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TV NO MUNDO
Clinton vira "rei' da mídia na China
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, em Austin
A China é sempre misteriosa no tratamento dispensado aos visitantes estrangeiros. Por mais ilustres que eles sejam, por
mais poderosos sejam seus
exércitos, por mais impressionantes sejam suas
invenções tecnológicas,
por mais promissoras sejam suas economias, por
mais iluminista que seja
sua retórica, os chineses
insistem na prerrogativa
milenar e resistem o quanto podem. Não é à toa que
a mídia ocidental é assunto
tão delicado no maior país
do Oriente.
Mais do que qualquer
acordo internacional ou
decisão concreta, o trabalho de Clinton na China foi
aparecer na mídia, da China e de todo o mundo. Os
chineses brindaram Bill
Clinton com exposição ao
vivo na televisão e rádio locais, sempre tão atentos à
filtragem da informação
estrangeira.
O presidente dos Estados
Unidos arriscou até um
palpite sobre o favoritismo
do Brasil na Copa do Mundo. Ao colocar o presidente norte-americano na vitrine, o submeteram a uma
sequência de desafios verbais, que em nada abalaram a estabilidade do regime "sui generis" daquele
país.
A decisão inusitada do
governo chinês -de permitir a transmissão ao vivo
da entrevista coletiva concedida pelos presidentes
Bill Clinton e Jiang Zemin-, seguida pela transmissão também ao vivo da
palestra de Clinton na Universidade de Pequim, reduto da oposição ao regime e importante centro intelectual do país, culminou
com a participação do chefe de Estado dos Estados
Unidos em um programa
de rádio, também ao vivo.
Bill Clinton pôde criticar
a falta de democracia política, mas teve de enfrentar
o questionamento dos universitários chineses sobre
as desigualdades sociais
nos Estados Unidos. Clinton ainda teve a chance de
se envaidecer diante dos
elogios de ouvintes de rádio sobre sua boa forma física.
A TV livre na China foi
assunto em 1989, quando
integrantes do movimento
estudantil oposicionista
foram violentamente reprimidos na praça Tiananmen, episódio que gerou
protestos no mundo inteiro e ainda hoje legitima a
oposição de políticos norte-americanos à viagem
presidencial. Na ocasião,
as transmissões da CNN
captadas via satélite permitiram que os chineses tivessem algum acesso à informações do que ocorria
em seu país hipercensurado.
Quase dez anos depois,
os chineses simbolicamente usam a TV para enviar
seu recado de abertura
controlada. A visita de Bill
Clinton à China repercutiu
internacionalmente como
um sinal de liberação política. Não que alguma mudança concreta tenha
acontecido no regime daquele país de tradição imperial. Ao exibir Clinton,
os chineses rebateram a luz
dos refletores.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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