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PERFIL
SÉRGIO LOROZA
Ele não se enquadra nos padrões estéticos da
TV. Não é bonito, é negro e tem 150 kg, redondamente distribuídos em 1,83 m de altura. Mas é o fato de parecer "comum" que
contribui para o sucesso de Sérgio Loroza, o
Jacaré da novela das sete da Globo, "Um
Anjo Caiu do Céu". Na entrevista, Loroza, o
Serjão, fala sobre seu papel e o espaço do
ator negro na TV: "Não é hora mais de ser o
pobre coitado. É o momento de conquistar".
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
Como está sendo a repercussão do seu
personagem, o Jacaré?
Há 15 anos faço teatro e música, mas
quando você bota a cara na tela é um negócio muito sério. O Jacaré é um personagem popular. Ele não é uma figura fácil de se ver na TV, mas é uma pessoa comum. Talvez seja por isso que as pessoas
se identificam com ele.
Você é negro, gordo e foge dos estereótipos de beleza da televisão. Como explica
esse sucesso?
O Jacaré tem sido uma oportunidade
de desmistificar essa onda de que o popular não dá ibope. Ele é uma comprovação de que essa lenda de que o negro não
gosta de ver o negro na TV é mentira.
Claro que todo mundo quer ver a Ana
Paula Arósio. Mas também quer ver o
Serjão. Essa diversidade é a possibilidade
da sedução do diferente.
Por falar em sedução, o Jacaré é casado
com a doméstica Expedita (Rosane Gofman) e um tanto mulherengo...
Pois é. Outra grande sorte que tive foi a
de fazer par com a Rosane Gofman, que
tem toda a malandragem da arte televisiva. Formamos um casal em preto e branco na novela exatamente como ocorre
nas nossas vidas. Sou casado com uma
branca e o marido da Rosane é negro.
Como você avalia o espaço para os atores negros na televisão?
Tende a melhorar. Mas sou partidário
do Martinho da Vila, que fala que uma
geração anterior já fez um belo papel denunciando. Agora, é o momento de conquistar. Não é hora mais de ser o pobre
coitado, de ficar chorando por espaço. E
só dá para conquistar se você faz bem. O
Norton Nascimento, que está em "A Padroeira", há anos faz um trabalho do cacete, por isso tem conseguido espaço.
Perceberam que a gente dá audiência,
que também vende e é consumidor.
Como você foi chamado para "Um Anjo
Caiu do Céu"?
O convite surgiu após o filme "Bossa
Nova", do Bruno Barreto, em que eu fazia o personagem Gordo. O Antonio Calmon [autor da novela" foi à primeira exibição, me viu e disse que queria fazer um
personagem para mim.
Você se surpreendeu com o papel?
Tenho curtido muito essa oportunidade. O Jacaré transita muito pela trama e
pode aparecer em qualquer núcleo. Já fui
aborígene, estilista, treinador de boxe,
detetive particular. Isso me dá oportunidade de mostrar um trabalho de ator
que, em função do meu biótipo, poderia
ficar restrito àquela figura do negão. Correria o risco de aparecer somente quando alguém precisasse de um "armário".
Que outros trabalhos você fez na TV?
Na verdade, o Jacaré é o meu primeiro
personagem em novela. Mas já tinha
atuado nas minisséries "Chiquinha Gonzaga" e "Hilda Furacão". Também apareci em "Andando nas Nuvens", "Esplendor", "Uga Uga" e no "Você Decide", mas foram apenas participações.
Como você começou sua carreira?
Na música. Eu era baixista, mas só me
chamavam para cantar. Com 13 anos, comecei a participar do coro da igreja, em
Madureira, onde decidimos fundar um
grupo de teatro. Quando vi que a coisa
poderia ser mais séria, parti para outros
grupos e fiz oficinas de teatro.
Como você chegou à TV?
Embora já fizesse peças de teatro, o link
com a TV foi musical. Eu tinha uma banda que se chamava Sindicato Soul. O guitarrista era o Max Viana, que é filho de
Djavan e conhecia o diretor Wolf Maya.
O Max levou o Wolf para assistir a um
dos nossos shows e ele, assombrosamente, se amarrou na minha e me chamou
para fazer um espetáculo, o musical "Cabaret Brasil". Durante a temporada, o
Wolf me chamou para "Hilda Furacão".
Que filmes você fez?
O primeiro foi "Orfeu", do Cacá Diegues. O convite surgiu em função de
"Hilda Furacão". Por causa do "Orfeu",
o Bruno Barreto me chamou para fazer o
"Bossa Nova", que acabou gerando o
convite do Calmon para o "Anjo Caiu do
Céu". Na minha carreira, todas as coisas
foram se encadeando. Também fiz
"Zoando na TV" e "Xuxa Requebra".
Quais são seus próximos projetos?
Estou ensaiando a peça "Um Dia das
Mães", uma comédia do Flávio Marinho,
com a Eva Wilma. Na TV, talvez tenha
que fazer um personagem que precisa
emagrecer. Vai ser divertido.
Você ainda continua na música?
Nesse momento, sou vocalista do Monobloco, do Pedro Luís e a Parede.
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