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Além de conquistar uma boa audiência, como suas antecessoras produzidas no
México e exibidas pelo SBT, "A Usurpadora" recebe elogios de atores, roteiristas
e "noveleiros" brasileiros, com sua trama convencional e familiar
Novela mexicana amplia seu sucesso
ANDRÉA DE LIMA
da Reportagem Local
O sucesso da novela "A Usurpadora" vem surpreendendo e não
mais se restringe só aos números
do Ibope. Além de agradar aos telespectadores, vem conquistando
prestígio entre anunciantes e especialistas em novelas, algo inédito
na trajetória das produções mexicanas exibidas no Brasil.
Mesmo com seus diálogos primários e sua produção pouco sofisticada, por não apelar para o sexo e a violência e caprichar nas tramas simples baseadas no romance
clássico, vem fazendo com que atores e diretores consagrados no Brasil reconheçam nas novelas
mexicanas qualidades hoje
raras na teledramaturgia
nacional.
No ar pelo SBT desde junho, de segunda a sexta, às
20h, a novela mexicana está aumentando progressivamente sua audiência no
horário nobre e batendo
recorde nos EUA, onde é
transmitida desde o início
do primeiro semestre.
"A Usurpadora" foi exibida pela primeira vez em
98, no México, pela XEW
TV, emissora do grupo Televisa, responsável pela
produção.
Especialistas em novelas
afirmam que "A Usurpadora" é um autêntico resgate dos
folhetins franceses do século 19,
das radionovelas cubanas e das fotonovelas brasileiras.
O novelão, como é conhecido na
América Latina, tornou-se tema de
estudos acadêmicos. O mestre em
novelas pela USP, Mauro Alencar,
37, é um de seus defensores.
"Adoro "A Usurpadora". A protagonista, Gabriela Spanic, é lindíssima. Vi em vários países o poder de
atração dessa novela", diz.
Ele descreve que é no cenário
"paradisíaco" de Cancún, "o mais
belo balneário mexicano", que se
passa o folhetim melodramático,
as mazelas da sociedade dividida
entre ricos e pobres.
"As pessoas têm de entrar nesse
jogo de teleficção, onde a trama se
torna verossímil. Acredito que falta um pouco de edição de imagens
à "A Usurpadora", além de uma
melhor trilha sonora e um bom
stock-shot (recurso de imagens
gravadas)", afirma Alencar, para
quem a teledramaturgia permite a
integração latino-americana, a
ponto de se converter em tema de
sua futura tese de doutorado.
"A Televisa vem investindo muito em teledramaturgia para recuperar sua audiência, ameaçada
com o surgimento, em 94, da rival
TV Azteca", afirma Silvia Oroz, 47,
professora de comunicação da
UFRJ e da UNB.
Assessora de dramaturgia da Televisa, Oroz argumenta que a TV
Azteca é mais comercial. "Ela já foi
fundada com a missão de modernizar as produções mexicanas, não
só de novelas, muitas delas exportadas para os EUA."
A professora conta que, na novela "Mirada de Mujer" (Olhar de
Mulher), da TV Azteca, a protagonista é uma mulher na menopausa,
que se apaixona por um homem
mais jovem. A melhor amiga dela é
uma mulher liberal que se relaciona com vários homens e acaba
contraindo o vírus HIV.
"Isso significou uma renovação
no universo da dramaturgia mexicana. Esses temas são de vanguarda, diferentes de "A Usurpadora",
com a clássica troca de identidade
das gêmeas Paola e Paulina, interpretadas pela atriz venezuelana
Gabriela Spanic, e da mãe abnegada, desempenhada pela atriz e ex-cantora Libertad Lamarque (vovó
Piedade)."
Para Oroz, ""A Usurpadora" é
uma novela absolutamente tradicional, em termos de teledramaturgia e de contexto mexicanos".
"A emoção, característica fundamental das narrativas populares e
da teledramaturgia, está presente
em "A Usurpadora", um novelão
exemplar, do qual gosto muito."
Oroz afirma que a Televisa tem
uma linha de montagem nesse segmento de telenovelas. "Enquanto a
TV Globo grava três novelas ao
mesmo tempo, a Televisa roda
seis." Cada capítulo da Globo custa
entre R$ 80 mil e R$ 120 mil. Já na
Televisa, esses valores caem para
R$ 30 mil.
