São Paulo, domingo, 02 de abril de 2000


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GUERRA DOMINICAL
Boicote do programa a artistas que forem ao "Domingo Legal" cria polêmica entre gravadoras; "Toco onde eu bem entender", diz Lobão
Decisão do "Faustão" choca mercado fonográfico

ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL

A DECISÃO do "Domingão do Faustão" de não mais levar ao programa cantores e bandas que tenham participado do "Domingo Legal", do SBT, caiu como uma bomba na indústria fonográfica brasileira. Uma bomba de silêncio. Desde o último domingo, a atração global apenas apresenta artistas que se comprometam a não ir ao programa de Gugu Liberato, conforme resolução divulgada a 17 gravadoras em reunião com o diretor Alberto Luchetti, do "Faustão".
As duas atrações dominicais são o "filé mignon" na divulgação de um artista na TV, e conseguir que um cantor apareça nelas significa uma importantíssima estratégia de marketing para as gravadoras. Antes dessa decisão, Luchetti exigia um período de pelo menos três semanas para que um cantor que tivesse tocado em seu programa fosse ao SBT. Agora tudo mudou.
A nova medida chocou as gravadoras, mas nenhuma se atreve a se pronunciar publicamente sobre o assunto. Na semana passada, a Folha tentou entrevistar algumas das principais empresas de discos, sem sucesso. Mas, em "off", elas classificam a decisão da Globo de "ditatorial, radical e absurda". Até mesmo a EMI, atualmente excluída do "Faustão" depois que o grupo P.O. Box participou da "Banheira do Gugu", evita comentários: "Ainda vamos decidir o que fazer, mas Luchetti está no seu direito", contemporiza Alexandre Fontenelle, supervisor de TV da EMI no Rio.
Nem os artistas querem se envolver na polêmica. Segundo Luchetti, nomes como Zezé Di Camargo & Luciano, Maurício Manieri e Harmonia do Samba são "personas non gratas" no "Faustão". Por ter ido ao "Domingo Legal", a dupla sertaneja não mais promoverá seu novo CD no "Faustão" no próximo dia 9. "Alavancamos a audiência dos caras, mas eles receberam disco de ouro no concorrente. Aqui não vêm mais. Manieri é outro que não sai do Gugu. Se esses artistas não se respeitam, não sou eu que vou respeitá-los", diz Luchetti. Por meio de sua assessoria, Zezé e Luciano afirmam que não vão responder ao diretor. Já Manieri, por meio de seu empresário, avisa que "isso é problema da gravadora", já que ela é que decide sua agenda.
Em meio à guerra de audiência, o vocalista do P.O. Box, Carlinhos Santos, lamenta que os artistas sejam os mais prejudicados no final: "Cada um usa a arma que achar melhor para atrair telespectador. Mas somos nós que arcamos com o problema. Queremos divulgar nosso trabalho e precisamos das TVs. Se pudesse, pediria desculpas a Luchetti".
Dono de um selo independente, o Universo Paralelo, o cantor Lobão participou do "Faustão" no último domingo, mas diz que não tem nada a ver com essa disputa pelo ibope das duas emissoras: "É muita arrogância querer determinar onde vou tocar. Toco onde quiser, na Band, no Ratinho, onde for. O que é isso, meu irmão? Se querem exclusividade, então me paguem um salário, me torno funcionário da Globo e pronto".
Alberto Luchetti, diretor do "Faustão" desde 98, rebate as críticas e afirma que sua resolução tem como objetivo fazer um programa melhor, diferente do do SBT. "Não é nada ditatorial querer meus próprios artistas. As gravadoras têm autonomia para decidir quem elas querem trazer ao "Faustão". Nas reuniões que tive com elas, todas receberam bem minha decisão. Se um artista quiser nadar na banheira do Gugu, tudo bem, abro mão dele. E, para as gravadoras, quanto maior for a guerra de audiência, melhor para elas. Isso se chama marketing. O que não dá é para o SBT ficar copiando descaradamente meu trabalho", afirma.
Para Roberto Manzoni, diretor do "Domingo Legal", do SBT, se Luchetti esnoba tanto a concorrência, por que "infernizar" a vida das gravadoras?
"Ele e Fausto Silva assinaram um atestado de incompetência, cerceando a liberdade dos artistas. Fico admirado de a Globo aceitar uma coisa dessas. Isso já virou um problema pessoal. Aqui, vem quem quiser", diz.


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