São Paulo, domingo, 3 de maio de 1998

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TV NO MUNDO
Telejornalismo exibe discrepância


ESTHER HAMBURGER

especial para a Folha em Austin

Em palestra sobre o ofício do correspondente norte-americano na América Latina, proferida no seminário "Covering the Americas", no último dia 24 na Universidade do Texas, Eugene Robinson, editor de assuntos internacionais do jornal "The Washington Post" afirmou, quase em um lamento, que a reunião de chefes de Estado do continente no Chile foi monótona.
A opinião do experimentado jornalista, ex-correspondente em Buenos Aires do segundo jornal de Washington, descreve bem a ótica da cobertura do evento nos jornais e na TV norte-americana.
Enquanto a TV brasileira exibiu imagens fortes que sugeriam uma certa resistência latina às imposições ianques, os espectadores norte-americanos foram informados pelas emissoras locais de que não havia nada de novo no "front".
Depois que a transmissão de telejornais via Internet em tempo real se tornou realidade, discrepâncias desse tipo, entre o enfoque da reportagem internacional nos diversos países, podem ser facilmente observadas.
Uma minoria quase insignificante de espectadores bilíngues, ligados na polissemia escancarada que caracteriza a informação no mundo contemporâneo, pode observar critérios nacionais e regionais de definição da verdade empregados pela TV nos diversos países.
Em matéria de cobertura internacional, as desigualdades de poder entre as diversas nações aparecem de maneira brutal. As vezes o que é notícia ao sul do Equador não chega nem a merecer menção na televisão da América do Norte. E assuntos da América Latina que são tratados com destaque na cobertura da televisão dos EUA muitas vezes são considerados de menor importância em seu local de origem.
Nos Estados Unidos, no que toca à política internacional, imprensa escrita e televisiva em geral concordam com o governo. No país do pluralismo, em matéria de julgamento das mazelas alheias persiste um consenso nacionalista em torno de posições de força que ignora vozes dissonantes.
O caso da cobertura da reunião no Chile é paradigmático. No "Jornal Nacional" foi possível observar o presidente Bill Clinton, constrangido, obrigado a acompanhar seus colegas que se levantaram para saudar a oportuna abordagem pelo presidente brasileiro do problema de Cuba, um tema que permanece tabu nos Estados Unidos. Em contraste, a televisão americana ignorou solenemente essa e outras manifestações dos políticos latinos. Os fluxos globais de mídia paradoxalmente explicitam e talvez até reforcem, lógicas nacionais de interpretação dos fatos.


E-mail: ehamb@uol.com.br



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