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MALDIÇÃO DO IMPEACHMENT
Minissérie da Rede Manchete proibida pela Justiça não está mais nos arquivos da emissora
Fitas de "O Marajá" desaparecem
ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local
Depois das mortes de Leda e Pedro Collor e do misterioso assassinato de Paulo César Farias, a maldição
do impeachment ataca outra vez. As fitas da minissérie "O Marajá" sumiram
do arquivo da Rede Manchete, no Rio de Janeiro.
"O Marajá" foi uma minissérie produzida pela
Manchete, em 1993, que
contava, em tom de sátira,
como foi o impeachment
do ex-presidente da República Fernando Collor, que
acontecera um ano antes,
em agosto de 1992.
Prevendo que haveria
processos por parte de
Collor, Adolpho Bloch, o
presidente da emissora,
contratou uma advogada
para auxiliar os autores José Louzeiro, Regina Braga
e Alexandre Lydia na tarefa de escrever a história,
evitando complicações
com a Justiça.
Assim, Collor virou Elle.
O personagem é o presidente de um país fictício
que arma um esquema para se manter no poder por
30 anos, o projeto 2020.
Elle foi interpretado pelo
ator Helcio Magalhães,
que encarnava Collor em
comícios pró-impeachment (leia texto abaixo). A
dona-de-casa Vânia Bellas
tornou-se Ella, aludindo a
Rosane Collor.
"Era um conceito revolucionário. Uma mistura
de jornalismo com dramaturgia. Apresentávamos
uma cena inacreditável e
depois provávamos a veracidade com um depoimento", diz Louzeiro.
Mesmo com todo o cuidado e auxílio jurídico, a
estréia, marcada para 26 de
julho de 1993, não aconteceu. "O Marajá" foi proibida. O ex-presidente alegou que considerava sua
honra arranhada pelas cenas da minissérie.
Após meses e uma guerra
de liminares, uma decisão
judicial favorável a Collor
selou o destino da obra.
"A história toda nos mostrou que, mesmo depois
do impeachment, Collor
ainda tem poder, já que foi
capaz de censurar uma
obra antes de ela ser exibida", lamenta Lydia.
Há, até aqui, somente
uma pista do paradeiro das
fitas. O ex-diretor-geral da
Manchete, Fernando Barbosa Lima, afirma que o
próprio Adolpho Bloch
decidiu guardar as fitas,
com medo que elas fossem
roubadas, e a Manchete,
prejudicada.
"Ele ficou assustado
com o poder de Collor",
conta Barbosa Lima, que
era amigo de Bloch.
Com a morte de Bloch,
em 1995, a emissora passou para as mãos de Pedro
Jack Kapeller e as fitas estariam em seu poder. Procurado pela Folha, Kapeller não respondeu.
A história
A Folha teve acesso ao
texto integral da minissérie
(em 50 partes) e a um capítulo editado -uma cópia
em VHS feita quando a
obra ainda estava em produção, antes do desaparecimento das fitas.
A história é contada por
um narrador, um repentista e uma fofoqueira, na
tentativa de se comunicar
com públicos diferentes. O
resultado é confuso. São
idas e vindas entre depoimentos jornalísticos, dramaturgia e os narradores.
Embora centrada em Elle, a protagonista de "O
Marajá" é a jornalista Mariana (Julia Lemmertz). Ela
namora André (Alexandre
Borges), que seria o equivalente ao piloto de PC Farias, Jorge Bandeira.
Numa festa, ela ouve algo sobre o "plano 2020" e
começa a investigá-lo, descobrindo que Elle pretende
governar o país por 30
anos. O chefe de Mariana é
então chantageado e a demite da TV Candango.
Ela se junta ao fotógrafo
Tato (Antonio Pitanga),
que tem fotos comprometedoras, e ao motorista de
Elle, Egberto -José Dumont, encarnando o motorista Eriberto- , que leva cheques fantasmas e decide desmascarar o chefe.
Os três passam a ser perseguidos e ameaçados tentando provar a culpa de Elle. A trama, que começa
tentando ser fiel aos acontecimentos, ganha tons de
uma novela comum.
"Senti que, após a proibição, os autores ficaram
sem tesão. A história perdeu o rumo", afirma Jussara Freire, que encarnou
Felícia, paródia de Denilma Bulhões, ex-mulher do
ex-governador de Alagoas.
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