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Casados com o Brasil
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Paula Saldanha e Roberto Werneck gravando um documentário no cerrado, em 1991 |
Dois dos mais antigos documentaristas em atividade na TV, Paula Saldanha e Roberto Werneck, hoje na Cultura, falam sobre os 25 anos de estrada e de produção independente
FERNANDA DANNEMANN
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
DEPOIS DE 25 anos de produção independente ao lado do marido, o
biólogo Roberto Werneck, 51, a jornalista Paula Saldanha, 49, contabiliza milhares de reportagens, mais de 90 mil fotos e
de cem documentários -a maioria para
o programa "Expedições", veiculado pela TVE e pela TV Cultura (domingos,
19h30). Saldanha falou ao TV Folha.
A produção independente é uma aventura de risco no Brasil?
É em qualquer lugar; no Brasil, muito
mais, porque com a extensão territorial
do país, as emissoras nacionais restringem o mercado. Faço um acordo com a
Rede Brasil (TVE) e a Cultura (que são
afinadas em termos de filosofia), mas
não posso simultaneamente negociar
com uma emissora comercial. E tem os
custos do programa, já que o "Expedições" é produzido em viagens, e viajar
dentro do Brasil é caríssimo. Até 1985, o
formato também dificultava, porque não
era permitido fazer denúncia.
Como era naquela época?
Tivemos muita censura. Um exemplo é
o título "A Amazônia é Nossa", de 1979,
além de sete minutos do próprio programa. Criticávamos a entrada de multinacionais na floresta, desmatamentos,
queimadas e grilagem de terra.
Mas isso mudou.
Lentamente. No programa do último
dia 22, falamos da grilagem de terra e da
destruição de nascentes dos principais
afluentes do rio São Francisco. Hoje preferimos apontar soluções, o que nos faz
aprofundar a pesquisa e viajar mais. O
programa é produzido em 15 dias e leva
um mês pra ser editado.
Como é viver viajando?
Fascinante. Meu caçula está com 20
anos; quando comecei a viajar com o Roberto, ele tinha três. Tinha o esquema das
avós e das madrinhas. Na adolescência,
nossos três filhos reclamavam mais.
A produção independente que tem por
tema a educação é mais fácil de fazer?
O "Expedições" é jornalístico, social e
cultural. Mas o pessoal acha que meio
ambiente é bichinho e floresta. No começo, quando fazíamos muita denúncia,
era difícil conseguir patrocínio. As empresas tinham medo que denunciássemos o que elas faziam de errado. Depois
da Rio 92 é que ficou "in" patrocinar programas ecológicos.
No exterior isso é diferente?
A Europa é fascinada pelo lado exótico
do Brasil. Já fomos contactados por canais da Inglaterra, França e Itália. Estamos traduzindo nossos livros e programas para o inglês e o espanhol.
Quais os maiores desafios nesses 25
anos de produção independente?
Chegar à nascente do rio Amazonas,
em altitude de 5.500 metros, nos Andes
peruanos. E conseguir verba para viabilizar o programa na TV. Até 1995, nunca
tivemos patrocínio. No caso do "Fantástico", éramos pagos pelo direito de exibição por um período, o que muitas vezes
nos deixava no prejuízo. A parceria com
a Globo acabou porque ela passou a
comprar programas estrangeiros, mais
baratos por serem vendidos para mais de
cem países.
Qual é a média de audiência?
O "Expedições" está entre os de maior
audiência na TVE e na Cultura. Na TVE,
tem cerca de 12 milhões de telespectadores semanais.
Como foi sua passagem pela Globo?
Entre 1974 e 1985, apresentei o "Fantástico", o "Jornal Hoje" e o "Globinho".
Mas, já em 1977, eu e Roberto passamos
a produzir documentários científicos para o "Globinho". Dois anos depois, fizemos o primeiro programa sobre ecologia
para jovens na TV brasileira, o "Globinho Repórter".
Por que você saiu da Globo?
Em 85, tentei resgatar o "Globinho", o
"Globinho Repórter" e sugeri um programa de entretenimento, mas nada foi
adiante porque a emissora entrou numa
linha mais comercial. Preferi sair e fechei
um contrato de produção independente
com o "Fantástico", que durou até 1992.
Foi a primeira vez que a Globo trabalhou
com material jornalístico de produtora
independente. Eles avisavam que não
queriam filmes científicos, porque era
pra povão. Diziam que o velhinho não
podia dormir na cadeira.
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