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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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Mais uma novela das 18h da Globo tem problemas de audiência; entre as possíveis razões, a concorrência acirrada no horário e até dúvidas sobre a adequação dos protagonistas, Vera Fischer e Miguel Falabella

O calcanhar-de-Aquiles

Renato Rocha Miranda/TV Globo
Vera Fischer e Miguel Falabella, que terão mais cenas de amor a pedido do público


CRISTINA RIGITANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

COM AUDIÊNCIA abaixo do índice projetado pela TV Globo, a novela "Agora É que São Elas" ainda não decolou. Os programas policiais da concorrência e até o desenho animado "Os Simpsons" contribuem para tirar público da trama das 18h.
"Agora É que São Elas" tem marcado média de 26 pontos, longe do trilho da emissora, que seria entre 30 e 35 pontos. Autor da novela, Ricardo Linhares diz que está se acertando. "Não estamos tendo nem menos nem mais audiência que a anterior ["Sabor da Paixão'"."
Como a faixa das seis da tarde é decisiva na formação da audiência do restante do horário noturno (o mais caro da TV), a Globo decidiu apressar os trabalhos do grupo de discussão, formado por telespectadores. Reunidos pela emissora, eles analisam e dão suas opiniões sobre personagens e enredo da novela.
Com base nos relatos das pessoas selecionadas, a primeira providência da emissora deve ser a gravação de cenas de beijos tórridos entre os personagens de Miguel Falabella (Juca Tigre) e Vera Fischer (Antônia). Parece que o público quer testar a química entre os dois e ver se o par realmente convence.
"As mulheres do grupo [de discussão" pediram que os dois acertem o erro do passado e vivam aquele amor juvenil. Daqui a duas semanas, eles vão se reaproximar", promete.
Coordenadora do Núcleo de Pesquisas de Telenovelas da USP, Maria Lourdes Motter especula sobre a origem da baixa audiência: "O horário tem características que não vêm sendo respeitadas. Antes, às 18h, passava novela de época ou adaptação literária, romance. Às 19h, comédia. E, às 20h, o drama. Começou a entrar qualquer coisa em qualquer horário". A professora acredita que, se nada for feito, a novela das seis está condenada à extinção. "Vai dar lugar a experimentações, a novos caminhos", prevê. Ana Maria Moretzsohn, autora de "Sabor da Paixão", não descarta essa possibilidade. "Do jeito que a coisa anda, tudo é possível. Sempre reprisaram o último capítulo das novelas aos sábados. Desta vez, não foi ao ar por causa do futebol. Quero fazer novela das sete, que sofre menos pressão", diz ela. Emanoel Jacobina, autor de "Coração de Estudante", acha que há exagero nessa previsão. Ele enfrentou cobranças no início de sua novela, que chegou a dar menos audiência que "Malhação".

Disputa Doutora em dramaturgia pela ECA-USP, Renata Pallottini diz que a concorrência está atrapalhando o desempenho das novelas da Globo. "Hoje temos TV paga, programas de violência... O público está dividido."
Linhares concorda. "Uma parcela fica mudando de canal. A Globo não tem mais hegemonia. O horário é complicado, tem os programas policiais",diz.
"Erraram no elenco. Falabella não é galã. Vera Fischer tem carisma, mas, sozinha, não vai segurar. A novela está mal encaminhada", diz Pallottini.
Linhares não acha que tenha errado na escolha do casal -o papel de Falabella foi recusado por Fábio Júnior. "São atores cômicos, e a minha novela é cômica."
O autor diz que não vem sofrendo pressão da Globo. "Só recebo elogios."
O diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger, diz que a emissora está satisfeita: "Trabalhamos em cima de projetos consistentes, que não oscilam com os números da audiência".



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