São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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TV NO MUNDO
Clinton vira "rei' da mídia na China

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, em Austin


A China é sempre misteriosa no tratamento dispensado aos visitantes estrangeiros. Por mais ilustres que eles sejam, por mais poderosos sejam seus exércitos, por mais impressionantes sejam suas invenções tecnológicas, por mais promissoras sejam suas economias, por mais iluminista que seja sua retórica, os chineses insistem na prerrogativa milenar e resistem o quanto podem. Não é à toa que a mídia ocidental é assunto tão delicado no maior país do Oriente.
Mais do que qualquer acordo internacional ou decisão concreta, o trabalho de Clinton na China foi aparecer na mídia, da China e de todo o mundo. Os chineses brindaram Bill Clinton com exposição ao vivo na televisão e rádio locais, sempre tão atentos à filtragem da informação estrangeira.
O presidente dos Estados Unidos arriscou até um palpite sobre o favoritismo do Brasil na Copa do Mundo. Ao colocar o presidente norte-americano na vitrine, o submeteram a uma sequência de desafios verbais, que em nada abalaram a estabilidade do regime "sui generis" daquele país.
A decisão inusitada do governo chinês -de permitir a transmissão ao vivo da entrevista coletiva concedida pelos presidentes Bill Clinton e Jiang Zemin-, seguida pela transmissão também ao vivo da palestra de Clinton na Universidade de Pequim, reduto da oposição ao regime e importante centro intelectual do país, culminou com a participação do chefe de Estado dos Estados Unidos em um programa de rádio, também ao vivo.
Bill Clinton pôde criticar a falta de democracia política, mas teve de enfrentar o questionamento dos universitários chineses sobre as desigualdades sociais nos Estados Unidos. Clinton ainda teve a chance de se envaidecer diante dos elogios de ouvintes de rádio sobre sua boa forma física.
A TV livre na China foi assunto em 1989, quando integrantes do movimento estudantil oposicionista foram violentamente reprimidos na praça Tiananmen, episódio que gerou protestos no mundo inteiro e ainda hoje legitima a oposição de políticos norte-americanos à viagem presidencial. Na ocasião, as transmissões da CNN captadas via satélite permitiram que os chineses tivessem algum acesso à informações do que ocorria em seu país hipercensurado.
Quase dez anos depois, os chineses simbolicamente usam a TV para enviar seu recado de abertura controlada. A visita de Bill Clinton à China repercutiu internacionalmente como um sinal de liberação política. Não que alguma mudança concreta tenha acontecido no regime daquele país de tradição imperial. Ao exibir Clinton, os chineses rebateram a luz dos refletores.


E-mail: ehamb@uol.com.br



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