São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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LUGAR AO SOL
Mesmo quem foi eliminado nos primeiros programas é convidado para posar nu em revistas eróticas, sonha com a gravação de CDs ou em fazer carreira na televisão
"Segunda divisão" de "No Limite" muda de vida

DA REPORTAGEM LOCAL

NÃO foram apenas as quatro semifinalistas do programa de TV-realidade "No Limite", da Globo, que tiveram suas vidas alteradas. Mesmo aqueles que foram eliminados logo nos primeiros programas fazem planos que antes da atração seriam apenas sonhos.
É o caso dos cariocas Marcus e Amendoim. O primeiro foi sondado por duas agências de publicidade para fazer o anúncio de uma empresa de telecomunicação e outro de um banco. Amendoim não pôde atender ao convite para fazer propaganda de um curso de inglês.
Ambos recusaram posar nus. Marcus foi chamado pelas revistas "Íntima" e "G Magazine". Amendoim apenas pela última. "Achei caído. Não é a minha praia", disse Marcus. "Eu falei que só por US$ 2 milhões, e o cara começou a rir", diverte-se Amendoim.
Morador da Rocinha (zona sul), Amendoim vai vender o carro que ganhou, avaliado entre R$ 16 e R$ 18 mil, porque não pode arcar com as despesas de documentação. "Tô no sufoco, cheio de dívida, como qualquer trabalhador. O que sobrar vou botar na poupança e fazer uma reforma na minha casa, que está caindo aos pedaços", disse Amendoim, que tem mulher, quatro filhos e recebe um salário mensal de R$ 300. Ele trabalha para uma organização não-governamental.
Para Marcus, a fama de "No Limite" teve um efeito mais negativo do que positivo. Ao chamar Amendoim de crioulo numa discussão, durante o programa, ele provocou revolta. "Hoje está mais tranquilo. Mas, quando voltei do Ceará, tive que sumir por uns dez dias. Minha imagem ficou muito desgastada. As pessoas ficavam me ofendendo na rua."
Os 18 dias em que participou do programa mudaram radicalmente a vida do gaúcho Jeferson Schmengler. Ele até parou de trabalhar em uma empresa de transporte. Decidiu atuar em publicidade e escrever um livro sobre "o que o programa não mostrou". Não perdeu tempo e criou seu site (www.wpoa.com.br).
Jeferson, que leiloará na Internet o carro Gol que ganhou da Globo, para comprar uma casa, topa até posar nu. "Tudo depende da grana que pintar", disse ele, que contratou um agente para cuidar dos seus interesses.
A estudante baiana Hilca dos Reis Sales, 21, primeira eliminada do programa, sonha em ser cantora de MPB. Ela diz querer aproveitar a experiência frustrada numa banda de axé de Salvador para lançar um CD. "Na época, não consegui conciliar o meu estudo com a música", lamenta Hilca, que se diz fã de carteirinha da cantora Elis Regina. "Mas agora, depois do programa, devo ter tempo e apoio de sobra para batalhar na área do canto. Até o Caçulinha, do "Faustão", disse que eu levo jeito."
O dançarino e ator Vanderson Souza dos Santos, 20, também baiano, diz esperar qualquer proposta para ser modelo e, com isso, conseguir comprar uma casa. Vanderson mora com a mãe e mais 13 pessoas -entre irmãos e sobrinhos- numa casa de três cômodos na Saúde, bairro popular de Salvador.
Já o designer paulistano Thiago Andres Toqueton, 21, quer ser ator de comerciais e aproveitar a fama repentina para incrementar os negócios de sua oficina de pintura. "Acho que as pessoas vão querer conhecer a oficina do Thiago do "No Limite". Quero também associar minha imagem a entidades beneficentes que precisem do meu apoio", diz.
Thiago e Vanderson contam que foram agarrados há dois domingos por uma multidão de garotas num baile funk no Rio de Janeiro. "Tudo isso é uma surpresa para a gente, mas ao mesmo tempo é legal porque sentimos o carinho das pessoas", afirma Thiago.
Nem tão contente assim com as mudanças que o programa global provocou em seu cotidiano, a dona-de-casa Ilma Magalhães Arakawa viu sua vida particular ser exposta em rede nacional na semana passada, quando foi ao "Domingão do Faustão" falar sobre um filho que, anos atrás, deixara com seu primeiro marido em Tocantins. Magoada, evita falar sobre o assunto. Segundo seu atual marido, Massao Arakawa, "esse era um problema para ser discutido em família": "Fomos pegos de surpresa. Claro que o assédio que "No Limite" causou muda a vida da gente, mas o que aconteceu com a Ilma foi muito sofrido".


Colaboraram Cristian Klein, da Sucursal do Rio, Léo Gerchmann e Carlos Alberto de Souza, da Agência Folha em Porto Alegre, Marcos Vita, da Agência Folha em Salvador, e Erika Sallum, da Reportagem Local.


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