São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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Séries de março

A inovadora '24 Horas', a polêmica 'Os Assumidos' e a superprodução 'Band of Brothers', entre outras, chegam à programação este mês

BRUNO SAITO
DA REDAÇÃO

APÓS a retração que sofreu no ano passado, a TV paga começa a mostrar suas armas para reconquistar o público. Os canais de séries estréiam suas novas atrações a partir de amanhã (veja quadro).
No canal Fox, estréia "24 Horas", que foi apontada pelos críticos norte-americanos como uma das melhores séries da última temporada. Motivos para isso não faltam. "24 Horas" traz como curiosidade uma trama que se passa em tempo real e tem um protagonista (Kiefer Sutherland) que recebeu o Globo de Ouro de melhor ator pelo trabalho.
A série, que traz o terrorismo como tema, estreou dois meses após os atentados de 11 de setembro nos EUA. Nesta entrevista, um dos criadores, Robert Cochran, fala sobre as dificuldades encontradas no projeto "24 Horas".

Como surgiu a idéia de "24 Horas"?
Há um ano e meio, Joel Surrow (também produtor) me apresentou uma idéia maluca para uma série de TV: 24 episódios de uma hora cada, representando uma hora de um mesmo dia, em tempo real. Achei a idéia horrível, pensei que seria impossível gravar isso. Percebi que seria necessário uma história muito intensa, com muita ação, em que os personagens ficassem acordados durante 24 horas. Pensei em thrillers que falam sobre planos de assassinato e a tentativa de uma pessoa para evitar esse possível assassinato, como "The Day of the Jackal" e "In the Line of Fire". Percebemos também que precisávamos contar uma história paralela, com personagens com mais emoções. Então, Joel e eu, que temos filhas adolescentes, imaginamos o que faríamos se nossas filhas sumissem na mesma noite. Isso seria muita coisa para suportar, certamente não iria dormir em uma situação como essa.
Quais são as principais dificuldades encontradas em uma série como essa?
Existe a dificuldade para manter a continuidade das cenas e não perder a lógica. Como a série se passa em tempo real, tudo tem que ser consistente, todos os processos têm que ser mostrados passo a passo e você não pode fazer um corte de tempo. Em qualquer filme, para mostrar um viagem, basta que o personagem entre no avião, fazer um corte e, na cena seguinte, ele estará em Nova York. No nosso caso, isso é inviável, porque esse personagem teria que passar cinco episódios dentro do avião. É complicado manter a linearidade de tudo, trata-se de um verdadeiro quebra-cabeça.
A série, que estreou nos EUA poucas semanas após os ataques de 11 de setembro, aborda temas como terrorismo e segurança nacional. Houve modificações?
Mudamos o piloto da série, que tem uma sequência com um avião que explode durante o vôo. Não havia como retirar essa sequência sem afetar toda a trama. Retiramos apenas o momento exato da explosão. Dessa maneira, o impacto visual ficou menor. Se mostrássemos a cena, talvez algumas pessoas não se sentissem bem e perdessem a vontade de ver o restante da série. Usar o terrorismo como tema é sempre complicado, porque é uma área para muitos julgamentos. Mas, no final das contas, o público não ficou ofendido com a temática da série.
Logo após os ataques de 11 de setembro, a CIA foi muito criticada por não ter evitado o desastre. "24 Horas" também fala sobre problemas de uma unidade governamental antiterrorista. Você acha que a série foi profética?
Os EUA já sofreram ataques terroristas, no começo dos anos 90, no World Trade Center e em Oklahoma. Acho que desde antes dos acontecimentos de 11 de setembro, há no país um sentimento crescente de que não estamos seguros e isolados do restante do mundo, como pensávamos anteriormente. E essa é provavelmente a razão pela qual nós temos, na TV norte-americana, várias séries que falam sobre terrorismo, como "The Agency" e "Alias", além de "24 Horas".
O personagem David Palmer (Dennis Haysbert) é inspirado no secretário de Estado dos EUA, Colin Powell?
Ele não é baseado em um modelo único. No entanto, Colin Powell, assim como David Palmer, certamente pode ser considerado uma pessoa negra com chances de chegar à Presidência da República. Ele tem características muito interessantes para um personagem.
Por que Kiefer Sutherland foi escolhido para o papel principal? O que você achou do Globo de Ouro dado a ele?
Kiefer é um ator diferente dos vários outros que imaginamos para o papel. Há uma diferença entre um ator que tem talento e um ator que, além do talento, tem carisma e presença. Kiefer não faz apenas um bom trabalho, ele traz algo mais. É muito profissional e realmente mereceu o Globo de Ouro.
Como você avalia o resultado final?
É fantástico que a série tenha sido apontada pelos críticos como a melhor da última temporada. Não poderíamos prever isso. Quanto à audiência, ela tem sido apenas o.k.. Este é um dos momentos mais difíceis da TV norte-americana, porque das cinco séries que vão ao ar na terça-feira à noite, três foram indicadas ao Globo de Ouro. É uma competição por audiência muito difícil, e, se você olhar para a concorrência, estamos nos segurando muito bem.
Como será a segunda temporada? A ação será mostrada em tempo real?
Essa é uma boa pergunta, porque ainda não decidimos como será a segunda temporada. Talvez façamos algumas mudanças na estrutura da série. Também não sei o que será feito em relação à ação em tempo real.



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