Bom negócio
O diretor comercial da DPZ, Daniel Barbará, 52, explicou que, em
decorrência desse esquema industrial, as inserções publicitárias nas
novelas mexicanas são entre 50% e
60% menores em relação às similares brasileiras.
Barbará avalia que os intervalos
comerciais entre as novelas mexicanas são menores. "No SBT, isso
ocorre exatamente para manter a
audiência em alta e o espectador
"preso" ao programa seguinte -no
caso, o igualmente popular "Programa do Ratinho"-, garantindo
fidelidade à emissora."
"Uma parte da elite brasileira
não só assiste à novela mexicana e
a programas populares como consome produtos anunciados nos intervalos dessa programação", adverte o publicitário Antonio Rosa
Neto, 46. Ele diz que, com esse tipo
de entretenimento, a população
hoje entende melhor a TV. "O SBT
está no caminho certo."
Fórmula eficaz
Para Herval Rossano, 64, diretor
de núcleo da TV Globo, as novelas
mexicanas mostram o que o público quer ver, a história da Cinderela,
do forte contra o fraco. "É a fórmula que funciona".
Rossano diz que é preciso que a
TV se dedique mais ao sonho e à
ilusão do espectador.
Já Leonor Bassères, 73, roteirista
da Globo, desmente a tese de que a
telenovela está morrendo. "No
Brasil, não é porque o SBT deixou
de fazer novela e está importando
que ela está em fase de extinção.
Acho ótimo que se continue a fazer
novela, onde quer que seja".
A roteirista reivindica a supremacia dos latino-americanos em
novelas. "É um patrimônio nosso".
Pegando carona na onda mexicana, a atriz Arlete Sales diz que é
preciso resgatar o folhetim.
"Quando assisto às novelas mexicanas me lembro de como tudo
começou. É engraçado, nostálgico", afirma a atriz.
O diretor de programação do
SBT, Eduardo Lafon, acredita que
a exibição dublada de "A Usurpadora" não prejudica a audiência do
horário. "A novela tem uma história leve e não identifica o México
como cenário, o que poderia afastar o espectador".
Sinopse
A trama da "A Usurpadora"
conta a história de Paulina (Gabriela Spanic), uma moça pobre
que trabalha em um clube de luxo e
mora com sua mãe, Paula (Nuria
Bages), em uma choupana na cidade de Cancún. No trabalho, Paulina conhece uma sósia sua, Paola
(Gabriela Spanic). Por uma oferta
em dinheiro, Paola lhe oferece uma
troca de identidade durante um
ano, enquanto ela se diverte com
seus amantes.
Pressionada pela sósia, Paulina
acaba aceitando a proposta e vai
para a mansão da família Bracho,
onde Paola mora com seu marido,
Carlos Daniel (Fernando Colunga)
e os dois filhos dele do primeiro casamento, Carlinhos e Lisete. Na
mesma casa mora a matriarca da
família, a vovó Piedade. Junto com
a usurpadora Paola, Piedade acaba
tirando a família da ruína.
No SBT, "A Usurpadora" substituiu "Pérola Negra", novela que já
foi produzida e exibida na Argentina e ganhou uma versão brasileira,
adaptada por Crayton Sarzy, o homem que convenceu Silvio Santos
a comprar da Televisa a trilogia
"Maria Mercedes"/"Marimar"/
"Maria do Bairro", as novelas de
maior audiência do SBT.
Vendida a 120 países e traduzida
em mais de 25 idiomas, "A Usurpadora",
alcança no Brasil índice semanal de audiência entre 19 e 21 pontos, segundo o Ibope.
Cada ponto equivale a
cerca de 80 mil telespectadores na Grande
São Paulo.
É um ótimo índice,
principalmente quando se compara com
"Força de um Desejo",
trama exibida às 18h
pela Rede Globo e que,
na semana passada,
obteve médias de audiência entre 20 e 23
pontos. "Suave Veneno", a novela mais vista da TV, que vai ao ar
às 20h40, também na
Globo, atinge médias
entre 35 e 38 pontos.
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