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'A MURALHA'
Nova minissérie vai retratar o período das entradas e bandeiras,
mostrando conflitos entre desbravadores e e índios no século 17
Bandeirantes vão invadir tela da Globo
da sucursal do Rio
QUANDO o primeiro dos 49 capítulos da minissérie "A Muralha" for ao
ar nesta terça-feira, às 22h, estará oficialmente iniciada a temporada de riscos da
Rede Globo. A trama é baseada no livro
homônimo da escritora Dinah Silveira
de Queiroz.
A Globo está tentando mostrar ao mercado publicitário que os meses de janeiro, fevereiro e março -tradicionalmente de menor faturamento publicitário para as emissoras e coalhados de reprises-
também podem ser lucrativos.
Para isso, mesmo sabendo que a audiência costuma cair nesse período, a
Globo lança programas inéditos como
"A Muralha" e a mininovela de Ana Maria Moretzsohn, com o nome provisório
de "Esplendor".
Na minissérie, não economizou. Gastou cerca de R$ 220 mil por capítulo, cerca de R$ 11 milhões no custo final.
"O período de janeiro a março é bom para fazer testes
porque faz parte de um investimento da Globo que, sabe-se, não terá retorno imediato", afirma o diretor de
criação e supervisor da minissérie, Daniel Filho.
Filho inclui "A Muralha" na lista de riscos da emissora
porque acha que os personagens e o teor da obra são
pouco comuns na dramaturgia da Globo. "Não estamos
retratando os bandeirantes como heróis e os índios como vilões. Os personagens são mais complexos", diz.
A minissérie conta a história de imigrantes portugueses que vieram para um país praticamente virgem e começaram a explorá-lo. A trama mostra as dificuldades
dos personagens para sobreviver longe das cidades, os
confrontos com os índios e com outros exploradores.
A diretora-geral da minissérie, Denise Saraceni, promete uma história romântica cheia de ação e aventura.
"Tivemos muito trabalho para gravar cenas de combate. E os personagens, muito pobres e sem recursos, vivem a sensação de estar constantemente ameaçados pela natureza e pelos seus inimigos", explica.
Segundo a autora da minissérie, Maria Adelaide Amaral, "A Muralha" foi um trabalho de garimpagem. "Como eu não sabia de muitos livros escritos sobre o período, tive de descobri-los. Foi uma pesquisa longa e se refletiu no trabalho de escrever os capítulos. Demorava
quatro dias em alguns", revela. Autores
de novelas escrevem um capítulo por dia.
Maria Adelaide conta que foi obrigada
a vasculhar sebos por toda a cidade e baseou seu trabalho principalmente em
obras de Alcantara Machado, Jorge Caldeira, Visconde de Taunay e Sérgio Buarque de Holanda.
Com base nessa pesquisa, a autora se
preocupou em usar algumas expressões
comuns na época que soarão estranhas e
engraçadas aos ouvidos do espectador.
Palavras como "pejo" (vergonha), "incréu" (incrédulo) e "barregã" (amante)
serão ouvidas com frequência.
"Não vamos reproduzir a linguagem
da época porque seria intolerável para o
público de hoje. Optei por recriar a linguagem de uma forma que tem um sabor
antigo, mas é musical e compreensível",
explica a autora.
Não é a primeira vez que a história ganha uma adaptação na TV. Antes dessa
versão, "A Muralha" foi produzida em
1958, pela TV Tupi, em 1963, na TV Cultura, e em 1968, na TV Excelsior.
Em relação às versões anteriores e ao livro, a principal mudança será a troca da
fase histórica da trama, do final para o
princípio do século 17. "Mantivemos as
entradas e bandeiras, mas optamos por
um período histórico pouco mostrado
pela dramaturgia. E é possível apresentar
o início dos movimentos exploratórios
que mudaram o país", justifica Saraceni.
Trabalhar com um período pouco
apresentado na TV brasileira exige uma
reconstituição cenográfica incomum. A
maioria das gravações foi feita ao ar livre
e sofreu diversos atrasos com as chuvas
em novembro e dezembro.
Além de reconstruir aldeias de índios
com o auxílio de alguns caciques, a principal cidade cenográfica, a Vila de São
Paulo, foi reproduzida com os materiais
originais: sem pedras, usando apenas
barro e madeira.
No elenco, "A Muralha" traz Tarcísio
Meira, Leonardo Brício, Alexandre Borges, Paulo José, Stênio Garcia e Vera
Holtz.
Meira, acostumado a encarnar o galã
romântico, será o vilão Dom Gerônimo, um comerciante sem escrúpulos que não hesitará em trapacear para
conseguir favores sexuais de Ana (Letícia Sabatella),
uma moça que tem com ele uma dívida de honra.
Uma das principais curiosidades é a presença de Mauro Mendonça. Na versão da história feita em 1968, Mendonça encarnou o mesmo papel da atual: foi Dom Braz
Olinto, um bandeirante ambicioso que escravizava índios. "Desta vez, mais de 30 anos depois, não vou precisar de maquiagem para aparecer envelhecido", brinca o
ator.
Para os combates, a diretora chamou índios das tribos
xavante, guarani e pareci. (ALEXANDRE MARON)
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