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TÁ TUDO SATURADO!
Até funkeiros criticam overdose funk na televisão
Divulgação
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Bella e MC Naldinho em gravação do programa "Altas Horas", da Globo, comandado por Serginho Groisman |
BRUNO GARCEZ
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL
AS EMISSORAS de TV estão causando uma superlotação no "bonde" do funk carioca. É praticamente impossível dar uma zapeada na televisão
sem se deparar com pelo menos um "tigrão" e uma "popozuda" rebolando e
cantando refrões como "um tapinha não
dói" ou "tá tudo dominado".
Com a impressionante reação da audiência à presença de funkeiros na programação, emissoras vem criando às
pressas atrações voltadas para o estilo.
Bandeirantes e Rede TV! passaram a exibir, há duas semanas, programas 100%
dedicados ao funk, e a Gazeta pretende
colocar no ar mais um em breve.
Além de celebrizar, da noite para o dia,
figuras até pouco tempo desconhecidas,
como MC Naldinho & Bella e Bonde do
Tigrão, as emissoras transformam o funk
em trilha sonora oficial de atrações como
"Caldeirão do Huck", "Planeta Xuxa"
(Globo), "Mulheres" (Gazeta) e "É
Show" (Record). O "Superpop", da Rede
TV!, foi além: criou uma edição funkeira
especial, que vai ao ar às segundas-feiras.
O gênero serviu ainda para ressuscitar
a carreira de um galã que nunca emplacou como ator. Alexandre Frota, atual líder e empresário do grupo de "popozudas" Funk Beat, tem aparecido quase
diariamente em atrações de diversas
emissoras. "A energia que o meu elenco
passa é tão grande que produtores das
atrações não param de chamar a gente
para se apresentar", diz Frota, que deverá
comandar a atração da Gazeta. "Foi um
fenômeno. Nos últimos 20 dias, fomos a
praticamente todos os programas. Agora, estamos recusando os convites para
não saturar. É muita exposição."
Nem os pioneiros do gênero estão gostando dessa superexposição. "É perigoso. Estão pondo no ar coisas que não tem
nada a ver com o verdadeiro funk. Corre
o risco de acabar com o movimento", diz
Rômulo Costa, dono da marca Furacão
2000, que promove bailes e empresaria
artistas do funk. O grupo tem um programa na Band do Rio e pôs no ar, na semana retrasada, em rede nacional, o
"Festa Funk com Furacão 2000", exibido
aos domingos pela Band, às 13h.
A atração é comandada pela mulher de
Rômulo, a vereadora carioca Verônica
Costa, a Mãe Loura, que assina embaixo
das críticas do marido. "Alexandre Frota? Concorrente? Só fui saber que ele é
funkeiro agora", diz, com deboche.
Celebridades televisivas como Gugu
Liberato e Joana Prado, a Feiticeira, teriam entrado na briga por funkeiros. "Íamos assinar contrato para representarmos a Furacão 2000 em São Paulo quando o Gugu apareceu e fez um acordo com
eles. Foi traição", diz Hamilton Gutierrez, dono da K2 Imagem, produtora dos
bailes funk de Frota. "Então trouxemos o
grupo Castelo das Pedras, que antes estava negociando com Joana Prado. Ela
queria representá-los, mas desistiu."
A Rede TV! é outra que apostou no filão e, em menos de uma semana, criou o
"Funk Total". A diretora do programa,
Mônica Pimentel, já espera que a onda
seja passageira. "Nenhum estilo dura
eternamente. Atualmente, o "Funk Total"
é baseado no funk. Amanhã, pode incluir
outros tipos de música", afirma.
O receio de que o gênero seja passageiro também fez com que outras se precavessem. A Folha apurou que o contrato
da Band com a Furacão 2000 para produzir o programa em rede nacional é de
apenas seis meses. O diretor de programação da emissora, Rogério Gallo, considera ter em mãos um produto superior
aos da concorrência.
"A Furacão existe há 28 anos. E o programa é a expressão de um movimento.
Aqui não há câmeras ginecológicas. E
coisas como essa Enfermeira não pisam
na Band", diz Gallo, em referência à personagem criada por Alexandre Frota que
se apresenta com máscara de médico e
em trajes sumários.
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