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BAIXO NÍVEL
Programas como "Ed Banana" e "Festa do Mallandro" mostram atrações com cobras e lagartos e promovem lutas no gel com garotas de biquíni
Brincadeiras de mau gosto infestam a TV
Guilherme Maranhão/Folha Imagem
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Apresentador Edilson Oliveira, do 'Ed Banana' (record), venda os olhos de garota da platéia, que tem de tatear bichos |
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
D E garotas de biquíni lutando em
um ringue de gel a competições
com crianças de 4 anos para ver quem
bebe primeiro oito copos de refrigerante, os programas da TV brasileira estão
cada vez mais recheados de atrações absurdas. É um festival de mau gosto.
Encabeçando a lista, está "Ed Banana", exibido de segunda a sexta, às
21h50, na Rede Record. O programa estreou no início de janeiro, com a função
de ocupar o horário da "Escolinha do
Barulho", que estava de férias. O sucesso
foi tanto que a emissora decidiu manter
a atração, que chega a atingir picos de 12
pontos no Ibope (cada ponto equivale a
cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo).
Com produção precária -ao custo de
R$ 40 mil por mês, um orçamento muito baixo se comparado, por exemplo, ao
global "Megatom", que por semana gasta US$ 60 mil-, "Ed Banana" vem conquistando o público com brincadeiras
como a das urnas com lagartos, cobras e
aranhas. Nesse quadro, uma pessoa
vendada tem de adivinhar qual animal
está tateando. Nada original, pois a fórmula já foi usada por programas como o
"Topa Tudo por Dinheiro", do SBT
-mas, no caso de "Ed Banana", a
"brincadeira" se tornou o ápice.
"Não acho que esse quadro seja apelativo. Mostrar mulher pelada ou desgraças humanas é muito pior, coisa que jamais fizemos aqui. Além disso, nossos
animais são cuidados por um biólogo",
diz o diretor Felipe Rigueiro. Para o
apresentador e ator Edilson Oliveira, o
"Ed Banana" em questão, "o ser humano é feito para ter contato com a natureza, e a brincadeira estimula isso".
Não é a opinião de Marco Ciampi, presidente da Arca Brasil (Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal): "Esse tipo de atração é um desserviço e um desrespeito com esses bichos.
Uma brincadeira sensacionalista e sem
educação até com os próprios movimentos de proteção aos animais".
Outro exemplo de mau gosto é "Cassino Dance", exibido aos domingos, às
20h, na CNT/Gazeta. O programa, que
entrou no ar no final de 99, tem como
um de seus trunfos a "garota constelação", uma menina de biquíni com planetas pintados pelo corpo. Em uma das
brincadeiras, ela segura na boca uma bexiga amarrada em um barbante. Dois
voluntários da platéia prendem, também na boca, as pontas do fio. Vence
quem "comer" o barbante mais rápido e
alcançar o rosto da moça.
Em outra brincadeira do "Cassino
Dance", dois rapazes do auditório têm
de enfiar a cara em um prato de farinha
para encontrar a aliança da "noivinha"
-espécie de Tiazinha vestida de espartilho branco e véu. O ganhador leva para
casa um "Elisbelt", aparelho para modelar o corpo divulgado pela Feiticeira.
"Hoje a TV está muito parada. Queria
uma brincadeira dinâmica, que mexesse
com o público", afirma Antony Cassino,
o criador e apresentador do "Cassino
Dance". "Mas tenho consciência de que,
mais do que a brincadeira em si, o que
chama a atenção das pessoas é a mulher.
Vivemos em um país machista, e é o corpo dela que vende."
Fechando o programa, há ainda a luta
de duas modelos de biquíni em um ringue de gel. O quadro não é exclusividade
de "Cassino Dance": a "Festa do Mallandro", também da CNT/Gazeta, deve
muito de seus 7 pontos de média no Ibope à peleja entre duas garotas que se
lambuzam em uma gosma azul.
O programa, famoso por suas pegadinhas de gosto duvidoso, traz ainda o conhecido concurso de calouros. Mas com
um toque diferente: quem cantar mal
pode provocar a "ira" do apresentador
Sérgio Mallandro, que joga no candidato baldes de água, farinha, tomates, ovos
e até cobre seu rosto com fita crepe. Esse
quadro está no ar há três semanas.
"O Sérgio avisa aos calouros que tudo
pode acontecer. Eles topam de livre e espontânea vontade. É como se eu falasse
que te jogo do 12º andar se você quiser",
diz o diretor Ivan Ferreira.
Mas brincadeiras absurdas não são
privilégio apenas dos programas para
adultos. Um dos campeões no quesito
"nonsense" é o infanto-juvenil "Passa
ou Repassa", que o SBT transmite de segunda a sexta, às 16h45.
Apresentado por Celso Portiolli, é um
"game show" no qual escolas se enfrentam. Entre os desafios, está o quadro
"Salada Russa". Nele, um estudante coloca uma tigela na cabeça, onde são depositados repolho, pimentão etc. Cobrindo tudo isso, um líquido que se parece com maionese. Ganha quem cumprir a prova primeiro. Há também um
bloco com perguntas -quem errar leva
uma torta no rosto-, como "Qual o nome dos cinco apresentadores do programa "Fantasia", do SBT?".
"O povo em casa tem de ter circo. Esses quadros são o lado pastelão do programa. Mas também ensinamos muito", conta o Valter Leite, diretor do "Passa ou Repassa".
Para a psicóloga Ana Olmos, uma das
fundadoras da ONG TVer, que estuda e
reflete o conteúdo exibido pela TV brasileira, "o fato de uma emissora ser comercial não justifica entretenimento de
tão baixa qualidade". "Jogar torta na cara de criança que não acerta uma pergunta é degradante. E mostrar garotas
lutando no gel desqualifica e humilha a
mulher. Os diretores desses programas
precisam ter consciência de que são responsáveis pelo que apresentam."
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