São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice A polêmica "Torre de Babel" chega a seu fim; a atriz Cláudia Raia conta como "sofreu" para viver a vilã Ângela Vidal, que tinha o dobro de texto das outras protagonistas que interpretou Flor do mal
RUI DANTAS da Reportagem Local Chega ao fim, nesta sexta-feira, "Torre de Babel", a novela mais polêmica dos últimos tempos. A trama, que começou rocambolescamente realista ao abordar tabus como o homossexualismo e as drogas, mudou sua estrutura, além do destino e do caráter dos personagens. Foi o que ocorreu com a perversa Ângela Vidal, a executiva interpretada por Cláudia Raia. No início, Ângela dissimulava uma paixão por Henrique (Édson Celulari) e, com o desenrolar da trama, tornou-se a megera da história. Cláudia afirma que sabia da reviravolta de seu personagem desde o princípio. "Sabia que ela era uma vilã horrível. Foi estratégia do Silvio começar devagar, pela sombra, aparecendo uma coisinha aqui e ali", afirma a atriz. Mas ela também admite que houve alterações na trama. "A TV Globo quis fazer umas modificações, e acho que foi tudo um pouco precipitado. O Silvio bravamente conseguiu mudar, dar a volta por cima, e a novela é um grande sucesso." Apontada como a principal suspeita de ter arquitetado a explosão do shopping Tropical Tower, Ângela Vidal, apesar da obviedade, não é descartada da lista dos culpados. Os autores mantêm em segredo o nome do criminoso. Tanto que as cenas que elucidam o mistério da novela serão gravadas poucas horas antes da exibição do último capítulo. Sofrimento Acostumada a viver papéis cômicos, Cláudia Raia revela que "sofreu" para fazer sua primeira vilã. A atriz conta que, devido à carga emocional de suas cenas, por várias vezes passou mal após as gravações. "A minha gastrite pulou. Na maioria das vezes, eu vomitava. Eu dizia que eu vomitava a Ângela, que é uma personagem muito emocional. Isso mexe demais", recorda-se. Sua opção, ao lado da direção da novela, foi fazer com que a executiva fosse cada vez mais interiorizada, limitando-se "ao olhar". "Tentamos fugir do estereótipo da vilã. A personagem tem ódio o tempo todo. Por mais que eu brinque, pois a minha profissão é gostosa porque é uma brincadeira, isso me exaure", explica Cláudia. A atriz reconhece que suas dificuldades se originaram, em parte, por não dominar o estilo dramático, já que nunca havia vivido uma vilã anteriormente. O único papel dramático que interpretou em TV foi o personagem-título da minissérie "Engraçadinha", exibida pela Globo em 95. "Tive que estudar muito para fazer esse papel. Quando começa uma novela, a gente brinca que, depois de dois ou três meses, o papel sai na urina. A Ângela não saiu facilmente para mim", compara. Outra mudança notada pela atriz foi a quantidade de falas e cenas, que, segundo ela, aumentaram muito. Cláudia Raia diz que Ângela foi o personagem que mais falou, desde que começou a fazer novelas. "Tenho texto que não acaba mais. São mais ou menos 80 páginas de texto por semana, o dobro de outras personagens que fiz", calcula. Sua atuação, no entanto, não foi unanimidade. Censurada por críticos, Cláudia afirma ignorá-los, preferindo a resposta que diz ter obtido junto ao público. "Se o público está com raiva da Ângela, isso é que verdadeiramente me interessa. O que me importa é o que eu ouço na rua, o que a Globo consegue por meio de pesquisas." O próximo papel não será uma vilã. Cláudia afirma que, em muitos casos, os atores ficam "marcados" pela repetição de papéis similares. Sobre as mudanças que a trama de "Torre de Babel" sofreu, Cláudia Raia afirma que Silvio de Abreu conseguiu reverter tudo em seu favor. Para a atriz, a novela cumpriu o seu papel, ao pôr em discussão alguns temas polêmicos. "Sem medo de ser inverossímil, a novela prestou um serviço maravilhoso. Ela voltou a ser o que era no começo -muito realista. O Silvio não perdeu seu propósito inicial, mesmo que tenha precisado passar por algumas modificações." Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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