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SEAN HAYES "NÃO QUERO QUE O PÚBLICO SAIBA QUEM SOU"
Será que ele é?
MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Desde que passou a viver, em 98, o hilário e
excêntrico Jack, no não menos hilário seriado "Will & Grace", Sean Hayes faz malabarismo para não responder à pergunta: "Você
é ou não gay?". Esse americano de 31 anos,
formado em música, apaixonado por Mozart
e vencedor de um Emmy no ano passado, é
uma contradição nele mesmo: se por um lado é símbolo para a causa gay, por outro, na
vida real, prefere se manter "no armário".
Vou ter de ir direto ao assunto. Você é ou
não gay?
Que rapidez! Sinto decepcioná-la, mas
não vou dizer.
Por quê? Não é uma contradição com o
conceito que o programa tanto defende, o
de que você tem de ser aberto com relação
à sua orientação sexual?
Acontece que, como ator, quero ter a
chance de interpretar outros papéis e não
posso correr o risco de ficar estereotipado. Atores, de uma forma geral, são pessoas abertas demais com relação a sua vida pessoal. Veja o caso da Anne Heche e
da Ellen DeGeneres, por exemplo. Não
posso ver um filme com uma delas sem
pensar na outra. Quanto menos o público conhecer minha vida privada, mais aberto estou a diferentes papéis. Não
quero que o público saiba quem sou.
Mas a sua resposta é, além de contraditória, discriminatória. Por que citar Ellen
e Anne, um casal gay, e não Tom Cruise e
Nicole Kidman?
Certo, certo. Vale para eles também.
Ou você consegue assistir a "Moulin
Rouge" e não pensar em Tom Cruise?
Então a decisão de não assumir sua sexualidade é apenas medo do estereótipo?
Não só isso, porque nunca vou cair nessa. Se for preciso, escrevo eu mesmo um
roteiro no qual possa trabalhar.
Então o Jack, tão adorado, não tem nada
a ver com você e nunca seria seu amigo?
Nunca. Ele é engraçado mas eu não
conseguiria passar cinco minutos a seu
lado (risos). Ou você conseguiria? Eu
adoro o fato de ele achar que é brilhante e
não ser, mas se você me perguntar o que
aprendi com Jack, vou dizer que aprendi
a ser exatamente o oposto dele.
Por que você acha que seriados gays como "Will & Grace" e "Queer as Folk" estão
fazendo tanto sucesso na TV hoje?
Antes de mais nada, "Will & Grace" é
uma série de personagens simpáticos e
com os quais o cidadão comum consegue se identificar. Em muitos países, essa é a primeira vez que o público pode se
identificar com um personagem gay. Essa é uma barreira que estamos quebrando. E esses shows com protagonistas homossexuais são diferentes. As pessoas
nunca tinham visto esse tipo de relacionamento antes e percebido que a vida da
parcela gay da população é igual à delas.
Você não acha que esse tipo de programa faz sucesso atualmente por ter diminuido o tabu com relação ao homossexualismo?
Ou será que existe menos tabu por
causa desse tipo de programa? Filmes
como "Será Que Ele É?", "A Razão Do
Meu Afeto" e "O Casamento do Meu
Melhor Amigo" fizeram com que o
mundo gay entrasse definitivamente na
cultura pop, e isso nos abriu uma porta
gigantesca. Agora, não há volta.
É muita responsabilidade ser considerado um ícone gay?
Não me vejo dessa forma, simplesmente porque não conseguiria viver
com esse peso nas costas. A pressão está
nos ombros dos produtores do programa. Procuro apenas me divertir com a
recém-adquirida fama e com o fato de
que agora não posso ir ao supermercado
sem ser reconhecido. Minha vida depois
de Jack virou loucura pura.
Como é o dia-a-dia nas gravações?
O que mais acontece no set são improvisações. Os produtores nos dão carta
branca, e boa parte das piadas que você
vê no ar não estavam no roteiro. Eu adoro esse aspecto solto e informal porque
venho da comédia de "stand-up".
Will não ia ser presenteado pelos produtores do programa com um namorado
fixo na temporada passada?
A idéia era essa. Mas a vida dele precisa
refletir a do cidadão comum e, afinal,
quando o programa começou, há três
temporadas, Will tinha acabado de romper um relacionamento de sete anos.
Por isso, acho que ele ainda vai demorar
para encontrar o homem de sua vida.
E Jack?
Jack não é homem de um homem só.
Você pretende um dia atuar no cinema?
Enquanto os roteiros televisivos forem
de melhor qualidade do que os cinematográficos, e você há de concordar que atualmente eles são, eu fico na TV.
WILL & GRACE, Sony, de segunda a sexta, às
20h
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