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GUERRA DOMINICAL
Boicote do programa a artistas que forem ao "Domingo Legal" cria polêmica entre
gravadoras; "Toco onde eu bem entender", diz Lobão
Decisão do "Faustão" choca mercado fonográfico
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
A DECISÃO do "Domingão do
Faustão" de não mais levar ao programa cantores e bandas que tenham
participado do "Domingo Legal", do
SBT, caiu como uma bomba na indústria
fonográfica brasileira. Uma bomba de silêncio. Desde o último domingo, a atração global apenas apresenta artistas que
se comprometam a não ir ao programa
de Gugu Liberato, conforme resolução
divulgada a 17 gravadoras em reunião
com o diretor Alberto Luchetti, do
"Faustão".
As duas atrações dominicais são o "filé
mignon" na divulgação de um artista na
TV, e conseguir que um cantor apareça
nelas significa uma importantíssima estratégia de marketing para as gravadoras. Antes dessa decisão, Luchetti exigia
um período de pelo menos três semanas para que um
cantor que tivesse tocado em seu programa fosse ao
SBT. Agora tudo mudou.
A nova medida chocou as gravadoras, mas nenhuma
se atreve a se pronunciar publicamente sobre o assunto.
Na semana passada, a Folha tentou entrevistar algumas
das principais empresas de discos, sem sucesso. Mas,
em "off", elas classificam a decisão da Globo de "ditatorial, radical e absurda". Até mesmo a EMI, atualmente
excluída do "Faustão" depois que o grupo P.O. Box participou da "Banheira do Gugu", evita comentários:
"Ainda vamos decidir o que fazer, mas Luchetti está no
seu direito", contemporiza Alexandre Fontenelle, supervisor de TV da EMI no Rio.
Nem os artistas querem se envolver na polêmica. Segundo Luchetti, nomes como Zezé Di Camargo & Luciano, Maurício Manieri e Harmonia do Samba são
"personas non gratas" no "Faustão". Por ter ido ao "Domingo Legal", a dupla sertaneja não mais promoverá
seu novo CD no "Faustão" no próximo dia 9. "Alavancamos a audiência dos caras, mas eles receberam disco
de ouro no concorrente. Aqui não vêm mais. Manieri é
outro que não sai do Gugu. Se esses artistas não se respeitam, não sou eu que vou respeitá-los", diz Luchetti.
Por meio de sua assessoria, Zezé e Luciano afirmam que
não vão responder ao diretor. Já Manieri, por meio de
seu empresário, avisa que "isso é problema da gravadora", já que ela é que decide sua agenda.
Em meio à guerra de audiência, o vocalista do P.O. Box, Carlinhos Santos, lamenta que os artistas sejam os mais prejudicados no final: "Cada um usa a arma
que achar melhor para atrair telespectador. Mas somos nós que arcamos com o
problema. Queremos divulgar nosso trabalho e precisamos das TVs. Se pudesse,
pediria desculpas a Luchetti".
Dono de um selo independente, o Universo Paralelo, o cantor Lobão participou do "Faustão" no último domingo,
mas diz que não tem nada a ver com essa
disputa pelo ibope das duas emissoras:
"É muita arrogância querer determinar
onde vou tocar. Toco onde quiser, na
Band, no Ratinho, onde for. O que é isso,
meu irmão? Se querem exclusividade,
então me paguem um salário, me torno
funcionário da Globo e pronto".
Alberto Luchetti, diretor do "Faustão"
desde 98, rebate as críticas e afirma que
sua resolução tem como objetivo fazer
um programa melhor, diferente do do
SBT. "Não é nada ditatorial querer meus
próprios artistas. As gravadoras têm autonomia para decidir quem elas querem
trazer ao "Faustão". Nas reuniões que tive
com elas, todas receberam bem minha
decisão. Se um artista quiser nadar na
banheira do Gugu, tudo bem, abro mão
dele. E, para as gravadoras, quanto
maior for a guerra de audiência, melhor
para elas. Isso se chama marketing. O
que não dá é para o SBT ficar copiando
descaradamente meu trabalho", afirma.
Para Roberto Manzoni, diretor do
"Domingo Legal", do SBT, se Luchetti esnoba tanto a
concorrência, por que
"infernizar" a vida das
gravadoras?
"Ele e Fausto Silva assinaram um atestado de incompetência, cerceando
a liberdade dos artistas.
Fico admirado de a Globo
aceitar uma coisa dessas.
Isso já virou um problema pessoal. Aqui, vem
quem quiser", diz.
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