembrando -é aquele sujeito com quem transei no final dos anos 60".
Diferentemente dos outros candidatos plutocratas e ricos, Beatty subiu na vida pelo caminho duro.
Ele abriu caminho por meio da longa e árdua labuta de Natalie Wood, Leslie Caron, Brigitte Bardot, Cher, Julie Christie, Diane Keaton, Isabelle Adjani etc.
Se todas as mulheres norte-americanas com quem ele já foi para a cama votarem nele, Warren Beatty é aposta certa para a presidência.
Vejamos: Candice Bergen, Jane Fonda, Goldie Hawn, Madonna...


Tradução de Clara Allain


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