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ROTA LAICO-RELIGIOSA
Em Santiago, viajante desfruta monastérios e pubs
Carolina Vila-Nova/Folha Imagem
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O alemão Bernard, 24, sai da catedral após a missa do peregrino |
Rituais incluem pôr dedo sobre pórtico da Glória, encostar a cabeça no mestre Mateo e abraçar são Tiago
DA ENVIADA ESPECIAL À ESPANHA
Cidade emblemática para o
cristianismo medieval, construída por e para peregrinos,
Santiago de Compostela surpreende por sua efervescência.
Quem pensa encontrar apenas
igrejas e monastérios terá a boa
surpresa de desfrutar os pubs
clássicos compostelanos, a nova gastronomia galega em vários restaurantes de autor e a
extensa programação de exposições e galerias de arte dessa
cidade universitária (a população estudantil ronda os 40 mil).
É verdade que, para muitos,
depois de 800 km de caminhada a uma média de 30 km diários, a chegada pode ter um quê
de decepção. A primeira visão
que o peregrino tem de Santiago é no monte do Gozo, uma zona industrial que no que diz
respeito à beleza não faz jus ao
nome -apesar de que daí se
avistam as torres da catedral.
Nos arredores da cidade, em
um bar e café para descanso, o
dono oferece uma fantasia para
o turista tirar foto de peregrino.
E em plena praça do Obradoiro, diante da catedral de
Santiago, "seu" Alfredo cobra
1 para que se tire uma foto de
seu cachorro Charlie Brown
também vestido de peregrino
-com direito a capa, cabaça,
cajado e um i-pod. Uma foto só,
sem direito a repetição.
Mas essa eventual má impressão se dissipa tão logo se
embrenha na cidade.
O primeiro passo é visitar a
catedral de Santiago. Trata-se a
grosso modo de um mausoléu
cujo coração é a arca prateada
que guarda os despojos do santo, apesar de ter sido concebida
ao mesmo tempo como igreja,
palácio e castelo.
A igreja que se vê hoje é a terceira edificação, erguida nos
séculos 11 e 12. A primeira data
do século 9º, com início em
1075, e a segunda, do século 10.
Foi adotado um sistema de
uma construção dentro da outra para que a cidade não ficasse sem igreja.
No século 18, o edifício passou por uma reforma barroca,
mas 95% do interior da basílica
é de estilo românico.
Lá dentro, o peregrino cumpre três rituais seculares: coloca os dedos sobre o pórtico da
Glória, uma obra-prima do românico europeu; encosta a cabeça na estátua do mestre Mateo, o artífice do pórtico, para
"roubar" sua inteligência, e
abraça o busto de são Tiago que
se assenta no altar-mor, acima
do túmulo com as relíquias.
A planta da igreja é concebida para a peregrinação -quem
entra não atrapalha as celebrações. Todo domingo, ao meio-dia, há a missa do peregrino, e
muitos planejam a chegada à
cidade para esse momento.
Mancando, com sandálias e
meias para proteger os pés
cheios de bolha, o estudante
alemão Bernard, 24, havia chegado àquela manhã a Santiago
com a namorada e acabava de
assistir à missa do peregrino.
Caminharam por dez dias.
"Viemos pela experiência religiosa e espiritual. Foi muito
difícil, mas cada manhã era um
novo dia, e hoje me sinto cheio
de energia", conta. "A viagem é
válida para o turista, mas, para
o peregrino, é mais intensa."
O Obradoiro é outra grande
atração, uma praça com quatro
edifícios e cinco estilos arquitetônicos -românico, gótico,
barroco, neoclássico e renascentista. Um dos prédios é o
hostal dos Reis Católicos, de
estilo renascentista, construído após a visita de Isabel de
Castela e Fernando de Aragão a
Santiago em 1486.
A poucos metros, vale ir ao
convento de São Francisco,
criado pelo próprio santo entre
1212 e 1213. Em 1993, o prédio
foi transformado em hotel, um
dos mais luxuosos de Santiago.
Fora do circuito religioso, há
várias opções. Na zona de São
Domingos de Bonaval, ficam o
Centro Galego de Arte Contemporânea e o museu do Povo
Galego (etnográfico). Mais
adiante está o parque de São
Domingos, um dos melhores
miradores da cidade histórica.
Á noite, o passeio segue na
rua de San Paio de Antealteares
ou na praça Quintana, de pub
em pub para provar as cervejas
espanholas, como Estrella (galega), Mahou e Cruzcampo.
(CAROLINA VILA-NOVA)
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