São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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TÁ TUDO SATURADO!

Até funkeiros criticam overdose funk na televisão

Divulgação
Bella e MC Naldinho em gravação do programa "Altas Horas", da Globo, comandado por Serginho Groisman



BRUNO GARCEZ
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

AS EMISSORAS de TV estão causando uma superlotação no "bonde" do funk carioca. É praticamente impossível dar uma zapeada na televisão sem se deparar com pelo menos um "tigrão" e uma "popozuda" rebolando e cantando refrões como "um tapinha não dói" ou "tá tudo dominado".
Com a impressionante reação da audiência à presença de funkeiros na programação, emissoras vem criando às pressas atrações voltadas para o estilo. Bandeirantes e Rede TV! passaram a exibir, há duas semanas, programas 100% dedicados ao funk, e a Gazeta pretende colocar no ar mais um em breve.
Além de celebrizar, da noite para o dia, figuras até pouco tempo desconhecidas, como MC Naldinho & Bella e Bonde do Tigrão, as emissoras transformam o funk em trilha sonora oficial de atrações como "Caldeirão do Huck", "Planeta Xuxa" (Globo), "Mulheres" (Gazeta) e "É Show" (Record). O "Superpop", da Rede TV!, foi além: criou uma edição funkeira especial, que vai ao ar às segundas-feiras.
O gênero serviu ainda para ressuscitar a carreira de um galã que nunca emplacou como ator. Alexandre Frota, atual líder e empresário do grupo de "popozudas" Funk Beat, tem aparecido quase diariamente em atrações de diversas emissoras. "A energia que o meu elenco passa é tão grande que produtores das atrações não param de chamar a gente para se apresentar", diz Frota, que deverá comandar a atração da Gazeta. "Foi um fenômeno. Nos últimos 20 dias, fomos a praticamente todos os programas. Agora, estamos recusando os convites para não saturar. É muita exposição."
Nem os pioneiros do gênero estão gostando dessa superexposição. "É perigoso. Estão pondo no ar coisas que não tem nada a ver com o verdadeiro funk. Corre o risco de acabar com o movimento", diz Rômulo Costa, dono da marca Furacão 2000, que promove bailes e empresaria artistas do funk. O grupo tem um programa na Band do Rio e pôs no ar, na semana retrasada, em rede nacional, o "Festa Funk com Furacão 2000", exibido aos domingos pela Band, às 13h.
A atração é comandada pela mulher de Rômulo, a vereadora carioca Verônica Costa, a Mãe Loura, que assina embaixo das críticas do marido. "Alexandre Frota? Concorrente? Só fui saber que ele é funkeiro agora", diz, com deboche.
Celebridades televisivas como Gugu Liberato e Joana Prado, a Feiticeira, teriam entrado na briga por funkeiros. "Íamos assinar contrato para representarmos a Furacão 2000 em São Paulo quando o Gugu apareceu e fez um acordo com eles. Foi traição", diz Hamilton Gutierrez, dono da K2 Imagem, produtora dos bailes funk de Frota. "Então trouxemos o grupo Castelo das Pedras, que antes estava negociando com Joana Prado. Ela queria representá-los, mas desistiu."
A Rede TV! é outra que apostou no filão e, em menos de uma semana, criou o "Funk Total". A diretora do programa, Mônica Pimentel, já espera que a onda seja passageira. "Nenhum estilo dura eternamente. Atualmente, o "Funk Total" é baseado no funk. Amanhã, pode incluir outros tipos de música", afirma.
O receio de que o gênero seja passageiro também fez com que outras se precavessem. A Folha apurou que o contrato da Band com a Furacão 2000 para produzir o programa em rede nacional é de apenas seis meses. O diretor de programação da emissora, Rogério Gallo, considera ter em mãos um produto superior aos da concorrência.
"A Furacão existe há 28 anos. E o programa é a expressão de um movimento. Aqui não há câmeras ginecológicas. E coisas como essa Enfermeira não pisam na Band", diz Gallo, em referência à personagem criada por Alexandre Frota que se apresenta com máscara de médico e em trajes sumários.


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