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Séries de março
A inovadora '24 Horas', a polêmica 'Os Assumidos' e a superprodução 'Band of Brothers', entre outras, chegam à programação este mês
BRUNO SAITO
DA REDAÇÃO
APÓS a retração que sofreu no ano
passado, a TV paga começa a mostrar suas armas para reconquistar o público. Os canais de séries estréiam suas
novas atrações a partir de amanhã (veja
quadro).
No canal Fox, estréia "24 Horas", que
foi apontada pelos críticos norte-americanos como uma das melhores séries da
última temporada. Motivos para isso
não faltam. "24 Horas" traz como curiosidade uma trama que se passa em tempo real e tem um protagonista (Kiefer
Sutherland) que recebeu o Globo de Ouro de melhor ator pelo trabalho.
A série, que traz o terrorismo como tema, estreou dois meses após os atentados de 11 de setembro nos EUA. Nesta
entrevista, um dos criadores, Robert
Cochran, fala sobre as dificuldades encontradas no projeto "24 Horas".
Como surgiu a idéia de "24 Horas"?
Há um ano e meio, Joel Surrow (também produtor) me apresentou uma idéia
maluca para uma série de TV: 24 episódios de uma hora cada, representando
uma hora de um mesmo dia, em tempo
real. Achei a idéia horrível, pensei que seria impossível gravar isso. Percebi que
seria necessário uma história muito intensa, com muita ação, em que os personagens ficassem acordados durante 24
horas. Pensei em thrillers que falam sobre planos de assassinato e a tentativa de
uma pessoa para evitar esse possível assassinato, como "The Day of the Jackal"
e "In the Line of Fire". Percebemos também que precisávamos contar uma história paralela, com personagens com
mais emoções. Então, Joel e eu, que temos filhas adolescentes, imaginamos o
que faríamos se nossas filhas sumissem
na mesma noite. Isso seria muita coisa
para suportar, certamente não iria dormir em uma situação como essa.
Quais são as principais dificuldades encontradas em uma série como essa?
Existe a dificuldade para manter a continuidade das cenas e não perder a lógica.
Como a série se passa em tempo real, tudo tem que ser consistente, todos os processos têm que ser mostrados passo a
passo e você não pode fazer um corte de
tempo. Em qualquer filme, para mostrar
um viagem, basta que o personagem entre no avião, fazer um corte e, na cena seguinte, ele estará em Nova York. No nosso caso, isso é inviável, porque esse personagem teria que passar cinco episódios dentro do avião. É complicado
manter a linearidade de tudo, trata-se de
um verdadeiro quebra-cabeça.
A série, que estreou nos EUA poucas semanas após os ataques de 11 de setembro, aborda temas como terrorismo e segurança nacional. Houve modificações?
Mudamos o piloto da série, que tem
uma sequência com um avião que explode durante o vôo. Não havia como retirar
essa sequência sem afetar toda a trama.
Retiramos apenas o momento exato da
explosão. Dessa maneira, o impacto visual ficou menor. Se mostrássemos a cena, talvez algumas pessoas não se sentissem bem e perdessem a vontade de ver o
restante da série. Usar o terrorismo como tema é sempre complicado, porque é
uma área para muitos julgamentos. Mas,
no final das contas, o público não ficou
ofendido com a temática da série.
Logo após os ataques de 11 de setembro, a CIA foi muito criticada por não ter
evitado o desastre. "24 Horas" também
fala sobre problemas de uma unidade governamental antiterrorista. Você acha
que a série foi profética?
Os EUA já sofreram ataques terroristas, no começo dos anos 90, no World
Trade Center e em Oklahoma. Acho que
desde antes dos acontecimentos de 11 de
setembro, há no país um sentimento
crescente de que não estamos seguros e
isolados do restante do mundo, como
pensávamos anteriormente. E essa é provavelmente a razão pela qual nós temos,
na TV norte-americana, várias séries que
falam sobre terrorismo, como "The
Agency" e "Alias", além de "24 Horas".
O personagem David Palmer (Dennis
Haysbert) é inspirado no secretário de Estado dos EUA, Colin Powell?
Ele não é baseado em um modelo único. No entanto, Colin Powell, assim como David Palmer, certamente pode ser
considerado uma pessoa negra com
chances de chegar à Presidência da República. Ele tem características muito interessantes para um personagem.
Por que Kiefer Sutherland foi escolhido
para o papel principal? O que você achou
do Globo de Ouro dado a ele?
Kiefer é um ator diferente dos vários
outros que imaginamos para o papel. Há
uma diferença entre um ator que tem talento e um ator que, além do talento, tem
carisma e presença. Kiefer não faz apenas um bom trabalho, ele traz algo mais.
É muito profissional e realmente mereceu o Globo de Ouro.
Como você avalia o resultado final?
É fantástico que a série tenha sido
apontada pelos críticos como a melhor
da última temporada. Não poderíamos
prever isso. Quanto à audiência, ela tem
sido apenas o.k.. Este é um dos momentos mais difíceis da TV norte-americana,
porque das cinco séries que vão ao ar na
terça-feira à noite, três foram indicadas
ao Globo de Ouro. É uma competição
por audiência muito difícil, e, se você
olhar para a concorrência, estamos nos
segurando muito bem.
Como será a segunda temporada? A
ação será mostrada em tempo real?
Essa é uma boa pergunta, porque ainda
não decidimos como será a segunda
temporada. Talvez façamos algumas
mudanças na estrutura da série. Também não sei o que será feito em relação à
ação em tempo real.
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