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Edson na Vila das Maravilhas
TERRA ENCANTADA
A Vila Madalena que só a Globo vê
Bel Pedrosa/Folha Imagem
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Favela localizada no bairro da Vila Madalena, em São Paulo |
Na nova novela das sete, bairro paulistano ganha status de "Village brasileiro", mas, fora da TV, tem sérios problemas de trânsito, barulho e criminalidade
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ALEXANDRE MARON
DA SUCURSAL DO RIO
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
A REDE Globo lança amanhã, às
19h, mais uma tentativa de seduzir o
público paulistano: a novela "Vila Madalena", escrita por Walther Negrão e dirigida por Jorge Fernando. Mas, a julgar
pela forma como a emissora descreve o
bairro da cidade retratado na trama, é
uma Vila Madalena que só a Globo vê.
Segundo Negrão, que mora na Vila, o
bairro paulistano é uma versão de locais
famosos como o Village e o Soho, em
Nova York, e Montmartre, em Paris.
"É o meu bairro, moro lá há oito anos.
É um lugar humano da metrópole, no
qual você cruza com artistas de várias
áreas. As pessoas têm uma intensa vida
social e cultural", afirma o autor, que
pretende mostrar "o lado gostoso dessa
região de São Paulo". "As notícias negativas, eu deixo para os jornais. Chega de
vodu! Não vou grifar coisa ruim, a novela
não vai ter mendigo, essas coisas."
Mas a Vila Madalena da vida real está
longe de se parecer com algum desses
bairros internacionais ou com a terra dos
sonhos de Negrão. Lugar tranquilo e residencial no passado, hoje ela está infestado de bares, lojas, trânsito e crimes.
Segundo o 14º Distrito Policial, onde
são registradas as ocorrências policiais
do bairro, em média, são notificados oito
roubos e furtos de carros todos os finais
de semana. Por dia, são registrados dez
furtos e cinco roubos. Esse DP, segundo a
Polícia Civil, está entre as quatro delegacias da região oeste da cidade campeãs
em registros de roubo e furto de carro.
De acordo com a polícia, apesar de este
ano esses crimes estarem diminuindo na
região, aumentaram a apreensão e o uso
de entorpecentes, em relação a 98.
Morador da Vila Madalena desde 1959,
o comerciante aposentado Eduardo Farah diz que seu bairro já não é mais o
mesmo desde o fim dos anos 80, quando
a vizinhança passou a ser substituída por
bares e casas noturnas. "O bairro se descaracterizou totalmente, os vizinhos não
aguentaram e se mudaram. Não consigo
ter paz e só não saio daqui porque não
quero que minha casa vire um bar." Para
protestar contra esses transtornos, ele
colocou uma placa na porta que diz: "Pitta, Covas e FHC: os moradores desta casa
querem poder dormir!".
Para Iracema Miranda, que vive no
bairro há 19 anos, "a época da Vila Madalena já passou": "Agora só tem prédio,
barulho, sujeira. Se a novela for mostrar
um paraíso, estará mentindo...".
Como arquiteto que trabalha na região,
Marcelo Ferraz, diretor do Instituto Lina
Bo e Pietro Maria Bardi, acredita que o
grande volume de construções no local
"vai deixar a Vila Madalena cada vez
mais sufocada". "Os aluguéis ficaram
muito caros, e as ruas viraram ponto de
passagem do tráfego de veículos. À noite,
o bairro se transforma, com bares e boates que atraem as drogas e a polícia. Mas
ainda é um lugar bastante agradável."
Dono do restaurante Pitanga, na rua
Original, o publicitário Peninha concorda com Ferraz: "A Vila Madalena é cheia
de charme, mas cresceu, acompanhando
o próprio crescimento de São Paulo. Aumentaram a violência e a insegurança,
por causa de tantos carros que vêm para
cá à procura de diversão". Com a estréia
da novela da Globo, Peninha afirma que
está preocupado: "Claro que propaganda é sempre bom, mas a novela pode
atrair mais gente ainda e piorar a situação, mudando ainda mais o perfil de
quem frequenta a região".
Talvez a razão para tanta discrepância
entre ficção e realidade seja a intenção
declarada de Walther Negrão de fazer
uma comédia romântica em ritmo de folhetim, e não "narrar a história do bairro". "Toda essa novela é composta de
um casal querendo ir para a cama e todo
mundo querendo evitar que eles consigam isso", brinca.
Seguindo essa lógica, a história começa com Solano (Edson Celulari) comemorando o primeiro trabalho em seis
meses, um "bico" como caminhoneiro.
Para completar a felicidade, sua namorada, Eugênia (Maitê Proença), revela
que está grávida.
Os dois decidem se casar, mas o tal bico acaba envolvendo Solano num crime
de contrabando, e ele é condenado a 17
anos de prisão. Desolado, pede a Eugênia que se afaste dele.
Ao mesmo tempo, Roberto (Marcos
Winter) e Pilar (Cristiana Oliveira) estão
noivos e felizes. Mas Roberto, num ataque de ciúmes, se envolve em uma briga
e acaba causando, sem querer, a morte
de um homem. Vai preso também.
Roberto e Solano se tornam amigos na
prisão. Sete anos depois, Solano é solto e
leva uma carta do amigo para Pilar. Só
que, em vez de entregar a mensagem, se
apaixona pela moça e forma um triângulo amoroso com Eugênia, que, mesmo
casada, nunca o esqueceu.
"No início, a Eugênia fica hesitante.
Trocar um marido rico e carinhoso por
um ex-presidiário duro? Mas, no capítulo 13, já está fazendo juras de amor para
o Solano. Mas é claro que não vai ser tão
fácil assim", conta Maitê Proença.
Ao redor dos protagonistas, para tentar trazer para a trama a arte e os agitos
que Negrão vê na vila, o autor criou personagens como a artista plástica Bibiana
(Yoná Magalhães), o saxofonista Hugo
(Thierry Figueira) e Menezes (Ary Fontoura), ex-dono de um cinema tradicional do bairro, o Fiametta. "Eles são uma
forma de ligar a trama do folhetim ao
bairro e a suas características mais interessantes", diz Negrão.
Colaborou Andréa de Lima, da Reportagem Local
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