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LUGAR AO SOL
Mesmo quem foi eliminado nos primeiros programas é convidado para posar nu em revistas eróticas, sonha com a gravação de CDs ou em fazer carreira na televisão
"Segunda divisão" de "No Limite" muda de vida
DA REPORTAGEM LOCAL
NÃO foram apenas as quatro semifinalistas do programa de TV-realidade "No Limite", da Globo, que tiveram suas vidas alteradas. Mesmo aqueles que foram eliminados
logo nos primeiros programas fazem planos
que antes da atração seriam apenas sonhos.
É o caso dos cariocas Marcus e Amendoim.
O primeiro foi sondado por duas agências de
publicidade para fazer o anúncio de uma empresa de telecomunicação e outro de um banco. Amendoim não pôde atender ao convite
para fazer propaganda de um curso de inglês.
Ambos recusaram posar nus. Marcus foi
chamado pelas revistas "Íntima" e "G Magazine". Amendoim apenas pela última. "Achei
caído. Não é a minha praia", disse Marcus.
"Eu falei que só por US$ 2 milhões, e o cara
começou a rir", diverte-se Amendoim.
Morador da Rocinha (zona sul), Amendoim vai vender o carro que ganhou, avaliado
entre R$ 16 e R$ 18 mil, porque não pode arcar
com as despesas de documentação. "Tô no
sufoco, cheio de dívida, como qualquer trabalhador. O que sobrar vou botar na poupança e
fazer uma reforma na minha casa, que está
caindo aos pedaços", disse Amendoim, que
tem mulher, quatro filhos e recebe um salário
mensal de R$ 300. Ele trabalha para uma organização não-governamental.
Para Marcus, a fama de "No Limite" teve
um efeito mais negativo do que positivo. Ao
chamar Amendoim de crioulo numa discussão, durante o programa, ele provocou revolta. "Hoje está mais tranquilo. Mas, quando
voltei do Ceará, tive que sumir por uns dez
dias. Minha imagem ficou muito desgastada.
As pessoas ficavam me ofendendo na rua."
Os 18 dias em que participou do programa
mudaram radicalmente a vida do gaúcho Jeferson Schmengler. Ele até parou de trabalhar
em uma empresa de transporte. Decidiu atuar
em publicidade e escrever um livro sobre "o
que o programa não mostrou". Não perdeu
tempo e criou seu site (www.wpoa.com.br).
Jeferson, que leiloará na Internet o carro Gol
que ganhou da Globo, para comprar uma casa, topa até posar nu. "Tudo depende da grana que pintar", disse ele, que contratou um
agente para cuidar dos seus interesses.
A estudante baiana Hilca dos Reis Sales, 21,
primeira eliminada do programa, sonha em
ser cantora de MPB. Ela diz querer aproveitar
a experiência frustrada numa banda de axé de
Salvador para lançar um CD. "Na época, não
consegui conciliar o meu estudo com a música", lamenta Hilca, que se diz fã de carteirinha
da cantora Elis Regina. "Mas agora, depois do
programa, devo ter tempo e apoio de sobra
para batalhar na área do canto. Até o Caçulinha, do "Faustão", disse que eu levo jeito."
O dançarino e ator Vanderson Souza dos
Santos, 20, também baiano, diz esperar qualquer proposta para ser modelo e, com isso,
conseguir comprar uma casa. Vanderson mora com a mãe e mais 13 pessoas -entre irmãos e sobrinhos- numa casa de três cômodos na Saúde, bairro popular de Salvador.
Já o designer paulistano Thiago Andres Toqueton, 21, quer ser ator de comerciais e aproveitar a fama repentina para incrementar os
negócios de sua oficina de pintura. "Acho que
as pessoas vão querer conhecer a oficina do
Thiago do "No Limite". Quero também associar minha imagem a entidades beneficentes
que precisem do meu apoio", diz.
Thiago e Vanderson contam que foram
agarrados há dois domingos por uma multidão de garotas num baile funk no Rio de Janeiro. "Tudo isso é uma surpresa para a gente,
mas ao mesmo tempo é legal porque sentimos o carinho das pessoas", afirma Thiago.
Nem tão contente assim com as mudanças
que o programa global provocou em seu cotidiano, a dona-de-casa Ilma Magalhães Arakawa viu sua vida particular ser exposta em rede
nacional na semana passada, quando foi ao
"Domingão do Faustão" falar sobre um filho
que, anos atrás, deixara com seu primeiro
marido em Tocantins. Magoada, evita falar
sobre o assunto. Segundo seu atual marido,
Massao Arakawa, "esse era um problema para ser discutido em família": "Fomos pegos de
surpresa. Claro que o assédio que "No Limite"
causou muda a vida da gente, mas o que aconteceu com a Ilma foi muito sofrido".
Colaboraram Cristian Klein, da Sucursal do Rio, Léo
Gerchmann e Carlos Alberto de Souza, da Agência Folha em Porto Alegre, Marcos Vita, da Agência Folha em
Salvador, e Erika Sallum, da Reportagem Local.
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