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CRÍTICA
O caso Edileusa e outras baixarias
FERNANDO DE BARROS E SILVA
especial para a Folha
A demissão da atriz Cláudia Jimenez do programa ``Sai de Baixo'', da Globo, foi um dos assuntos da semana. Muita gente protestou. ``Mas, como, logo a Edileusa, tão simpática? Que injustiça!''. É bem provável que muito
da revolta popular (a voz rouca
das ruas, como disse FHC) se deva ao fato de a vítima ser logo a
empregada.
Um ato brutal do patrão contra
aquela que lhe servia com tanto
esmero, devem ter pensado muitos. É como se o próprio Roberto
Marinho tivesse mandado para a
rua a sua quituteira particular.
O ``Jornal do Brasil'' captou logo a confusão entre realidade e
ficção. Na sua edição de domingo passado, publicou uma longa
entrevista com a desempregada
no primeiro caderno, espaço dedicado a assuntos políticos -e
tudo isso em plena época de reeleição. A chamada da capa dizia
tudo: ``O desabafo de Edileusa''.
Dentro, o título da entrevista reforçava que era a empregada
quem estava com a palavra: ``É
mais fácil se livrar de mim''.
Curiosa a maneira com que o
``JB'' instrumentalizou o conflito de classes para cutucar o concorrente. As Organizações Globo
seriam o mau patrão e o ``JB'' o
advogado da doméstica injustiçada. Conhecendo-se a trajetória
da Rede Globo e todo o seu histórico de promiscuidade com o poder, a armadilha do ``JB'' até que
faz sentido. A emissora paga nesse episódio isolado pelo fato de
nunca ter tido qualquer compromisso com ``os de baixo''.
Isso posto, é preciso limpar o
terreno. Visto como um incidente do mundo do trabalho, o caso
Edileusa não difere em nada das
baixarias diárias que se vê em
qualquer escritório ou repartição pública. O enredo é universal: intrigas, picuinhas, recadinhos velados, inveja mútua, acusações de lado a lado e, finalmente, demissão do elo mais frágil.
Até aqui estamos diante de um
caso qualquer em que o gerente
do banco ``frita'' o caixa que o
aporrinhava, com todos os ingredientes de arbitrariedade que
esses casos trazem embutidos. O
mais interessante, contudo, é
que a baixaria dos bastidores da
Globo trouxe à tona a baixaria do
programa, que, como se sabe,
desde a primeira hora foi acolhido por todos com euforia histérica.
Se há algo positivo nessa cafajestada de firma, é o fato de ter
escancarado a cafajestada do que
vai ao ar.
Cláudia Jimenez reclama, com
razão, que não suportava mais
ser chamada de ``supositório de
baleia'' e coisas do gênero. Eram,
segundo ela, apelidos inventados
pelo redator-chefe do programa,
Claudio Paiva, por quem ela revelou ter um justo desprezo. Mas
alguém reclamava desse tipo de
humor de botequim? O público
não aprovou desde o início essa
forma abjeta de provocar risadas?
A verdade é que ``Sai de Baixo''
é um dos programas mais lamentáveis dos últimos tempos.
O talento reconhecido do elenco
foi posto a serviço de um texto
pífio, que ora parece uma peça
escrita por um jovem aluno de
teatro amador, ora se assemelha
mais a uma conversa de executivos na sauna durante o ``happy
hour''. É de doer.
É bom não esquecer que o programa faz parte da estratégia global para frear o crescimento de
Silvio Santos aos domingos. É
uma história conhecida: cada vez
que uma emissora baixa o nível,
a outra dobra a aposta. Como dizem que a estupidez humana é
infinita, esperemos pelos próximos capítulos dessa novela ladeira abaixo.
Ainda vai chegar o dia em que o
próprio Boni terá de entrar no
palco com um chumaço de notas
na mão para atirá-las na cara do
auditório perguntando, como
faz o Abravanel, ``quem quer dinheiro!?!''. Aguardem.
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