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CRÍTICA
Quem vê tanta novela?
FRANCISCO MARTINS DA COSTA
Editor do TV Folha
Na semana passada,
uma das mais tradicionais "soap-operas" da TV
norte-americana terminou. "Another World"
teve nada menos que
8.891 capítulos, que foram ao ar durante os últimos 35 anos.
O fim dessa telenovela
não é um fato isolado na
TV dos EUA. Conforme o
prestigioso jornal "The
New York Times" atestou
em reportagem na primeira página, essa parece
ser uma tendência irreversível na televisão de lá.
As novelas perderam
cerca de 25% de sua audiência na última década
e foram expulsas do horário nobre. Mesmo durante a tarde, a audiência
também despencou devido às mudanças nos hábitos do principal público
espectador, as donas-de-casa.
Com cada vez mais mulheres trabalhando, estudando e passando a
maior parte do tempo fora do lar pelos mais diversos motivos, a audiência
tende a cair ainda mais.
Mary Alice Dwyer-Dobbin, diretora da Procter & Gamble Productions (nome que por si só
já explica a origem do termo "soap-opera"), reconhece que os dias de glória já se foram e não voltam mais.
No Brasil, as coisas tendem a seguir o mesmo rumo, apesar de muita gente ainda investir pesado
no gênero.
Na quarta-feira passada, a TV Globo publicou
um anúncio enorme em
vários jornais para mostrar que seus índices de
audiência vêm se mantendo estáveis nos últimos anos. OK, podem estar se mantendo estáveis
de 97 para cá, principalmente se analisados
grandes blocos de horário, como as faixas "da
manhã", "da tarde" e "da
noite". Mas hoje é incontestável que a audiência
especificamente das novelas está longe dos números que registrava há
não muito tempo.
"Malhação" já teve uma
audiência média próxima
dos 30 pontos (cada ponto equivale a cerca de 80
mil telespectadores na
Grande São Paulo). Na
segunda-feira, registrou
18 pontos de média.
Na faixa das seis, a audiência média das novelas em 1993 ficava em torno dos 48 pontos. Na última segunda-feira, "Força
de um Desejo" marcou
"apenas" 24 pontos.
"Top Model", em 1989,
tinha média de 60 pontos,
segundo o Ibope. A atual
novela das sete, "Andando nas Nuvens", registrou 31 pontos na última
segunda-feira.
Para finalizar, "Suave
Veneno", a trama que
atualmente é exibida na
faixa das oito, raramente
passa dos 38 pontos de
média. "O Rei do Gado",
de 1996, ficava sempre
pelo menos dez pontos
acima desse patamar, e
"O Salvador da Pátria",
de 1989, tinha uma média
de 63 pontos.
A queda do interesse
pelas novelas na Globo é
atestado pelos números
do Ibope. Nas outras
emissoras, pode ser medido pelo número de tramas atualmente no ar. A
Bandeirantes desistiu de
fazer produções no gênero após o fiasco de "Serras Azuis" e "Meu Pé de
Laranja Lima". O SBT já
exibiu simultaneamente
três novelas -atualmente são só duas ("A Usurpadora" e "Chiquititas").
A Manchete já teve dois
horários para novelas
(hoje só tem um), e a
CNT/Gazeta, que não
tem nenhuma novela
atualmente no ar, já chegou a exibir para seus telespectadores quatro novelas mexicanas ao mesmo tempo.
A Record, ao que se sabe, não tem planos de
ampliar o horário dedicado às novelas.
A crise nas novelas,
além de "numérica",
também se manifesta na
falta de talentos, renovação e criatividade.
A direção da Globo tenta passar a impressão de
que tudo está muito bem,
mas quando a ex-paquita
Letícia Spiller vira estrela
da novela das oito, não
resta dúvida que algo está
errado.
É difícil de acreditar que
tudo esteja azul na Globo
quando se sabe que a audiência da atual novela
das sete fica abaixo da
média de "Zazá", um notório fracasso que tinha
médias de 33 pontos.
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