São Paulo, domingo, 08 de julho de 2001

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PERFIL

SÉRGIO LOROZA

Ele não se enquadra nos padrões estéticos da TV. Não é bonito, é negro e tem 150 kg, redondamente distribuídos em 1,83 m de altura. Mas é o fato de parecer "comum" que contribui para o sucesso de Sérgio Loroza, o Jacaré da novela das sete da Globo, "Um Anjo Caiu do Céu". Na entrevista, Loroza, o Serjão, fala sobre seu papel e o espaço do ator negro na TV: "Não é hora mais de ser o pobre coitado. É o momento de conquistar".

CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

Como está sendo a repercussão do seu personagem, o Jacaré?
Há 15 anos faço teatro e música, mas quando você bota a cara na tela é um negócio muito sério. O Jacaré é um personagem popular. Ele não é uma figura fácil de se ver na TV, mas é uma pessoa comum. Talvez seja por isso que as pessoas se identificam com ele.
Você é negro, gordo e foge dos estereótipos de beleza da televisão. Como explica esse sucesso?
O Jacaré tem sido uma oportunidade de desmistificar essa onda de que o popular não dá ibope. Ele é uma comprovação de que essa lenda de que o negro não gosta de ver o negro na TV é mentira. Claro que todo mundo quer ver a Ana Paula Arósio. Mas também quer ver o Serjão. Essa diversidade é a possibilidade da sedução do diferente.
Por falar em sedução, o Jacaré é casado com a doméstica Expedita (Rosane Gofman) e um tanto mulherengo...
Pois é. Outra grande sorte que tive foi a de fazer par com a Rosane Gofman, que tem toda a malandragem da arte televisiva. Formamos um casal em preto e branco na novela exatamente como ocorre nas nossas vidas. Sou casado com uma branca e o marido da Rosane é negro.
Como você avalia o espaço para os atores negros na televisão?
Tende a melhorar. Mas sou partidário do Martinho da Vila, que fala que uma geração anterior já fez um belo papel denunciando. Agora, é o momento de conquistar. Não é hora mais de ser o pobre coitado, de ficar chorando por espaço. E só dá para conquistar se você faz bem. O Norton Nascimento, que está em "A Padroeira", há anos faz um trabalho do cacete, por isso tem conseguido espaço. Perceberam que a gente dá audiência, que também vende e é consumidor.
Como você foi chamado para "Um Anjo Caiu do Céu"?
O convite surgiu após o filme "Bossa Nova", do Bruno Barreto, em que eu fazia o personagem Gordo. O Antonio Calmon [autor da novela" foi à primeira exibição, me viu e disse que queria fazer um personagem para mim.
Você se surpreendeu com o papel?
Tenho curtido muito essa oportunidade. O Jacaré transita muito pela trama e pode aparecer em qualquer núcleo. Já fui aborígene, estilista, treinador de boxe, detetive particular. Isso me dá oportunidade de mostrar um trabalho de ator que, em função do meu biótipo, poderia ficar restrito àquela figura do negão. Correria o risco de aparecer somente quando alguém precisasse de um "armário".
Que outros trabalhos você fez na TV?
Na verdade, o Jacaré é o meu primeiro personagem em novela. Mas já tinha atuado nas minisséries "Chiquinha Gonzaga" e "Hilda Furacão". Também apareci em "Andando nas Nuvens", "Esplendor", "Uga Uga" e no "Você Decide", mas foram apenas participações.
Como você começou sua carreira?
Na música. Eu era baixista, mas só me chamavam para cantar. Com 13 anos, comecei a participar do coro da igreja, em Madureira, onde decidimos fundar um grupo de teatro. Quando vi que a coisa poderia ser mais séria, parti para outros grupos e fiz oficinas de teatro.
Como você chegou à TV?
Embora já fizesse peças de teatro, o link com a TV foi musical. Eu tinha uma banda que se chamava Sindicato Soul. O guitarrista era o Max Viana, que é filho de Djavan e conhecia o diretor Wolf Maya. O Max levou o Wolf para assistir a um dos nossos shows e ele, assombrosamente, se amarrou na minha e me chamou para fazer um espetáculo, o musical "Cabaret Brasil". Durante a temporada, o Wolf me chamou para "Hilda Furacão".
Que filmes você fez?
O primeiro foi "Orfeu", do Cacá Diegues. O convite surgiu em função de "Hilda Furacão". Por causa do "Orfeu", o Bruno Barreto me chamou para fazer o "Bossa Nova", que acabou gerando o convite do Calmon para o "Anjo Caiu do Céu". Na minha carreira, todas as coisas foram se encadeando. Também fiz "Zoando na TV" e "Xuxa Requebra".
Quais são seus próximos projetos?
Estou ensaiando a peça "Um Dia das Mães", uma comédia do Flávio Marinho, com a Eva Wilma. Na TV, talvez tenha que fazer um personagem que precisa emagrecer. Vai ser divertido.
Você ainda continua na música?
Nesse momento, sou vocalista do Monobloco, do Pedro Luís e a Parede.


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