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TV NO MUNDO
Telejornalismo exibe discrepância
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha em Austin
Em palestra sobre o ofício
do correspondente norte-americano na América
Latina, proferida no seminário "Covering the Americas", no último dia 24 na
Universidade do Texas,
Eugene Robinson, editor
de assuntos internacionais
do jornal "The Washington Post" afirmou, quase
em um lamento, que a reunião de chefes de Estado
do continente no Chile foi
monótona.
A opinião do experimentado jornalista, ex-correspondente em Buenos Aires
do segundo jornal de Washington, descreve bem a
ótica da cobertura do
evento nos jornais e na TV
norte-americana.
Enquanto a TV brasileira
exibiu imagens fortes que
sugeriam uma certa resistência latina às imposições
ianques, os espectadores
norte-americanos foram
informados pelas emissoras locais de que não havia
nada de novo no "front".
Depois que a transmissão de telejornais via Internet em tempo real se tornou realidade, discrepâncias desse tipo, entre o enfoque da reportagem internacional nos diversos
países, podem ser facilmente observadas.
Uma minoria quase insignificante de espectadores bilíngues, ligados na
polissemia escancarada
que caracteriza a informação no mundo contemporâneo, pode observar critérios nacionais e regionais
de definição da verdade
empregados pela TV nos
diversos países.
Em matéria de cobertura
internacional, as desigualdades de poder entre as diversas nações aparecem de
maneira brutal. As vezes o
que é notícia ao sul do
Equador não chega nem a
merecer menção na televisão da América do Norte.
E assuntos da América Latina que são tratados com
destaque na cobertura da
televisão dos EUA muitas
vezes são considerados de
menor importância em seu
local de origem.
Nos Estados Unidos, no
que toca à política internacional, imprensa escrita e
televisiva em geral concordam com o governo. No
país do pluralismo, em
matéria de julgamento das
mazelas alheias persiste
um consenso nacionalista
em torno de posições de
força que ignora vozes dissonantes.
O caso da cobertura da
reunião no Chile é paradigmático. No "Jornal Nacional" foi possível observar o presidente Bill Clinton, constrangido, obrigado a acompanhar seus colegas que se levantaram
para saudar a oportuna
abordagem pelo presidente brasileiro do problema
de Cuba, um tema que permanece tabu nos Estados
Unidos. Em contraste, a
televisão americana ignorou solenemente essa e outras manifestações dos políticos latinos. Os fluxos
globais de mídia paradoxalmente explicitam e talvez até reforcem, lógicas
nacionais de interpretação
dos fatos.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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